segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A Rainha das Rãs não pode molhar os pés

Porque gostamos tanto de histórias? Talvez porque, ao contrário da vida, podemos começá-las quantas vezes quisermos.

A Rainha das Rãs não pode molhar os pés é uma história que começa duas vezes e tem um final feliz!


Tudo se passa num lago, onde há rãs que passam o dia a fazer coisas de rãs, como saltar e apanhar moscas, dormir a sesta, brincar com libélulas ou cantar...


Subitamente, a  rotina prazenteira dos dias é  interrompida pela chegada acidental de um objecto estranho.  Ao emergir do fundo do lago, uma das rãs traz na cabeça algo pequeno e brilhante, uma coroa. Claro que não é uma coisa muito  normal  entre rãs, e não foi simples perceber do que se tratava. Mas bastou que alguém se lembrasse de opinar para que logo ali fosse aclamada rainha das rãs.


O que faria uma rainha das rãs era coisa que nem a própria sabia. Mas, os conselheiros são uma espécie antiga  e  prontamente surgiu quem soubesse tudo o que uma rainha pode e não pode fazer... 


A vida por ali mudou por completo. O aparecimento da coroa na cabeça da proclamada rainha subverte por completo a vida calma e tranquila do lago. As rãs passam agora os dias a trabalhar arduamente  em prol  da rainha e das suas conselheiras. 


A vida deixa de ser divertida e já ninguém sente vontade de cantar. Uma parábola ao poder e  à forma abusiva como tantas vezes é exercido,  subtil e  inteligentemente contada por Davide Cali, o autor de Eu Espero... e Um dia, Um Guarda-Chuva.


A outra quota no mérito do livro pertence ao ilustrador Marco Somà que, em tons predominantemente sépia e verde seco, nos faz emergir pelo lago,  num ambiente sofisticado e elegante, onde não faltam os  candeeiros  estilo tiffany, os chapéus de palha ou os papillons...


A Rainha das Rãs não pode molhar os pés é um livro feito para uma editora portuguesa. Desta feita, não estamos em presença da tradução de uma obra já existente, mas sim de "fabrico próprio"! Parabéns à Bruaá!

O final? A vitória da inteligência e o regresso da coroa ao lugar onde pertence... e um livro sem o qual poderíamos viver, mas não seria a mesma coisa! 



terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Achimpa

Há dias assim, em que só apetece achimpar!

O que é isto? É o achimposo livro de Catarina Sobral, editado em Novembro pela Orfeu Negro.


Depois de Greve, o segundo livro da ilustradora tem sido um verdadeiro achimpamento. Com uma boa dose de humor , a história desenrola-se em torno da palavra achimpa que um investigador recupera de um velho e já caquético dicionário. 


De acordo com o esclarecimento solicitado a Dona Zulmira, que conta já 137 anos, estar-se-ia em presença de um verbo da primeira conjugação. Ao que parece, achimpava-se, sempre se tinha achimpado e achimpar-se-ia enquanto houvesse gente no mundo.


Mas rapidamente as opiniões divergem e a palavra percorre o livro em busca do seu lugar na gramática. Verbo, nome, adjectico, advérbio, pronome... as opiniões vão-se sucedendo e não falta quem se pronuncie sobre o assunto. Com muito humor e uma boa dose de ironia, põem-se a nu os pretensos conhecedores de tudo.


Linguistas, homens comuns ou políticos, todos se revelam  exímios e achimposos experts. 


 O parlamento destaca-se pelo uso de uma mancha diferente de todas as outras ilustrações.

Catarina Sobral  é ilustradora de formação e os seus livros denotam  uma forte e consistente  união dos vários elementos que nos permitem uma prazenteira dupla leitura. Ilustrado a pastel de cera e a lápis, é, sobretudo, a componente visual que nos permite acompanhar a hilariante viagem que a palavra vai fazendo,  de boca em boca. 


É através dela, por recurso a referências de todos conhecidas, que identificamos, por exemplo, alguns dos espaços. A calçada portuguesa, o táxi verde e preto, o quiosque e toda a envolvência, 0 eléctrico 28 da graça...


De igual modo, a referência a algumas das mais belas e conhecidas livrarias do mundo permite-nos acompanhar o rigoroso e determinado investigador nas suas deambulações por livrarias, bibliotecas e alfarrabistas. 


A Lello & Irmão, no Porto, a Shakespeare and Company, em Paris e a Ler Devagar, em Lisboa, onde ocorreu o achimposo lançamento do livro, são apenas algumas das livrarias que podemos ver na fantástica imagem.


                                   


Ainda não achimparam? Façam o favor de se despachar porque há um perlinço por desvendar...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O Pássaro Da Cabeça


Basta Imaginar

Basta imaginar
um pássaro para o aprisionar, 
e depois imaginar o ar para o libertar
e imaginar asas para ele voar
e imaginar uma canção para ele cantar


Porque nunca é demais imaginar com Manuel António Pina, já andamos por aqui a voar! Com imagens da pintora Ilda David', O Pássaro Da Cabeça e mais versos para crianças foi recentemente reeditado pela Assírio & Alvim, que assim se junta à editora Relógio D'Água e à extinta Quasi na edição deste livro de poemas do autor. 



Podem começar a sonhar!

domingo, 2 de dezembro de 2012

AVES

Apesar do frio, já chegaram!


Aves, da dupla mexicana María Julia Díaz Garrido e David Daniel Álvarez Hernández, editado pela Kalandraka, foi o livro vencedor do V Prémio Internacional Compostela Para Álbuns Ilustrados.

Um olhar intenso sobre a história da humanidade, alegoricamente recriada ao longo de uma narrativa centralizada no comportamento e na figura dos seus protagonistas. Diversos exemplares de pássaros humanizados são os simbólicos representantes da ambição desmedida e incontrolável  dos homens.


A preto e branco, as metáforas que descobrimos a cada página vão-nos roubando o fôlego que este voo de enorme dimensão exige de nós. O inicio, o conhecimento, a sua transmissão aos mais novos, vão cedendo lugar à futilidade, à ostentação e a uma ânsia de domínio do mundo.


Em nome do progresso e do bem estar material, hipoteca-se a liberdade e esquecem-se valores fundamentais.

O resultado é inevitável. 


A qualidade e a coerência das imagens, a toda a extensão das páginas, justificam a economia de texto, agrupado em frases sucintas mas carregadas de subtilezas.

No final, fica a esperança no recomeço...

 Este é um livro para abrir muitas vezes. Palavra de Hipopómato!