sexta-feira, 7 de junho de 2024

Quando é que a Hadda volta?

 






















Quando é que a Hadda volta? | Anne Herbauts | Orfeu Negro


Criadora de um universo delicado, belo e poético, Anne Herbauts é uma das nossas autoras de eleição. Somos admiradores confessos do seu trabalho desde o primeiro álbum, Que fait la lune, la nuit? e não hesitamos em afirmar o nosso fascínio pelo seu universo inigualável. A chegada de um dos seus livros, pela mão da Orfeu Negro, faz-nos acalentar o desejo de que muitos outros possam suceder-se.  


Detentora de um léxico gráfico inconfundível, Herbauts pega nas pequenas coisas da vida e eleva-as a uma dimensão profunda e filosófica. É nessa grandeza das coisas pequenas, que se revelam verdadeiramente importantes, que envolve os leitores, oferecendo-lhes um jogo sublime de emoções e arrebatamento. Os seus livros estão repletos de "portas semiabertas", cabendo-nos a decisão de as abrir ou fechar. São caminhos por desbravar, questões que se suscitam, interrogações que perduram e lugares impensáveis de visitar.
























Com livros para públicos de todas as idades, esta fazedora de objectos de arte nunca deixa de nos surpreender, deslumbrando-nos com as técnicas e materiais, desenhos, cores, texturas, colagens, recortes, sobreposições... Ainda assim, por vezes, há todo um minimalismo que atravessa a sua obra, com grande sobriedade, elegância e rigor. Como se o universo "herbautsiano" fosse um lugar diferente e único de onde, nalguns dias, não nos apetece sair. Formada em artes, a autora belga diz-se, também, amante das palavras. Não hesita em situar-se num espaço existente entre ambas, reconhecendo-lhes igual importância. A harmonia dos seus livros demonstra-o bem.

























Herbauts reconhece que o tempo é a sua matéria-prima preferida. Aqui não foge à regra e é ele o ponto de partida para este tocante e poderoso livro. Uma história que fala de ausência, mas também de recordação. Sem a presença de qualquer ser humano, o livro leva-nos pela intimidade da casa de alguém. Visitamos os recantos de uma vida, observamos os objectos, ouvimos o silêncio, sentimos o vazio. A dedicatória aposta no inicio já o indiciava, mas a autora não nos permite, em momento algum, a mínima dúvida sobre o facto de esta ser a casa de uma avó, sobre a sua ternura e amor incondicional pelo neto.





Quando é que a Hadda volta?


A insistente e única pergunta formulada ao longo de todo o livro é reveladora da dolorosa saudade e da inconformação sentidas pela criança. As respostas vão-se materializando nos pertences, nos cantos aconchegantes de uma vida que findou, mas que perdurará no coração daquela criança. Os óculos, as roupas, os naperons de renda, o jornal, a carteira, as inúmeras fotografias, as plantas, os sofás, o rádio, os apontamentos das partilhas vivenciadas e das brincadeiras a dois... As recordações que conferem a certeza de que esta ausência é tão somente física. 








































Pequenas frases poéticas vão tentando chegar ao coração da criança, no intuito de lhe dar a força de que necessita para ultrapassar a perda. Chegam em jeito de fogachos de uma "presença" efémera de quem já iniciou a derradeira viagem. Afinal, são os objectos e pertences, são aqueles lugares vividos pelos dois que lhe transmitem o muito que ela lhe deixou e o quanto dela continuará a viver nele. Hadda estará sempre por perto, o pequeno só tem de o descobrir.
Este é um álbum para todas as idades. Tocante, emocionante, belo e único. Só ao alcance de alguns. Mais uma vez, de Anne Herbauts.

quinta-feira, 9 de maio de 2024

Debaixo Da Mesma Lua

 






















Debaixo da mesma Lua | Jimmy Liao | Kalandraka

Há onze anos escrevíamos aqui sobre o fantástico mundo de Jimmy Liao. Na altura, referíamos que o autor é "mestre em pintar sentimentos ou estados de alma. A solidão, a melancolia ou a esperança chegam até nós, leitores, através de um simples jogo de cores ou de uma carruagem vazia. O sentido ou dessentido da vida é o fio condutor que nos prende sofregamente a cada livro que descobrimos".

























Neste caso, é em tons azuis e amarelos que Liao presenteia os leitores com mais um livro impregnado de beleza e de poesia. Ainda que a temática seja a guerra, a subtileza e a inteligência com que o autor construiu esta história fascinam leitores de todas as idades. Reafirmamos o que sempre dissemos a propósito dos seus livros: são um misto de arte e de poesia sem destinatário específico. 








































Num cenário quase imutável, um pequeno rapaz contempla a rua através da janela de sua casa. Sabemos que está à espera, mas não sabemos de quem. Pela postura corporal intuímos-lhe a nostalgia, a ansiedade e até uma certa solidão que sempre acompanham o acto de esperar. 
A espera aparenta não ser em vão. A cada virar de página vemos chegar alguns visitantes. Um leão, um elefante, uma grua. Como que em modo premonitório, todos chegam feridos e a casa parece ser uma espécie de abrigo seguro onde procuram ajuda. O pequeno Han não se faz rogado, tratando-lhes as feridas com todo o cuidado possível e de forma afectuosa. Mas, no dia seguinte, volta ao seu posto de vigia como que revelando ao leitor que cada visitante não passa de um acaso. Não era deles que estava à espera.


Neste lugar só a lua que nos revela a passagem do tempo e nos confere uma noção da persistência do pequeno protagonista. Nem o seu gato consegue ombrear com tamanha resistência. Sabemos que não está sozinho em casa. Sempre que recebe um visitante, o pequeno grita para avisar a mãe. Mas o leitor só a conhecerá no final da história. 
























Nunca saberemos quanto tempo passou. Mas a espera é sempre movida a esperança e o surpreendente final que Liao imaginou é revelador disso mesmo. Uma delicada, subtil e fascinante história sobre os infortúnios de uma guerra e de como eles nos podem atingir a todos. A lua é a mesma, mas a cor do céu não é igual para todos. 


sexta-feira, 19 de abril de 2024

O Ponto Em Que Estamos

 













O Ponto Em Que Estamos | Isabel Minhós Martins e Bernardo P. Carvalho | Planeta Tangerina


A dupla é de peso e o livro também. Aqui é tudo grande. Desde as coisas existentes na natureza às atrocidades cometidas pelos homens. A realidade é dura e o desafio que enfrentamos consiste em saber a velocidade e a proporção com que uns se irão sobrepor aos outros. Há por aqui um grito de alerta. De um planeta (Tangerina) para outro. Para gente de todas as idades. 



Montanhas de saldos, oceanos de promoções, florestas de preços baixos...

Podíamos estar de passagem por um qualquer centro comercial, numa rua amontoada de lojas, numa de muitas superfícies atulhadas de inutilidades... mas estamos nas nossas vivências diárias, na rotina dos nossos dias e conseguimos ver tudo isto quando prestamos atenção. Falar de alterações climáticas já não é só urgente. É preciso actuar, mudar hábitos, renovar mentalidades, sensibilizar os mais novos. E os mais velhos. Este livro é um ponto de encontro obrigatório para todas as gerações. 


Carros mais pesados que hipopómatos, perdão,  que hipopótamos. Telemóveis de novíssima geração, enxames de carregadores avariados, baleias com desconto em cartão, vulcões de sapatos por estrear...

No making of do livro, que podem ler no site da editora, Isabel Minhós Martins conta-nos que a ideia deste livro a acompanhou durante algum tempo.  Queria fazer a comparação entre o tempo da natureza e o tempo das coisas humanas, aquelas que consumimos e se esfumam num instante. No dia em que viu um anúncio de uma conhecida marca de móveis que dizia apenas “Montanhas de saldos”, soube que o livro era para avançar.




A opção pelas coisas grandes existentes na natureza é tão genial quanto os incríveis jogos de palavras que lhe permite obter. O resultado é a gigantesca clareza com que se evidenciam os grandes males de que padece o nosso planeta.  O desperdício ou o consumo desenfreado, por exemplo, são detectados, de imediato, neste pequeno grande livro onde  há arquipélagos de roupa fora de moda, cardumes de bifes, iogurtes, abacates, cascatas de comida abandonada, rebanhos (e mais rebanhos) de embalagens, cordilheiras de copos descartáveis... 






































"O caos do nosso planeta neste livro até consegue ser bonito. As páginas parecem quadros do Miró". 
Foi assim que um dos nossos meninos leitores se referiu às ilustrações de Bernardo P. Carvalho que, misturando desenho e colagem, nos conduz por este universo de entregas super-rápidas de forma empolgante e algo naïf.  A cada página, os múltiplos detalhes vão revelando sinais de uma tragédia anunciada com que todos estamos familiarizados. Objetos abandonados e deixados ao acaso, lixo e iates que parecem nascer no mar, o negro do betão e os automóveis que aparentam multiplicar-se mais do que formigas, jatos e helicópteros que ocupam o lugar das estrelas no céu.





































Na contracapa do livro, em jeito de antecipação, podemos ler: 
"Este talvez seja um livro triste - e as pessoas, sobretudo quando se trata de livros que também são para crianças, quase sempre preferem livros felizes, esperançosos". 
Os autores concordam, a esperança é a coisa mais importante do mundo. Mas não deixam de concluir que "este só é um livre triste se continuar tudo na mesma. Se ninguém pestanejar, se ninguém se incomodar, se ninguém decidir mudar.





































Porque a mudança é mais do que necessária e urgente, façam o favor de se incomodar! Façam-no com as crianças. Este é um livro que não se esquece, que se mantém aberto. Porque os arquipélagos de roupa fora de moda, os vulcões de sapatos ou as constelações de betão não nos saem da cabeça. Pode ser triste, pode ser duro, mas a verdade é que este é o ponto em que estamos.


quinta-feira, 21 de março de 2024

Casa de Família


 













Casa de Família | Sophie Blackall | Fábula


Blackall é uma daquelas autoras que seguimos incondicionalmente. Com mais de cinquenta livros editados, premiada por várias vezes, incluindo a Caldecott Medal com o seu Olá Farol!,  continua a deslumbrar-nos a cada novo livro.
















Depois de aqui termos falado do nosso fascínio por livros sobre casas a propósito de Casa, de Carson Ellis, a chegada desta Casa de Família não podia ser mais oportuna. Inspirada  numa quinta em ruínas do séc.XIX, localizada no estado de Nova Iorque,  a autora decidiu reconstruir no papel o que o tempo tinha destruído, celebrando assim a vida e as rotinas diárias da família com 12 crianças que ali viveu. Para além dos seus habituais materiais, tinta da China, aguarela, guache e lápis de cor, Blackall utilizou ainda toda a espécie de objectos encontrados nas ruínas da casa: papel de parede, cadernos, jornais, sacos de papel pardo, roupas, lenços, cortinas e cordéis. O resultado é um livro magnífico onde, nós leitores, queremos morar vezes sem conta. 















A imensidão do campo e o estilo rústico dão as boas-vindas ao leitor, mas é a família numerosa que nos recebe a posar para o retrato de família que prende o nosso olhar. As crianças, que são muitas, enchem a casa toda e despertam a nossa curiosidade. Queremos conhecer a vida desta família numerosa e Blackal conduz-nos com mestria. As brincadeiras, as travessuras, os risos e os choros, as leituras, os sonhos... vão sendo revelados ao leitor através de pequenos blocos de texto em painéis amarelecidos e das deliciosas ilustrações que se espraiam a cada página, evidenciando múltiplos detalhes do dia a dia. Ilustrações feitas de camadas, como nos conta a própria autora. Umas mais visíveis do que outras, como acontece com as histórias à medida que são contadas e recontadas ao longo dos anos.















É nessas magníficas camadas de cores quentes que imaginamos as vidas de quem aqui morou. Que encontramos as marcas do crescimento das crianças, medidas ano após ano e visíveis numa ombreira. Os quartos, em estilo camarata, que nos revelam a coabitação de idades diferentes. As rotinas das horas das refeições e o espírito de entreajuda, os afazeres de uma casa no campo, os segredos próprios da adolescência... O crescimento e as diversas etapas de que se compõe vão preparando o leitor para um final já esperado. À medida que a idade avança, as escolhas e o caminho de cada um vão levá-los para fora da casa. O tempo irá esvaziá-la, mas as marcas do amor e das vivências que a atravessaram enquanto vivida pela grande família eternizam-se nas ruínas e na história agora contada por Blackall.


 


Ao leitor é permitido conhecer as escolhas que cada um fez. As profissões, a diversidade e a riqueza dos caminhos de todos e de cada um. Assistimos ao momento em que a filha mais nova, já velhinha, deixa a casa. Acompanhamos a saída, detectamos os laços que continuam a unir os irmãos e observamos a porta entreaberta para um sem número de memórias.




E quando pensamos que o tempo da casa está a chegar ao fim, eis que Blackall nos volta a surpreender, tornando-se ela própria parte da história. Ilustrando a sua chegada e dirigindo-se diretamente aos leitores, conta-nos a descoberta da casa e dos pedaços de passado que ali encontrou. Na nota de autora que encontramos no final do livro, surge a revelação de que adquiriu para si esta quinta em ruínas. 




Confessando o seu fascínio por coisas velhas, gastas e remendadas que mostram vestígios de mãos, corações e mentes há muito desaparecidas, coisas que contam histórias, fala-nos da sua pesquisa sobre a família, das conversas mantidas com gentes da zona, com familiares. Mostra-nos fotografias dos vestígios de uma vida repleta de acontecimentos e emoções, como os 21 vestidos feitos à mão que ainda encontrou ou o velho orgão.



Na nota podemos ler: Histórias sobre tudo e quase nada, que permanecem vivas muito depois de as crianças crescerem e as casas ruírem, enquanto as flores do campo balançam as pétalas ao sol.

 









Histórias, acrescentamos nós, que perduram neste precioso e incrível livro. Feito de retalhos e de afectos, de memórias reais e imaginadas por quem quer perpetuar vivências e um tempo passado num lugar que agora é seu. Uma casa onde, independentemente da idade, todos vamos querer passar muito tempo.

quinta-feira, 7 de março de 2024

Casa
























Casa | Carson Ellis | Orfeu Negro


Já aqui escrevemos várias vezes sobre o nosso fascínio por casas. Gostamos de as observar, de as fotografar, de imaginar como são por dentro. Como se fosse um jogo, buscamos pormenores que nos revelem os segredos de quem as habita. Tentamos adivinhar-lhes a intimidade, os mistérios que podem esconder, as infinitas histórias ainda por contar. Quando viajamos, trazemos na bagagem centenas de fotografias de casas. Depois, imaginamos como seria viver nesta ou naquela... A paixão estende-se, claro, aos livros sobre casas.









































O livro de Carson não é excepção. Neste, que foi o seu livro estreia como autora de texto e de ilustração, presenteia os leitores com  uma espécie de viagem por casas do mundo. No conforto da nossa própria casa, somos convidados a visitar casas no campo, na cidade, palácios, cavernas, casas de animais e até, uma agitada  casa-sapato! São casas reais e casas imaginadas.








































Página a página, vamos identificando alguns dos lugares do mundo onde se situam. Alguns por menção expressa do texto, outros pela existência de múltiplos elementos que nos permitem identificá-los. O grande formato do livro indicia que a viagem será grande. Há muito para ver. Há casas na terra, no mar, na árvore, na lua e até casas que andam às costas... 
Todas são a casa de alguém. O conceito de lar, de aconchego, é-nos mostrado antes mesmo da narrativa começar, através da metáfora visual do ninho do pássaro.







































Há casas altas e baixas. Há as arrumadas e as desalinhadas. As óbvias e as enigmáticas, que levam o leitor a interrogar-se sobre quem poderá ali viver. A esta altura, já entrámos em casas de deuses, de duquesas, de ferreiros, de guaxinins... 







































Esta é uma narrativa predominantemente visual, rica em detalhes que, cedo,  nos levam a pensar que habitaremos várias vezes este livro. Demoramo-nos em cada casa.  Há personagens e detalhes espalhados por todo o lado a exigir um olhar atento, uma e outra leitura.
As magníficas ilustrações, que nos deslumbram na sua paleta de tons sépia, vermelho-tijolo e cinzas azulados, são acompanhadas por pequenos apontamentos de texto em jeito de  legendas. 







































A pergunta impõe-se e a autora não deixa de a fazer quando questiona diretamente o leitor sobre a sua casa. Com um final delicioso, para deleite do leitor, Carson leva-nos proporciona-nos uma visita guiada ao seu estúdio e descobrimos que a sua casa foi também a primeira em que entrámos.








































Costumamos afirmar que um livro é uma casa. Um lugar onde sempre queremos viver. Este é uma grande e elegante casa. Que habitamos uma e outra vez. Sintam-se convidados.


quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Esta História
























Esta História | David Machado e João Fazenda | Caminho


Quem não conhece aquela sensação de tentar contar uma história, sendo sistematicamente interrompido? Contadores de histórias, pais, professores... todos já vivenciámos esses momentos em que a criança manifesta o seu total  desinteresse pela história que escolhemos para ela.
Não é coisa rara aqui, na livraria, ouvir os adultos relatarem a sua frustração por terem comprado um livro de que gostam muito, mas ao qual  a criança não deu qualquer importância. 
- O livro é magnífico, adoro este autor, a história é fantástica... mas o meu filho não lhe prestou a mínima atenção. 







































É para um desses cenários que esta divertida e hilariante história nos transporta. O diálogo entre o adulto e a criança atravessa todo o livro. O primeiro vai tecendo considerações sobre a história, os seus atributos e a forma como ela poderá interagir e até moldar o imaginário da criança. Na página seguinte, indiferente às considerações tecidas, a criança vai questionando se a história contém alguns dos "ingredientes" que são do seu interesse. A intensidade do diálogo vai crescendo a cada virar de página. O adulto não poupa nos argumentos para convencer a criança. Maravilhosa, inspiradora, repleta de beleza e de harmonia, são apenas algumas das qualidades enumeradas para a sua escolha. Alheio à argumentação, a criança não desarma. Por oposição, vai questionando, em crescendo, sobre "temáticas" que verdadeiramente lhe interessam. Cocó, ranho, vomitado, chulé, arrotos, ideias escanifobéticas, facas, pistolas, crianças mentirosas, vacas vesgas...







































Serão, provavelmente, muitos os adultos que não hesitarão em rotular as questões levantadas pela criança como disparatadas e impensáveis numa ""boa" história. Mas este é um tema recorrente. Nem sempre as histórias preferidas das crianças são aquelas de que o adulto faz apanágio. O que só por si é mais do que razão suficiente para nos questionarmos sobre o que lhes damos a ler e os critérios das nossas escolhas.
Neste livro, a resposta do adulto é , obviamente, sempre negativa. Mas o resultado não deixa de ser uma história hilariante, capaz de arrancar sonoras gargalhadas a leitores de todas as idades. Ou não fosse ela assinada por uma dupla de peso.








































Com mestria, as ilustrações de Fazenda evidenciam as duas posições em confronto. A escolha de um fundo branco e desenhos minimalistas para as páginas em que o adulto enaltece a qualidades da história não é inocente. A sobriedade ostentada parece acompanhar a ideia do adulto de que esta história pode ser o caminho certo para a vida se tornar mais simples, bela e harmoniosa. Por contraposição, as páginas em que a criança vai criando o seu universo de eleição enchem-se de cores fortes, de personagens, algumas das quais personificam o próprio disparate, de acção, de movimento. 





 


































Esta história é um livro divertido e hilariante. Mas não só. Entre risos de miúdos e graúdos, dá que pensar. Afinal, uma história para os mais pequenos não é isso mesmo? Uma boa dose de gargalhadas, polvilhadas com grande sentido de humor e uns belos disparates que elas tanto apreciam? Abram o livro e reflictam enquanto comem bolachas.