8. Síul. Epilif e o Grande Zigomático | Nuno Artur Silva e Pierre Pratt | Bertrand EditoraNunca a palavra saudade foi tão pronunciada como nestes tempos que vamos vivendo. Temos saudades da família e dos amigos. Do convívio. Dos abraços. Temos saudades de partilhar momentos, conversas, leituras...de tomar um copo, um café, de jantar. E que dizer dos mais pequenos? Vivenciando dias estranhos, sentem saudades de brincar sem restrições. Porque as crianças brincam agarrando-se e tocando-se.
A nossa sugestão de hoje é uma magnífica história de amizade. À primeira vista, uma amizade improvável entre dois miúdos que, aparentemente, teriam pouco em comum. Mas não são essas as mais duradouras?
Luís era um miúdo com uma particularidade. Não ria. Nunca! Os pais já o tinham levado a um sem número de médicos e o rapaz já tinha feito uma parafernália de exames e respondido a muitas perguntas. Todos eram unânimes. O Luís não tinha nenhuma doença. Não havia nada de errado com a parte de fora dele, nem com a parte de dentro. A verdade é que o Luís gostava de brincar, de saltar, de jogar à bola, de ler, de ver desenhos animados... Tudo como as crianças da sua idade. Apenas não se ria. Nunca.
Os amigos bem tentavam. Faziam palhaçadas, davam puns, diziam toda a espécie de piadas que a imaginação lhes permitia... Os pais mostravam-lhe cenas cómicas, as coisas mais malucas... Nada. O Luís não se ria. Nunca. E ninguém percebia porquê. Um dia, o Luís conheceu o Filipe e tornaram-se inseparáveis. Ao contrário do Luís, o Filipe ria muito. Por tudo e por nada. Passaram a andar juntos por todo o lado, mas um nunca ria e o outro estava sempre a rir. O primeiro gostava do espaço, dos cometas, das estrelas. O segundo era apaixonado por magia e, embora falhasse os truques todos, persistia no sonho de ser mágico. Um dia seria o Grande Epilif. Lógico, que era uma palavra que o Filipe gostava muito de dizer. Ainda que bem diferentes, os rapazes tornaram-se amigos. Entre eles deixou de haver segredos e embora o Filipe também não percebesse porque é que o amigo nunca se ria, isso não constituía qualquer entrave à sua amizade. Bom, ele também não sabia explicar porque se ria tanto. A cumplicidade era grande e a curiosidade de ambos também. O Luís falava sobre o espaço, o Big Bang, os cometas e o amigo até fazia algumas perguntas... O Filipe ensaiava vezes sem conta os seus truques de magia. Daquela cartola não saíam coelhos, mas o amigo era um espectador assíduo.
Até que um dia, a magia aconteceu mesmo. O Grande Epilif conseguiu tirar da cartola não um, não dois coelhos, mas sim um cão! Um cão verdadeiro, pasmem! Não acreditam? O Luís também não queria acreditar e o espanto foi tal que começou a rir... E os dois até descobriram que tudo se ficou a dever ao Grande Zigomático, o músculo que nos faz rir.
Uma história divertida, com um texto fluído e cheio de humor a que as magníficas ilustrações de Pratt conferem um brilho acrescido. Espraiando-se pelas duplas páginas e obtendo um sóbrio equilíbrio com as palavras, são elas que dão ao leitor a medida do crescimento desta bonita amizade. Com a grande cidade como cenário, o ilustrador escolhe a montanha como símbolo do refúgio dos dois amigos. O lugar onde desvendam segredos e multiplicam cumplicidades. Somos fãs do seu trabalho e ficamos felizes sempre que vemos chegar, aqui em Portugal, um livro ilustrado por si.
Agarrem nos miúdos, apresentem-lhes o Epilif e o Síul, assistam a alguns truques de magia e preparem-se para umas boas e sonoras gargalhadas. Tudo, por conta do Grande Zigomático. Lógico. Afinal, tudo o que mais precisamos nestes dias. Bem vos dizemos que um livro por dia...
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