Catarina Correia Marques |
Antes de chegar a Portugal, já lhe conhecíamos a fama de apaixonar milhares de leitores de todas as idades. Quando, finalmente, o tocamos e abrimos, não conseguimos deixar de pensar que entendemos o porquê. É um daqueles livros. Único. Singular. Para ler e reler. Muitas vezes. Para retornar vezes sem conta. Traz-nos à memória Winnie the Pooh. De certo modo, também O Principezinho. Mas a única certeza que nos deixa é que viverá em cima da nossa mesa de cabeceira por muito tempo.
Não é um típico álbum ilustrado, mas nasceu de uma ilustração partilhada entre o autor e os seus seguidores nas redes sociais, num momento em que perdera um amigo. Não é uma típica narrativa de acontecimentos, mas fala de amor, de amizade, de esperança, de bondade, de coragem.
Nas palavras do seu autor, o britânico Charlie Mackesy, é uma pequena novela gráfica, feita de ilustrações e diálogos, com uma paisagem em fundo". Para nós, leitores, é o retrato de um mundo onde todos queremos viver. É nele que se encontram um menino curioso que quer chegar a casa, uma toupeira gulosa, uma raposa silenciosa e um cavalo sábio. Quatro amigos improváveis? Não, aqui é um lugar onde o improvável não existe. Os laços fortalecem-se e os quatro encetam uma inesquecível viagem, deambulando pelos caminhos da vida. E contemplando a natureza selvagem, que é assim um pouco como a vida - assustadora, por vezes, mas bela. São todos diferentes, mas cada um pode bem ser uma parte de nós.
Há 5 anos, nascia a Casa dos Hipopómatos. Este fim de semana, queremos celebrar com vocês. Estaremos abertos sábado e domingo, das 10:00 às 19:00H. Com muitas surpresas, iguarias e preços de aniversário. Festejamos em segurança. O aquecedor de rua vai animar a festa ao ar livre. Distanciados, mas juntos, o bolo de aniversário espera por vocês às 17:00. Sábado e domingo. E nós esperamos pelo vosso carinho.
Ilustração de Catarina Correia Marques.
A nossa sugestão de hoje é um livro que ainda não chegou a Portugal, mas que muito gostaríamos de ver por cá! O selo aposto na capa não deixa margem para dúvidas: Contains nakedness - and that's ok.
A capa do livro, sem necessidade de qualquer imagem, vale por si. Quando o abrimos, sabemos de imediato que este é um lugar onde se celebra a nudez, a diferença, a beleza. Um desfile de maravilhosos desenhos de corpos. De todas as formas e tamanhos. De todas as cores e idades.
Com uma inesperada simplicidade, o livro surge como uma espécie de manual de corpos humanos onde parecemos estar todos retratados. Todos iguais, todos diferentes.
De diversas formas, Haine diz-nos que todos os corpos são bonitos, independentemente do seu aspecto. Que interessa a idade, o peso, a forma? Será sempre o teu corpo.
O envelhecimento é inevitável. Os sinais começam a aparecer. Algumas coisas mudam mais rapidamente do que outras. Mas há as que nunca mudam. Afinal, todos temos rabo e mamilos. A nudez nunca será feia.
Esta é uma deliciosa abordagem de uma temática tantas vezes ocultada às crianças. Este é o lugar certo para entrar de mãos dadas com elas, deixem as roupas e as ideias pré-concebidas à porta. Aqui, facilmente, nos encontramos. Elas identificarão amigos, pais, avós... numa celebração do respeito pelas diferença.
No seu álbum estreia, Haine deslumbra leitores de todas as idades. Os desenhos com que nos brinda são intensos, simples, belos, verdadeiros. Como é a própria nudez.
Sayid é um gato com 15 anos de idade, muitos quilos e várias manchas brancas, ainda que tenha nascido todo preto. A dona, a ilustradora Catarina Gomes, achou que a sua vida dava um livro e o bichano não parece ter-se feito rogado. Em jeito de biografia ilustrada, Sayid Manuel conta-nos a longa e recheada vida de bichano no seio da família que o escolheu. Uma história cheia de humor, onde as imagens predominam e em que, facilmente, reconhecemos o estilo da autora das Ideias Despenteadas. O livro encantará, certamente, todos os amantes de gatos, mas não só. Desde que habita por aqui que é bem manuseado pelas mãos dos mais pequenos que não resistem a pronunciar vezes sem conta o nome do felino.
O relato de vida remonta ao dia em que se conheceram e a dona formulou um sem número de perguntas e outras tantas dúvidas na loja dos animais. Sayid recorda a viagem até casa, a chegada e as dificuldades iniciais da adaptação.
Dois meses volvidos, já se tornara o rei da casa e dominava o território como as palmas das suas patas. O diospireiro para lanchar, o muro para se exibir, o matagal onde se podia esconder, os telhados onde cuscava o mundo... o novo habitat deixara de ter segredos. A vida corria bem ao gato também chamado de Pata Lenta, Pança Mansa, Lord Nelson e muitos outros nomes que a imaginação da dona lhe atribuía amiúde. Dono de certo peso, o lorde gostará de poucas coisas na vida como de comida. A prová-lo está a pergunta frequentemente feita aos donos : A gata está prenha? Mas, a vida (ou vidas) de Lord Nelson não se resume aos pitéus. Nem poderá dizer-se que tenha sido sempre um mar de peixes... As espinhas, ou melhor, os espinhos, também fazem parte. Para trás, fica o dia em que mudaram de casa. O dia em que, certamente, terá experimentado as mais sérias dificuldades em conhecer a mente dos humanos. Uma nova casa? Sem quintal? Sem diospireiro? Sem aventura? Sem a Bonita, a gata da D. Belmira? Os donos, sempre atentos e preocupados, bem tentaram compensá-lo com algumas mordomias e luxos, mas Sayid Manuel recusou sempre trocar a sua liberdade por essa vida aburguesada... O stress foi tanto (opinião avalizada do veterinário) que no seu pelo preto começaram a aparecer as manchas brancas que ainda hoje o tornam diferente. As mudanças não se ficariam por aqui, recordando bem o dia em que viu chegar a Tartaruga Faustino, com quem passou a partilhar o espaço e as atenções. Não se iludam, o pior ainda estava para chegar. Uns meses mais tarde e sem perceber muito bem porquê, começou a ver o espaço no colo da dona a diminuir... Algum tempo depois, deixou de ser o rei da casa. Não foi fácil. Engordou, fiou deprimido, isolou-se, chamou a atenção das várias maneiras que conseguiu... Hoje, já se habituou. Partilha a casa nova e o amor de todos os que nela vivem, exibindo a sua longevidade, a sua pança mansa e as suas manchas brancas que já lhe granjearam a alcunha de The Special One.O título caça a atenção e a curiosidade do leitor. Um olhar mais atento traz-nos à memória o universo de Quentin Blake. As semelhanças são incríveis, mas este é um livro ilustrado pelo israelita Avi Ofer que, para além de ilustrador, é também um premiado realizador de filmes de animação. Esta é uma deliciosa e divertida abordagem à temática sempre actual do uso (e abuso) que damos aos dispositivos móveis.
Telemóveis, iPads, televisão... A Vera já não aguentava tanta concorrência! As pessoas, à sua volta, viviam com os olhos colados àqueles ecrãs. Em casa, já não sabia o que fazer para chamar a atenção da família. Na rua, raramente conseguia um olhar da multidão com que se cruzava. E se os adultos não paravam, nem para observar as coisas maravilhosas que há no mundo, como poderia querer que olhassem para ela? Mas a garota não se conformava. Afinal de contas não era invisível.
Determinada e munida dos instrumentos necessários para caçar olhares, a Vera decidiu pedir ajuda à única pessoa que sabia ser capaz de a ajudar a encontrar uma solução, a avó. Com ela, tudo era diferente. Mesmo dizendo que já não via lá muito bem, tinha sempre olhares para ela. Podia já não ouvir como dantes, mas não deixava de escutar todas as suas histórias. A avó Guida nunca tinha pressa nem mil e uma coisas para fazer. Desabafadas as preocupações da neta, foi com grande naturalidade que as duas passaram a tarde juntas a arquitectar um plano para acabar com a situação que tanto angustiava a nossa protagonista.
Nunca a palavra saudade foi tão pronunciada como nestes tempos que vamos vivendo. Temos saudades da família e dos amigos. Do convívio. Dos abraços. Temos saudades de partilhar momentos, conversas, leituras...de tomar um copo, um café, de jantar. E que dizer dos mais pequenos? Vivenciando dias estranhos, sentem saudades de brincar sem restrições. Porque as crianças brincam agarrando-se e tocando-se.
A nossa sugestão de hoje é uma magnífica história de amizade. À primeira vista, uma amizade improvável entre dois miúdos que, aparentemente, teriam pouco em comum. Mas não são essas as mais duradouras?
Luís era um miúdo com uma particularidade. Não ria. Nunca! Os pais já o tinham levado a um sem número de médicos e o rapaz já tinha feito uma parafernália de exames e respondido a muitas perguntas. Todos eram unânimes. O Luís não tinha nenhuma doença. Não havia nada de errado com a parte de fora dele, nem com a parte de dentro. A verdade é que o Luís gostava de brincar, de saltar, de jogar à bola, de ler, de ver desenhos animados... Tudo como as crianças da sua idade. Apenas não se ria. Nunca.
O Natal sem a chegada de um novo livro de Oliver Jeffers nunca seria igual. Há cerca de dois anos, falávamos aqui do fantástico Aqui Estamos Nós, Apontamentos para Viver no Planeta Terra, um livro que o autor dedicava ao filho que acabara de nascer. Em jeito de continuidade, o livro que agora chega é dedicado à filha e constrói-se em torno da relação de ambos. Mas, com Jeffers, as coisas nunca são apenas o que parecem e, logo à chegada, somos confrontados com este pequeno texto: Só somos livres para sonhar e fazer planos (para o futuro) quando não temos de lutar para sobreviver (no presente). Para todos os pais e todas as filhas, nesta esfera, cujas hipóteses são menos promissoras do que as nossas, o nosso objetivo é nivelar o terreno. Com amor, Oliver e Mari
(Em memória do Óscar e da Valeria, que tentaram sem nunca ter conseguido).
O que vão, então, construir pai e filha? Em primeiro lugar, uma história repleta de amor e de afectos, com que brindam os leitores. E que acaba por se revelar um espécie de passaporte para tantas viagens que pais e filhos sonham fazer.
Com um texto rimado, a cada dupla página os nossos protagonistas surpreendem-nos com a diversidade de coisas fantásticas que constroem. Ou sonham construir. Uma porta, uma casa, um túnel para qualquer lugar ou essa fabulosa estrada para a lua!
Um sítio onde chegar sem hora marcada, um abrigo onde guardar o que trazem de viagens passadas e o amor já reservado. Pelo meio, também há perigos e inimigos. Fazem parte da vida. Nada que uma chávena de chá e uma boa dose de desculpas não consigam superar. Mas o que eles mais constroem são os laços e as cumplicidades que, certamente, os vão unir toda a vida.
5. Duas Casas, de Pedro Saraiva e Anabela Dias | Imaginário do Gigante.
A dureza dos dias que vivemos tem virado do avesso as nossas rotinas e as nossas horas. A muitas famílias tem, mesmo, trazido dificuldades acrescidas. Falamos daquelas que partilham os dias dos filhos alternadamente e que, agora, nem sempre conseguem a sintonia desejada para gerir a vida das crianças entre duas casas. A nossa sugestão de hoje transporta um olhar poético de uma criança que vai colocando questões sobre a distância e as vivências das casas onde habitamos. O livro deu origem a uma peça de teatro com o mesmo nome, com marionetas e sombras, levado à cena pelo Imaginar do Gigante. A separação de um casal é o mote para uma história que nos faz sorrir muitas vezes e pensar muitas mais. Dividida em capítulos, sendo o primeiro o das incomunicações, apresenta uma estrutura bilingue com a página da esquerda contando a história em português e a da direita em inglês. Afinal, as casas também falam mais do que uma língua. De forma inteligente e harmoniosa, as ilustrações distendem-se por ambas as páginas, contando a mesma história, mas sem nunca se repetirem integralmente.
E porque no mundo existem muitas casas, a busca nunca será fácil. Há casas que moram de dia e casas que moram de noite. Há as altas, as baixas e as assim-assim. As viradas para nascente e as viradas para poente, as bem arrumadas e as fora do sítio... Casas que moram sozinhas e casas que moram umas com as outras. Casas de graça e casas guardadas nos cofres dos bancos, casas com dono e donos sem casa... São muitos os tipos de casa que o leitor pode encontrar neste capítulo. O das casas constipadas e outras por constipar.
Capítulo novo: o princípio de todos os outros capítulos. É aqui que o leitor fica a saber que há um lugar onde as casas nascem com música lá dentro. Pelas características enunciadas pela menina que nos conta a história, percebemos que estas são as casas que todos gostaríamos de habitar. O que ela mais gosta nas casas são os dias grandes. Porque nas casas dos dias grandes, todos podemos ser quem quisermos. Um castelo, um monstro, ou mesmo um sapo que beija príncipes a toda a hora. As casas onde os adultos não dizem nada às crianças, quase nada...
Entre o capítulo dificuldade: contas difíceis e o capítulo prático: a correr, percebemos que há aviões que mudam as rotas. E que isso pode deixar as nuvens aborrecidas por muito tempo... Sem preconceitos nem concessões, muitas são as questões que a menina vai equacionando. O texto poético e com uma delicada dose de humor entrelaça-se na perfeição nas ilustrações de Dias. Com o seu jeito de menina sonhadora, a ilustradora consegue aqui um registo que transporta para a infância leitores de todas as idades. Um livro que se transforma ele próprio numa casa onde todos queremos morar por algum tempo.
Não deixem de entrar em todas estas casas. Visitem-nas, habitem-nas ou deixem que elas vos habitem. Afinal, como diz esta criança, "o mais importante numa casa é o seu coração". E ela tem dois: a casa da mamã e a casa do papá. Viajar com ela entre casas, ouvir-lhe os pensamentos, adivinhar-lhe os desejos e encantarmo-nos com a força com que aceita a vida, é, nos dias que correm, um delicioso e imenso prazer. Bem vos dizemos que um livro por dia...
Viajamos através do único meio capaz de nos levar a qualquer lado, o LIVRO.
Foi assim que, há 9 anos, iniciámos este blogue. É assim que hoje continuamos a querer dar-vos boleia. Festejamos com vocês, sorteando 3 livros, gentilmente oferecidos pela editora Kalandraka.
1. A Aranha Muito Ocupada, de Eric Carle
2. 29 Histórias Disparatadas, de Ursula Wolfel e Neus Bruguer
3. No Ovo, de Emma Lidia Squillari
Para se habilitarem basta que deixem aqui o vosso comentário (sobre o blogue ou sobre qualquer livro de que tenhamos falado este ano). O único requisito é que sejam seguidores.
A estranheza dos dias que correm não se deve apenas à pandemia. O mundo parece atacado de alguns "vírus" de índole diferente, assentes no ódio, na mentira, na maldade... Cada vez é mais urgente transmitir às nossas crianças os valores que alicerçam um mundo livre, justo e igualitário. Consolidá-los juntos. Quando um livro nos ajuda a fazê-lo, de forma simples e aberta, só podemos aplaudir. É o que acontece com o livro que escolhemos hoje, da autoria de Joana Estrela e editado pelo Planeta Tangerina, um lugar onde um livro nunca é só um livro. Começando por introduzir a questão da identidade, à medida que lhe vamos virando as páginas ele transforma-se numa celebração da diversidade, da liberdade, do respeito por cada um e por todos.
As perguntas são lançadas. Algumas, já as ouvimos até à exaustão. Menino ou menina? Azul ou rosa? Calção ou vestido? Mas depois vêm as outras, as que nos fazem pensar. Precisas de saber se é rapariga ou rapaz? E se não é nem uma coisa nem outra?
Menino ou menina, rapariga ou rapaz, homem ou mulher? As perguntas pedem reflexão. Poderá aquilo que somos ser assim tão redutor? Não seremos todos a soma de muito mais do que isso? A autora acompanha-nos. A espaços, vai deixando a sua opinião. Num registo puro e genuíno, com que os seus leitores rapidamente se identificam.