sábado, 20 de julho de 2019

Chiu! Temos Um Plano



Chris Haughton está de volta. E, desta feita, tem um plano. Chiu! 
Silêncio é o que pedem quatro amigos que se aventuram num passeio pela floresta e decidem capturar um colorido e pequeno pássaro que encontram. Um, dois, três... 


As tentativas para o apanhar sucedem-se. As fugas do pequeno pássaro também. Os pequenos leitores descobrem o jogo e não resistem a escolher o lado em que querem ficar...  


Mas o jogo não parece igual para os 4 amigos, que nos lembram, de imediato, uns célebres bandidos de Tomi Ungerer. E é com grande naturalidade que o mais pequeno rapidamente encontra um meio de comunicar com o passarinho. Com ele e com uma multidão de pássaros...

O humor, o estilo minimalista, a economia de palavras, quase proporcional ao suspense de cada página, são características a que o autor já nos habituou. E, sim, fazem as delícias dos mais pequenos que se passeiam numa floresta de tonalidades azuis e roxas, a que querem voltar vezes sem conta.


Este é o quarto livro de Haughton trazido para Portugal pela Orfeu Negro. Dos outros falámos aqui. Gostamos de todos e é por isso que temos um plano. Chiu! Um, dois, três... Contamos tudo em setembro. Até lá, boas férias & boas leituras.

quarta-feira, 10 de julho de 2019

O Segredo do Avô Urso


O Avô Urso é lento, peludo, imponente. É quase tão velho como o próprio inverno. As suas patas afundam-se no manto de neve. O seu bafo quente faz tremer o vento gelado. A sua figura cruza a névoa floresta adentro. História adentro.  

As pegadas deixadas no manto branco da neve com que o inverno ainda cobre a floresta dão que pensar. O que pode levar o velho urso a acordar mais cedo desse sono sazonal? A estranheza que acompanha a interrogação é partilhada pelos leitores e pela Mamã Corvo.

Como um borrão de tinta da China
 sobre um caderno branco,
assim cai a sombra da Mamã Corvo
 sobre a floresta.

Debaixo do silêncio frio do inverno, escutamos o diálogo entre o velho urso e o pássaro. Ficamos a saber da existência de alguma coisa que o impediu de dormir. Um segredo. De que já não se recorda. Apenas sabe que é importante, mais importante do que ele próprio.
Talvez a sua cabeça já não seja o que era ... porque o avô também não se lembra onde o guardou. Algo que sucede muito com todos os avós.


A inquietude apodera-se dele. A imponência parece transformar-se em fragilidade, quase lembrando um tempo em que já foi um pequeno urso. A Mamã Corvo tenta ajudar e enumera-lhe alguns lugares onde poderá ter escondido o segredo. O fracasso da busca adensa o mistério, deixando os leitores cada vez mais curiosos.
É a mãe natureza que acaba por ajudar a revelar esse segredo demasiado  bem guardado. De boca em boca, ele atravessa a floresta que desperta para o novo ciclo da vida, surpreendendo tudo e todos. Pena, que o avô urso...


As ilustrações de Zuzanna Celej são deslumbrantes. Lápis, aguarela, colagem, papel de diferentes texturas são técnicas e materiais utilizados para construir pequenos e grandes planos, para nos fornecer a luz e as sombras... As cores rejuvenescem à medida que o segredo vai sendo deslindado e entrelaçam-se com as metáforas que povoam o texto poético de Pedro Mañas, gerando um livro delicado e encantador. Não deixem de entrar na floresta para descobrir o segredo...

terça-feira, 2 de julho de 2019

Irmã, Ouves o Azul Profundo do Mar?


Os sete círculos furados, de diversos tamanhos, são os primeiros a despertar a nossa atenção quando olhamos a capa. As tonalidades de azul, os peixes que prolongam o vestido, as nuvens que parecem movidas a carmesim, a figura delicada da nadadora... tornam impossível passar pelo livro sem o abrir. 
Irmã, Ouves o Azul Profundo do Mar, com texto de Gilda Nunes Barata e ilustrações de José Manuel Saraiva, é uma edição da Livraria Lello, em colaboração com a Associação Portuguesa de Surdos. 


A história é habitada por duas irmãs, uma das quais surda. Uma que ouve tudo e daí escolhe o que mais lhe fala; outra que ouve tudo o que vê, tudo o que cheira, tudo o que saboreia, tudo o que toca e, claro, todo o silêncio que escuta. 
O excerto, indiciador da toada poética do livro, encontra-se na contracapa. 


A irmã narradora, a que ouve, descreve ao leitor o mundo da outra como pensa que ela o vive. A linguagem do amor prevalece ao longo do livro.
Quando há trovoadas, a minha irmã vê o céu com desenhos que imagina ser o céu a querer falar com ela. Nenhum trovão a assusta.


Com um design sóbrio e elegante, as páginas maravilhosamente ilustradas por José Manuel Saraiva vão alternando o branco do fundo com algumas das cores predominantes nas ilustrações. No final, um desdobrável dá-nos a noção da imensidão do azul profundo do mar. 


Há cinco anos, escrevíamos aqui, a propósito do  trabalho de José Manuel Saraiva e de um livros de que tanto gostamos, Juste à ce moment-là, que a maior característica das suas ilustrações é a poesia que delas sempre emana e que exerce sobre nós uma magia e um poder encantatório únicos. 


A afirmação não podia ser mais verdadeira. Em Irmã, ouves o azul profundo do mar? há uma espécie de magia estonteante. A beleza cromática e a plasticidade que sempre existem no trabalho de Saraiva deslumbram leitores de todas as idades. 


O livro é acompanhado de um magnífico cartaz, onde  encontramos um texto assinado pelo maestro José Aquino, criador do Coro da Fundação Gulbenkian. Tudo boas razões para também vocês ouvirem o azul profundo do mar.