sexta-feira, 29 de outubro de 2021

A Árvore em Mim







Corinna Luyken está de volta com um livro que é uma celebração da natureza e da ligação que podemos manter com ela. De forma poética, palavras e imagens dão as mãos ao longo das duplas páginas, oferecendo-nos um festim de cores e emoções.

Enquanto observa uma árvore, uma criança vai descrevendo como as características dela e dos elementos que lhe permitem que cresça e floresça, também vivem dentro de si. As metáforas entre os crescimento e fortalecimento da árvore e os da criança são subtilmente assimiladas pelos leitores. Há toda uma força interior revelada pela protagonista  que se mantém em estreita  ligação com o ciclo de vida da árvore. 
















De forma simples e delicada, a autora usa as metáforas escritas e visuais para demonstrar como a natureza vive em cada um de nós. Quando dá a primeira dentada na maçã que retira da árvore, a cor e o brilho que emanam da maçã instalam-se nas maçãs do rosto da pequena. 

A árvore em mim... é parte maçã. A árvore em mim... O uso reiterado desta espécie de refrão reforça aos olhos do leitor a forte conexão entre si e a natureza. Todos somos raízes... o sol, a chuva, o vento, são elementos que habitam dentro de nós.  Luyken consegue transmitir, através de belas pinceladas e de curtas palavras, um rol de emoções. O sentimento de liberdade é-nos fornecido pela brincadeira de que a criança desfruta  em torno da árvore, a força que nela vai crescendo evidencia-se enquanto sobe ao topo, a amizade e a diversidade  estão presentes através dos amigos que se reúnem à sombra da árvore...















Depois de O Livro dos Erros, O Meu Coração e O André Semeão não tem um Cavalo, a Fábula traz-nos mais um livro de uma autora que já conquistou o seu espaço junto dos leitores mais pequenos e de todos os que apreciam a simplicidade e a beleza com que estrutura as histórias dos seus livros.




A paleta de cores utilizada pela autora, em tons predominantemente rosa, e a simplicidade do traço encantam leitores de todas as idades, provocando uma gigantesca vontade de ir lá para fora observar o tanto que faz parte de nós. Com um azul que nos faz abrir a porta a todos os sonhos, Luyken diz-nos que para tal não há limites. Nem mesmo o céu. 


Numa altura em que as nossas crianças tanto ouvem falar da importância da defesa do meio ambiente, este é um lugar que importa conhecer.  Um deslumbrante caminho para percorrer enquanto olhamos e sentimos as árvores que há em nós.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

As Estações


 






















Intemporal. A obra e a sua autora, Iela Mari. Quando pensamos em livros só de imagens, os dela invadem-nos a cabeça. Tendo chegado a Portugal pela mão da editora Sá da Costa, com o título A Árvore, este livro voltaria a ser editado, em 2009, pela Kalandraka, como As Estações. Há muito esgotado, a sua recente reedição não pode deixar de ser festejada.












Uma narrativa exclusivamente visual em que o ciclo da vida e as suas transformações são apreendidos por leitores de todas as idades. No centro da história, a árvore desempenha o papel principal. Do seu lugar, assiste à viagem do tempo e aos fenómenos daí decorrentes. À volta dela há outras vidas. Um esquilo, pássaros, sementes, insectos... Todos dão o seu contributo à história. Adivinhamos o momento em que chegam, em que partem, quando acordam, quando hibernam, quando florescem... mas há um tempo em que todos desaparecem de cena, se secundarizam. Ela permanece.












Há momentos em que é abrigo, aconchego, fonte de alimento... Outros há em que fica sozinha. Despida, apenas com alguns ramos, coberta pelo seu manto verde ou adornada com as deslumbrantes cores outonais... É esta mudança cromática que anuncia a passagem do tempo, a mudança. As cores que, imponentemente, exibe revelam ao leitor as estações do ano.












A vida vai decorrendo. A mãe natureza tem o seu ritmo. Estática, a árvore assiste ao tempo que o tempo tem. E nós visitamo-la vezes sem conta. Em qualquer estação do ano.


quinta-feira, 7 de outubro de 2021

O Mundo Cá Dentro



A capa é um convite. Quando entramos, somos envoltos na beleza que se espraia por cada página, estonteando-nos os sentidos. Olhamos cada pequeno detalhe em que se reflete este hino à natureza. Sabemos que é um lugar que queremos habitar. Desejamos conhecer cada caminho, descansar em cada recanto, passear-nos demoradamente. Tocamos os ramos, as folhas, conversamos com os pássaros, saboreamos as cores. Voltamos vezes sem conta para esse reencontro.




Recentemente editado pela Orfeu Negro, O Mundo Cá Dentro, com texto de Deborah Underwood, é brilhantemente ilustrado por Cindy Derby, um nome que nos enche de alegria ver por cá. Autora de vários livros e alguns prémios, Derby deslumbra todos os que a seguem com o uso que faz da aguarela. Aqui, juntou-lhe a grafite em pó sobre papel prensado a frio e utilizou hastes de flores secas e fio embebido em tinta. O resultado é um requintado festim para os olhos de todos os que têm o privilégio de por cá passar.  
The New York Times refere-se  ao seu trabalho como “profound” and “wonderfully out of control". Não podíamos estar mais de acordo.



Dantes, nós éramos parte do mundo e o mundo era parte de nós. Nada havia a dividir-nos. Agora, até quando estamos lá fora... estamos cá dentro.
Partindo desta premissa, as autoras encontram uma forma poética e encantatória de nos mostrar como nos esquecemos de olhar e valorar o que nos rodeia. No carro, no rotineiro circuito do dia a dia, em casa... esquecem-nos, amiúde, de que o mundo existe. E é ele que nos relembra, entrando-nos em casa das mais variadas formas, mesmo que tenha de utilizar alguns truques de magia.


 
O mundo não desiste de nós. Um ramo que bate na janela, os chilreios dos pássaros, os cheiros, uma teia de aranha, o pão e os frutos que a terra nos põe em casa... É assim que nos relembra que está à nossa espera.



E nós vamos ao seu encontro. À boleia de de um magnífico jogo de perspectivas, de luzes e sombras que, como por magia, nos faz querer abraçar o mundo em todas as estações do ano.