domingo, 29 de março de 2020

Toc Toc Toc. Estão todos em casa?



Toc Toc Toc, da autora belga Anne Herbauts, é um livro que há alguns anos nos inspira para fazer um sem número de coisas com os mais pequenos. Somos fãs confessos do seu trabalho e fascinados pelos seus livros.


O livro tem o formato de uma casa. O leitor vai entrando em várias das suas dependências e conhecendo os múltiplos objectos que as compõem. A vida que existe dentro dela. Não sem que antes, se bata à porta. Porque não entramos na casa dos outros sem bater à porta...


É uma casa grande e, ainda que não nos cruzemos com quem lá vive, ficamos a conhecer-lhe a intimidade dos recantos, dos objectos e até de alguns seres vivos que a partilham. Uma joaninha, uma aranha, um gato...


Sentimos-lhe o coração. É toda uma vida que palpita, através das suas cores, das texturas, das colagens que Herbauts utiliza.


Porque este é o tempo da nossa casa, lançamos o desafio. Agarrem na criançada, no material que quiserem e vamos fazer o livro da nossa casa. Os miúdos adoram desenhar, pintar, colar... e fazer livros.


Na próxima quinta-feira, dia 2 de Abril, comemora-se o Dia Internacional do Livro Infantil. Esta será uma forma bonita de o celebrar, valorizando o espaço mais precioso desta altura das nossas vidas. Aceitem o desafio e publiquem as obras de arte de miúdos e graúdos. Queremos ver.


 Toc Toc Toc.
 

quinta-feira, 26 de março de 2020

Oliver Button É Uma Menina


A velha máxima de que o mundo é uma aldeia parece desajustada nestes tempos difíceis que vivemos. O mundo é agora uma casa. A nossa casa. Dentro dela, necessitamos de alguns recursos para combater a rotina, o tédio, os receios... Nunca será demais afirmar que os LIVROS são armas preciosas de combate, agora ou no futuro, a todos os males que sempre atravessam o mundo. 
Ainda que o momento não seja para festas, hoje queremos festejar e partilhar com vocês a chegada do premiado e acarinhado autor americano Tomie DePaola e do seu Oliver Button é uma Menina. E agradecer à editora Kalandraka.


DePaola é um autor aclamado que conta com uma obra com mais de 250 livros. Strega Nona, que lhe valeu a Medalha Caldecott,  é talvez o seu livro mais conhecido, mas Oliver Button é uma Menina, editado pela primeira vez em 1979, e que continua hoje tão actual como há quarenta anos, é uma preciosidade. As deliciosas ilustrações reportam-nos para uma infância longínqua e relembram-nos, desde logo, o universo sendakiano. Seis anos mais novo que Maurice Sendak, as semelhanças entre as obras sempre existiram, mas não retiram a identidade e a sensibilidade únicas que caracterizam a obra de DePaola.


A história calcorreia território biográfico, contando que o pequeno protagonista contraria a "normalidade" das coisas, preferindo brincar com bonecas, saltar à corda, ler ou desenhar, em detrimento dos jogos de bola e outras brincadeiras mais comuns nos rapazes. 


Facilmente previsível, tais características não fazem de Oliver um rapaz popular. Antes, um alvo de toda a espécie de gozo e crueldades por parte das outras crianças. Se pensarmos que Oliver nasceu há mais de quarenta anos, isso é revelador de algo que todos sabemos. Que o fenómeno hoje conhecido como bullying é tão velho quanto os preconceitos que estão na sua génese.


Ao inferno do dia a dia, grafitado nas próprias paredes da escola, junta-se o desconforto dos que o amam, mas não sabem muito bem lidar com as "diferenças". A tudo isto, Oliver contrapõe a determinação e a coragem de quem sabe o que quer e continua acreditando nos seus sonhos. A escola de dança e uma professora que lhe reconhece o talento abrem-lhe as portas a uma existência diferente. O amor incondicional dos que lhe são mais próximos e a aceitação dos seus pares acabam por chegar. Porque Oliver tornou-se uma estrela.


Oliver Button chegou até nós quarenta anos depois da sua primeira publicação. Num tempo em que a vida parece tudo, menos "normal". Talvez isso nos possa levar a reflectir com os mais pequenos sobre os nossos comportamentos relativamente ao que convencionámos chamar de "normalidade". Até porque nem todos os Oliver(s) do mundo chegam a estrelas.


sexta-feira, 20 de março de 2020

Os Pássaros. O tempo das pequenas grandes coisas acontecerem



Os Pássaros, de Germano Zulo e Albertine, recentemente publicado em Portugal pela Orfeu Negro, é um livro repleto de poesia. Apetece mesmo dizer que este é um poema maravilhosamente ilustrado. Nestes dias inquietos, faz -nos repensar na importância das coisas. Porque, às vezes, basta uma pequena, pequenina coisa acontecer para o mundo se tornar melhorar.


O deserto é o cenário. As suas cores e o azul do céu pintam o livro da primeira à última página. Pelo meio, vemos surgir um camião vermelho. Primeiro, ao fundo, agora já mais próximo. Interrogamo-nos sobre o que fará por ali. O mistério adensa-se quando o vemos parar à beira de um precipício. De dentro sai o homem que o conduz. Encaminha-se para a parte de trás. Que irá ele fazer no meio do deserto?


O homem abre as portas e deixa sair um enorme bando de pássaros. São lindos, de todas as cores e feitios. Tal como ele, contemplamos os pássaros até se perderem no horizonte. As poucas e curtas frases que percorrem o livro, apenas em algumas páginas,  dão-nos conta que há dias que são diferentes, embora pareçam iguais aos outros. Só parecem. Porque, na verdade, eles têm qualquer coisa a mais. Uma coisa pequena.Um pequeno nada em que, normalmente, não reparamos.


É aí que o vemos. Um pequeno pássaro preto. Não saberá voar ou estará apenas relutante em ir? A sua expressão indicia um certo apego ao amigo que lhe restitui a liberdade.  Como se não quisesse perdê-lo. A cumplicidade entre os dois torna-se óbvia. Sem necessidade de palavras. A esta altura, o leitor também já se tornou amigo deste homem, de quem desconhece o nome ou qualquer outro detalhe da sua identidade. Ou da sua vida. Como acabará a história?


Este é um livro feito de pequenas coisas que são grandes coisas. Um tesouro, à espera de ser descoberto. Aventurem-se.

quarta-feira, 18 de março de 2020

Todos Juntos




Nunca o distanciamento fisico levou a que pensássemos tanto nos outros. Há palavras que nunca foram ditas tantas vezes. Juntos é, seguramente, uma delas. O que nos trouxe à memória este maravilhoso livro, que nos faz pensar na riqueza do universo da LIJ. Estes são livros para todos. 
Todos Juntos, na versão original We Are Together, da conceituada autora alemã Britta Teckentrup é uma ode ao poder do amor e da amizade. Nestes dias difíceis, em que ficamos em casa,  é nesse poder que encontramos o aconchego de todas as inquietudes. Hoje, não queremos falar do livro. Queremos apenas partilhar um pouco dele com vocês.


Cada um de nós 
   é único e especial,
   mas todos juntos formamos
    uma equipa genial!


Com a força das palavras
   podemos mudar o mundo.
Unamos as nossas vozes
e naveguemos todos juntos!


Quando algo nos preocupa
e não sabemos o que fazer,
é certo que entre todos
o podemos resolver!


Todos juntos formamos
uma grande equipa genial.
Se nos lembramos disto, 
nunca nos sentiremos sozinhos!

(tradução livre dos Hipopómatos)

segunda-feira, 16 de março de 2020

A Pequena Semente. Uma história feita de perseverança


A Pequena Semente, de Eric Carle, fez a sua primeira aparição pública em 1970. Mas, foi nos anos 80, que a versão que agora chega a Portugal pelas mãos da editora Kalandraka se celebrizou, inspirando muitas outras histórias sobre o ciclo de vida das plantas.



O livro é um relato vibrantemente colorido e ilustrado sobre a vida de uma pequena semente ao longo das estações do ano. Bem mais pequenina que todas as outras, também ela é levada pelo ar pelo vento forte do outono. Mas será que consegue acompanhar as outras sementes?


A travessia do mundo revela-se uma árdua viagem, repleta de perigos e obstáculos. Uma das sementes é queimada pelos raios quentes do sol, outra afoga-se no oceano, outra é comida por um pássaro... E a pequena semente? Não é tão rápida como as outras, não consegue voar tão alto quanto elas, mas é lutadora e determinada. E tem os leitores a torcerem por ela.


Quando o vento se vai embora e as sementes caem no chão, adivinhamos-lhe o tempo de crescimento. Mas os perigos continuam à espreita. Uma delas é comida por um pássaro, outra, por um rato esfomeado... E a pequena semente? 
Oh, pequenina, é praticamente invisível... E conhece bem a arte de ficar quieta quando é necessário.


Os perigos persistem mesmo quando as sementes se tornam plantas. Uma é pisada por um pé mais distraído, outra é colhida para ser oferecida. E a pequena semente? Oh, ainda nem começou a crescer. Mas, todos nós, leitores, continuamos a torcer por ela! 



O recurso à técnica da colagem, a  profusão de cores fortes e quentes, o texto simples,  mas simultaneamente portador de uma força quase dramática, tem encantado várias gerações de leitores. Com a chegada do Verão, a pequena semente transforma-se numa flor gigante, admirada por todos. Depois, o ciclo renova-se...


Em tempos difíceis como os que vivemos, esta é, também, uma história de perseverança. A pequenina semente sai vencedora de uma luta travada com perigos gigantescos. Uma história com final feliz, capaz de mostrar aos mais pequenos que todos conseguimos vencer os perigos, por maiores que eles nos pareçam.
Agarrem nos miúdos, no livro,  numas quantas sementes e deitem as mãos à terra. Pode ser no jardim, no quintal, na varanda ou até em casa, em simples vasos... Batizem a vossa flor, ponham a criançada a inventar nomes, e observem o crescimento. Os Hipopómatos já semearam e chamaram-lhe Flor de Carle.

sábado, 7 de março de 2020

O Avô tem uma Borracha na Cabeça




Um dia descobri que o meu avô tinha uma borracha na cabeça. As borrachas apagam coisas. E a cabeça do meu avô apagava coisas. As coisas dele. A vida dele. Assim começa O Avô Tem Uma Borracha Na Cabeça, o livro escrito por Rui Zink e ilustrado por Paula Delecave (Porto Editora), uma história de cumplicidades e de afectos que ameaça ser interrompida pelas crescentes falhas de memória do avô.


A história é contada pelo neto que transmite ao leitor as histórias de vida que sempre ouviu do avô. Feitas de memórias, de fotografias, de objectos. São elas que preenchem a maior parte dos momentos que dividem, das conversas, dos passeios. A proximidade entre os dois, as cumplicidades, fazem-se dessas vivências partilhadas.


Um dia, o rapaz dá-se conta que a memória do avô lhe começa a pregar algumas partidas. Que, às vezes, o avô esquece coisas. No princípio,  coisas simples. O chapéu, a caneta... Depois, o avô começou até a trocar-lhe o nome, a esquecer o caminho de volta para casa. A relutância e dificuldade dos pais em abordar o problema, leva a que seja o pequeno a diagnosticar a doença: o avô tem uma borracha na cabeça. 


Apesar de lhe dizerem que a doença não tem cura, o rapaz não se conforma e sonha ser um grande cientista inventor, capaz de remendar as memórias do avô. Assim nasceu a ideia de escrever e desenhar a vida do avô, as histórias  que ele lhe tinha contado... Porque se o avô tem uma borracha na cabeça, nós somos um lápis! 
É cada vez maior o número de famílias que se confronta com a doença de  Alzheimer. É difícil não conhecermos alguém que tem um ente querido ou um amigo próximo que progressivamente se alheia do mundo. Não sendo uma abordagem muito comum na LIJ, surge aqui contada de forma simples e directa pelo pequeno neto,  tocando leitores de todas as idades. Zink partiu de uma vivência familiar para criar esta história carregada de sensibilidade e de amor. 



O texto de Zink é magistralmente  ilustrado por Delecave, que, reunindo um conjunto de elementos, consegue transportar-nos com exímia eficácia para o universo do avô, deixando no leitor uma sensação de grande proximidade. O uso de papel quadriculado, a esbatida paleta de cores, os caracteres meio apagados, o recurso à técnica da  colagem, a fotografias antigas, de anónimos e da sua própria família, a desenhos de autoria do pai enquanto criança... desembocam num trabalho apuradamente genuíno e revelador das memórias que as gavetas da vida podem guardar. 

Tudo boas razões para assistir à apresentação do livro que os autores farão amanhã, domingo, dia 8, às 14.30H, na Casa dos Hipopómatos. Estão todos convidados!