terça-feira, 25 de maio de 2021

Abril, o Peixe Vermelho

 






















Abril é vermelho. Muito vermelho. Poderíamos estar a falar da nossa Revolução, mas falamos de um peixe. Não um peixe qualquer porque, à sua maneira, Abril é um revolucionário. Menos não se esperaria já que o livro recentemente editado pela Orfeu Negro, traz a assinatura de Marjolaine Leray, a irreverente autora de Um Capuchinho Vermelho




















Abril teve uma adolescência difícil. Filho de pais aquólicos, cedo se sentiu sozinho no mundo. A vida nem sempre foi fácil. Mas como o que não mata fortalece, Abril tornou-se um peixe que gosta de refletir sobre questões espinhosas. Determinado e sonhador, sabe bem o que quer. E o que não quer. 




Sentir-se como peixe num aquário não é para ele. Abril sonha fugir. No dia em que conseguir dar o pulo do aquário para o mundo, todos os sonhos estão ao seu alcance. Quer viajar, conhecer outros peixes (quem pode levar a mal?) ser pirata, domador de feras, punk...


O nosso revolucionário quer alargar horizontes, viver aventuras, deixar para trás aquela monotonia. Mas lá diz o ditado que a vida é cheia de surpresas, E, mesmo a de Abril não foge à regra. Ainda que se sinta sozinho no mundo, o peixe muito vermelho tem companhia. É caso para dizer que onde há peixe há gato. Com o inimigo à espreita, o peixe traça um plano que tem tudo para dar certo. Afinal não nos podemos esquecer que é um expert em questões espinhosas...











O estilo de Leray é facilmente reconhecível. Minimalista, tanto na imagem como no texto, a autora tem aqui mais uma história divertida e cheia de humor, capaz de fazer gargalhar leitores de todas as idades. Como acabará este jogo de peixe e gato? Espreitem! Será que a curiosidade mata o gato? 

quarta-feira, 19 de maio de 2021

O Jardim























A premiada autora australiana Anna Walker chega a Portugal pela mão da editora Fábula.  O Jardim assinala a estreia, entre nós, da autora de êxitos como Peggy ou Mr.Huff. Conhecida pelo  seu gosto pela aguarela, Walker conquista leitores de todas as idades com as suas ilustrações. Neste livro, brinda-nos com o magnífico contraste entre o verde vibrante do jardim, que começa logo nas guardas, e a suavidade, ou mesmo palidez, das ilustrações atravessadas pela nostalgia e saudade vividas pela protagonista.















Mudar de casa e de rotinas, deixar para trás amigos, adaptar-se ao que chega de novo... Nem sempre é fácil para os mais novos. O que nos relembra a história recente de um menino de cinco anos que em abril se mudou com a família do campo para a cidade. Numa altura em que nos visitou, disse-nos que este ano não havia "25 de abril " porque a mãe já não tinha tido tempo para plantar a revolução. Tudo porque na nova casa não havia jardim, nem tão pouco os inúmeros cravos vermelhos que sempre tinham existido na antiga. 






Quando Ema, a menina da história, se muda com a família para a cidade, tudo o que ela mais quer levar consigo é, precisamente, o seu jardim. Ainda que a mãe lhe dissesse que podia sempre plantar um novo jardim, a menina não via onde poderia fazê-lo. No meio de todos aqueles prédios, não havia caminhos labirínticos ou esconderijos feitos de folhas, nem macieiras que servissem de casa ao chilreio dos passarinhos. Era um lugar onde não havia nada para apanhar para o seu frasco dos tesouros. E onde não estavam os amigos.























Sem que alguma vez tenha visto o jardim de Ema, o leitor facilmente o imagina. Povoado de macieiras, de narcisos, de margaridas... Ouvimos o chilrear dos pássaros, vemos as borboletas, seguimos as joaninhas e os dentes-de-leão... Através dos deliciosos desenhos com que Ema enche as  caixas de cartão que serviram de apoio à mudança, dos piqueniques que organiza em casa e dos desenhos com que deixa colorido o empedrado à sua porta, Walker transmite-nos as saudades sentidas por Ema. Da anterior casa, do seu jardim, do contacto permanente com a natureza, das suas brincadeiras, dos seus amigos. E, em simultâneo, vai consolidando o nosso conhecimento sobre a menina que escolheu para protagonista.




Mas as caixas vão desaparecendo e os desenhos da rua são levados pela chuva. A alegria parece continuar afastada de Ema até ao dia em que escuta algo que lhe é familiar: o bater das asas de um passarinho do campo. A corrida que enceta atrás dele leva-a até um lugar encantado que ela já não acreditava que existisse na cidade. Estava fechado, mas a longa espera a que se determinou fez com que reparasse nalguns pequenos detalhes. Daqueles que, por vezes, nos escapam. Foi assim que encontrou o pequeno rebento verde que daria início ao seu novo jardim. Um jardim bem florido com plantas e amigos. Visitem-no! 

quinta-feira, 13 de maio de 2021

Na Fila para a Arca

 


Na Fila para a Arca, o mais recente livro da Kalandraka, traz a assinatura da dupla grega vencedora do IX Prémio Internacional Compostela para Álbuns Ilustrados. Antonis Papatheodoulou e Iris Samartzi são os autores de Uma Última Carta, uma emotiva e tocante homenagem à figura do carteiro, de que falámos aqui.

































Desta feita, os autores trazem-nos uma história divertida, povoada de animais e de muito humor.   Tudo começa com um casal de ratinhos enamorados, os últimos a chegar a uma fila que conta já com uns bons metros.  Há quem chegue a duvidar se está na fila certa, mas as conversas de todos os que ali aguardam dizem-nos que estamos na fila para a Arca de Noé. 


A cada dupla página um novo par de animais vai falando sobre a história da Arca, da sua construção, do dilúvio, de Noé... À medida que os vão ouvindo,  os ratinhos parecem ir ficando cada vez mais incrédulos, manifestando as reacções mais diversas ao longo do livro. Elefantes, macacos, tartarugas, pelicanos, hipopótamos... todos se revelam profundos conhecedores e têm algo para contar. Mesmo quando há quem não queira ouvir. Há sempre que prefira não saber a história toda...


Depois de tanto ouvir falar em dilúvio, é compreensível que a angústia dos pequenos ratos aumente quando caem as primeiras gotas de chuva... Uma história bem divertida, que vive da duplicidade entre a história da Arca de Noé e o verdadeiro contexto que origina esta fila. Um final hilariante revela-nos que tudo não passou de um equívoco. E encantará, seguramente, os pequenos leitores, que vão querer permanecer na fila e conviver muitas vezes com os animais desta parada. 

Samartzi, que já nos tinha encantado com o anterior livro, volta a utilizar a técnica da colagem conseguindo um trabalho extraordinário. A parafernália de cartões, papéis e botões, a apelativa paleta de cores, o próprio formato e o magnífico desdobrável que surge no fim, cativarão todos os pequenos leitores para este "livro-espectáculo". Vamos ao teatro?

sexta-feira, 7 de maio de 2021

O Jaime no Casamento


 





















Depois do êxito de O Jaime é Uma Sereia, Jessica Love volta a encantar os leitores, trazendo de novo para a ribalta o já conhecido protagonista. Pela mão da editora Fábula, chegou recentemente a Portugal O Jaime no Casamento.


O título não deixa dúvidas. O Jaime vai a um casamento. Com a avó, claro. A história começa logo nas guardas quando os vemos trajados a rigor para o evento. Pelo caminho, a avó encontra uma velha amiga acompanhada da sua neta, a pequena e encantadora Marisol. As apresentações são feitas ao leitor enquanto se dão os últimos retoques para a chegada ao casamento. Jaime coloca uma flor na lapela, Marisol troca o seu boné por uma coroa de flores.


Esta é uma narrativa predominantemente visual, pintada com cores tão delicadas quanto vibrantes que fazem o leitor ter uma imensa vontade de ser convidado para a festa. As apresentações continuam na página seguinte, onde ficamos a conhecer as noivas e a sua cadelinha, a Glória. Apresentações feitas, pode começar a festa! Porque é disso que se trata. Como diz Love, o casamento é uma festa de amorE esta está maravilhosamente organizada. Ao ar livre, com a Estátua da Liberdade em fundo, tudo aparenta uma extrema simplicidade e beleza. 


Fazendo jus à sua condição de crianças, Jaime e Marisol soltam-se nas brincadeiras escolhendo como cenário um salgueiro-chorão a que Jaime chama de "casa de fadas". Glória já se tornou inseparável e é graças a ela que o lindo vestido de Marisol acaba num lamentável estado de sujidade. O que poderia constituir uma grande complicação, acabou sendo resolvido por Jaime com uma grande e hilariante dose de criatividade. Ainda assim, Marisol teme pela reacção da avó. O que não sucede com os leitores, talvez por  já conhecerem as mulheres maravilhosas que são as avós criadas por Love. Quando os netos ganham asas para voar, tudo acaba bem...



















Uma história que é uma ode ao amor, à liberdade, à individualidade e à diversidade. Narrada com a mestria e a subtileza a que Love já nos habituou, são as imagens que revelam ao leitor os pequenos grandes detalhes da narrativa. O boné de Marisol, a coroa de flores que acaba na cabeça de Jaime,  os olhares e as expressões sábias das avós perante as traquinices das crianças, a liberdade que lhes é concedida. 



E, por falar em liberdade, continuamos a pensar o quanto gostaríamos de nos descalçar como estas avós e dançar com elas até de madrugada. Mesmo que o Jaime, a Marisol e a Glória já durmam nas guardas do livro.


terça-feira, 4 de maio de 2021

Coragem, Pequeno Caranguejo

 















Chris Haughton está de volta com mais um livro para deleitar os pequenos leitores e encantar todos os outros à sua volta. Desta vez, o estrelato incide sobre um pequeno caranguejo que vive numa poça minúscula e que se prepara para a sua primeira incursão no mar. Sabemos que estas coisas de primeiras visitas são sempre rodeadas de grande entusiasmo e agitação. O Pequeno Caranguejo não foge à regra e sai da sua poça absolutamente convicto de que a ida ao mar vai ser espectacular.













Entre vários tica-tica nas rochas, chape chape nas poçaschlop chlop nas algas, o caminho faz-se com alegria e muita confiança. Mas a chegada ao destino reserva algo de inesperado para o Pequeno Caranguejo, a imensidão do mar. As ondas são de um tamanho de fazer inveja a qualquer surfista e de abalar a confiança de qualquer pequeno caranguejo. Daí até a pôr em causa o seu gosto pelo mar e expressar o desejo de voltar para casa vai pouco mais de um salpico.


















Mas o Grande Caranguejo não o deixa fraquejar. Incentiva-o a ser corajoso, ousado e... SPLAAASH! O Pequeno Caranguejo já lá está e nem se lembra mais do medo que que sentiu. Os amigos, as corridas no fundo do mar,  o jogo das escondias, as algas deliciosas que come... são magníficas compensações da coragem e determinação de que foi capaz.




















Difícil vai ser tirá-lo de lá e convencê-lo a voltar a casa. Nada que não seja habitual com a pequenada. É por isso que vos dizemos que já somos fãs deste Pequeno Caranguejo!