quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Caça-Olhares. E se um livro por dia fôr uma vacina contra a pandemia?


 9. Caça-Olhares | Marina Núñez e Avi Ofer | Kalandraka

O título caça a atenção e a curiosidade do leitor. Um olhar mais atento traz-nos à memória o universo de Quentin Blake.  As semelhanças são incríveis, mas este é um livro ilustrado  pelo israelita Avi Ofer que, para além de ilustrador, é também um premiado realizador de filmes de animação. Esta é uma deliciosa e divertida abordagem à temática sempre actual do uso (e abuso) que damos aos dispositivos móveis. 

Telemóveis, iPads, televisão...  A Vera já não aguentava tanta concorrência! As pessoas, à sua volta, viviam com os olhos colados àqueles ecrãs.  Em casa, já não sabia o que fazer para chamar a atenção da família. Na rua, raramente conseguia um olhar da multidão com que se cruzava.  E se os adultos não paravam, nem para observar as coisas maravilhosas que há no mundo, como poderia querer que olhassem para ela? Mas a garota não se conformava. Afinal de contas não era invisível. 

Determinada e munida dos instrumentos necessários para caçar olhares, a Vera decidiu pedir ajuda à única pessoa que sabia ser capaz de a ajudar a encontrar uma solução, a avó. Com ela, tudo era diferente. Mesmo dizendo que já não via lá muito bem, tinha sempre olhares para ela. Podia já não ouvir como dantes, mas não deixava de escutar todas as suas histórias. A avó Guida nunca tinha pressa nem mil e uma coisas para fazer. Desabafadas as preocupações da neta, foi com grande naturalidade que as duas passaram a tarde juntas a arquitectar um plano para acabar com a situação que tanto angustiava a nossa protagonista.

E cada segundo valeu a pena! O  jogo que inventaram acabou cativando quem por elas passava. A Vera pode voltar para casa com a sua rede cheinha de olhares. E, para sua surpresa, depois de ter contado aos pais o dia maravilhoso que ela e a avó tinham feito acontecer, o "milagre" aconteceu. Também  ali a menina pôde receber o que tanto precisava. Olhares e abraços. Uns e outros tão necessários nos dias que correm. Não deixem de aplicar o tratamento às vossas crianças! 
Com uma paleta de cores suave, as ilustrações em jeito de esboço articulam-se na perfeição com o texto curto e direto. O humor, comum a ambas as narrativas, contagia pequenos e grandes leitores. 

Este é um livro que conhecemos antes mesmo de nascer. Caça-Olhares foi uma obra finalista do XII PRÉMIO INTERNACIONAL COMPOSTELA, cujo júri tivemos o prazer de integrar. Na altura, ninguém lhe ficou indiferente. Hoje, também não. Ficamos imensamente felizes de o ver chegar e andar por aqui a encantar todos aqueles a quem caça o olhar. A nossa sugestão é que larguem os vossos ecrãs, agarrem nas crianças e experimentem o jogo da Vera e da avó Guida! E não se admirem se acabarem todos numa guerra de almofadas aí por casa...
AVISO: Os adultos podem ficar chocados por se sentirem retratados nesta obra.

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