quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Uma Última Carta. Lembranças De Um Carteiro.


Na era digital, despedimo-nos de 2016 com Uma Última Carta! É com alguma nostalgia e grande dose de encantamento que recuamos até uma época em que não havia telefone nem correio electrónico,  e em que todas as notícias viajavam a pé. Neste caso, na companhia do senhor Costas, o único carteiro da ilha.


Uma emotiva e tocante homenagem à figura do carteiro, essa espécie de mensageiro das boas e más notícias, tantas vezes transformado em amigo e confidente dos destinatários das mesmas.


Obra vencedora do IX Prémio Internacional Compostela para Álbuns Ilustrados, o livro  agora editado pela Kalandraka é da autoria da dupla grega Antonis Papatheodoulou Iris Samartzi.


Durante mais de 50 anos, o senhor Costas distribuiu notícias por toda a ilha. Desde os lugares mais próximos aos mais recônditos. Notícias boas e notícias más. As primeiras eram tão leves,  que conseguiria levar um cento delas ao mesmo tempo. Mas as outras pesavam tanto que, mesmo sendo apenas uma, eram sempre difíceis de transportar.


Naquele que era o seu último dia de trabalho, antes de se reformar, o senhor Costas queria partilhar essa notícia com toda a gente. Mas, estranhamente, ao contrário do que sempre sucedera e do que ele próprio imaginara, não havia ninguém à sua espera! Uma última carta acabaria por transformar o dia deste carteiro em algo especial...


As sublimes ilustrações de Iris Samartzi,  para além de evidenciarem a nostalgia do texto, põem em relevo a componente humana do protagonista da história, por quem todos sentimos uma natural simpatia desde o inicio.  Selos, envelopes, fotografias e outros elementos relacionados com a profissão convivem num notável trabalho de colagem que combina na perfeição com o traço preto que delineia as personagens. A paleta de cores, onde predomina o azul do céu e do mar, leva o leitor em digressão por esta ilha mediterrânica. 


Em altura de férias, aproveitem! Não deixem de ver este magnífico livro em formato de carta e de saber como terminou o último dia de trabalho do senhor Costas...

MARY JOHN. Um Natal Mais Azul!


Que bom é poder terminar o ano a falar de livros como este! MARY JOHN, o novo livro de Ana Pessoa, com ilustrações de Bernardo Carvalho e recentemente editado pelo Planeta Tangerina, é um livro condenado ao sucesso junto do público adolescente.


Há semanas que ando a escrever-te. Não sei bem porquê. Não sei bem para quê. Quem és tu, Júlio Pirata? Ando a pensar na nossa história. Desde o princípio. Desde o primeiro encontro. Desde a primeira pergunta: "És menino ou menina?"

Assim começa a longa carta que Maria João escreve a Júlio Pirata, uma espécie de balanço das histórias vividas e partilhadas durante a infância e a adolescência. A mudança de casa e de lugar, na companhia da mãe, acaba por funcionar como a alavanca desencadeadora deste relato pormenorizado de  sentimentos, de meditações, de estados de alma.



Eu sou uma menina por tua causa, Júlio. Deixei crescer o cabelo para ti, furei as orelhas para ti. Eu vivo e morro para ti. Todos os meses tenho o período, morro um bocadinho e penso em ti. Tu dizes: "Morreste!" E eu morro. Atiro-me para o chão de qualquer maneira.
E eu não quero isso. Eu nunca mais quero morrer, Júlio. Eu quero viver para sempre. Todos os minutos de todas as horas de todos os dias. 
A carta para o Júlio Pirata parece corresponder a um desejo de encerrar um capítulo já longo, quando um recomeço se avizinha. Será?


Depois do fantástico SUPERGIGANTE, Ana Pessoa volta a surpreender com uma história intensa, cativante e imperdível. Um porto de abrigo onde qualquer adolescente se encontra e os adultos devem entrar. Que venham mais, nós agradecemos!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Era Uma Vez Um Alfabeto. Jeffers Está de Volta!


Alfabetos há muitos. Uns menos convencionais do que outros. Munari, Sendak, Quentin Blake e tantos outros não resistiram a alfabetizar... Edward Gorey, o mestre do nonsense, deixou-nos um legado fabuloso de várias e incríveis histórias sobre as 26 letras do alfabeto.




Oliver Jeffers não fez por menos e decidiu passar a ocupar um lugar de relevo na História dos Alfabetos. 26 histórias para 26 letras. O brilhante Era Uma Vez Um Alfabeto, Pequenas Histórias com todas as Letras, chegou recentemente a Portugal, pela mão da Orfeu Negro. 


São mais de 100 páginas com histórias curtas e imaginativas que viajam de A a Z. Excêntricas, estranhas, tontas, contraditórias, loucas, de puro nonsense... ou nem por isso.  Em comum, têm a característica de nos levar por caminhos hilariantes. Revelador de grande originalidade, o que mais nos encanta neste livro, é a forma delicada e criativa com que Jeffers subverte!


Há histórias que se cruzam, histórias que entram noutras histórias, enigmas que só  algumas histórias depois são resolvidos... Há um humor intertextual  que nos permite encontrar personagens já nossas conhecidas de outros livros do autor a passearem por algumas páginas... E há, sobretudo, uma humor inteligente que percorre todo o livro.


Há histórias que se lêem e relêem. Muitas vezes. Procura-se a certificação de que o final é mesmo aquele. E quando assim é, o riso é o resultado inevitável. Povoado de monstros, robôs e outros seres absolutamente singulares, este é um livro que contém doses de suspense, de perplexidade e  de humor que o tornam absolutamente genial.


O que pode haver de mais cativante  para os pequenos leitores que se estreiam nesta viagem pelo alfabeto, do que  começar com um paradoxo? O A é de astronauta. Não um qualquer, mas Edmundo que morria de medo das alturas. Descobrir a solução para os problemas de Edmundo exige percorrer as páginas até à letra Z...


O C fica por conta de uma caneca que, farta de viver num armário escuro e frio, um dia decidiu arriscar, acabando, claro está, em cacos. Porque aqui não há concessões fáceis, há inevitabilidades. A caneca volta a reaparecer algumas histórias depois, devidamente colada e certamente resgatada pelos dois especialistas em salvamento que coabitam no livro. Mas porque há coisas inevitáveis, quase a terminar a viagem, o leitor volta a vê-la em cacos.


Com uma magnífica capa cor de laranja vivo, o interior do livro acaba por se revelar surpreendente. Cada letra, desenhada como só Jeffers sabe, e a respectiva história são introduzidas por uma página colorida. Mas os desenhos das histórias exibem-se, a cada página, em tons pretos e cinzas, apenas com um ou outro apontamento de cor. 


Esse é, sem dúvida, um forte contributo para que a memória de Gorey não nos abandone ao longo da viagem. Mas não o único. Há páginas onde texto e  ilustração parecem resultar numa verdadeira combinação goreyniana.  É assim, por exemplo, com o H, Habitação de Alto Risco. É a história de Helena, que habitava a metade de uma casa. A outra metade, tinha caído ao mar, durante um furacão, há ano e meio. Por ser preguiçosa, e não ter um martelo, a Helena não tratara ainda de arranjá-la. A Helena nunca tivera problemas até  ao terrível e horrível dia em que rebolou para o outro lado da cama.


Brilhante e irresistível, é um luxo que já se passeie por cá!  Agradecer à Orfeu Negro por isso, nunca será demais. É uma das nossas escolhas e sugestões para este ano, para o próximo, para sempre que decidirem oferecer um livro de excelência aos miúdos! 

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

No Natal dos Mais Pequenos


Que o Pai Natal gosta de livros, não temos dúvidas. Mas, às vezes, receamos que ele possa andar distraído. Pssst, olha quantos livros fantásticos para os mais pequenos!


Mamã Raposa, o primeiro livro da autora francesa Amandine Momenceau, recentemente editado pela Orfeu Negro, é um objecto delicado, belo e poético.


Uma espécie de jogo de escondias que se enceta entre mãe e filhos, num passeio pela majestosa floresta que o inverno já cobriu de neve. O resto, fica por conta da imaginação dos quatro "traquinas", que a mãe rapidamente deixa de ver.


Com a neve, as árvores e tudo o resto que há pela floresta, encontrá-los a todos não será tarefa fácil para esta mãe. Por isso, toda a ajuda dos leitores mais pequenos para reunir a família será bem- vinda!


Um jogo delicioso, alicerçado nos recortes (em que a autora é mestre) e nos planos com eles alcançados, permite-nos acompanhar a mamã raposa e os seus filhotes, nos esconderijos que vão  inventando, nas partidas que vão pregando e nos deliciosos caminhos que vão percorrendo. Abram as páginas da floresta e encantem-se!


E por falar em jogos, da Bruaá chegou o livro/jogo Céu de Sardas, da autoria de Inês D'Almey e Alicia Baladan. 


São muitas as histórias que se podem cruzar com a história destas duas amigas. A Sofia, que tem muitas pintinhas e a Camila que tem sardas. 


Entre pintas e sardas, o jogo preferido de ambas é andar pela pele uma da outra... a explorar! Enquanto jogam, deparam-se com números, animais, caminhos, paisagens e uma parafernália de histórias que conseguem inventar. Elas e os leitores/jogadores.


As ilustrações e a paleta de cores usada por Alicia Baladan, invocam, de certa forma, alguns jogos da nossa infância.                     


Como já vem sendo hábito, e este Natal não é excepção, a Kalandraka também pensou nos mais pequenos. O eterno e fantástico Janosch chega em forma de puzzle. O êxito junto dos seus fãs é garantido!


Para os amantes desta magnífica colecção das Imagens Que Se Animam Como Que Por Magia, chegou agora a oportunidade de visitarem Paris Em Pijamarama. Oh, que colosso é subir e descer a Torre Eiffel, iluminando-a a preceito!


E porque o Natal sem mestre Eric Carle não seria a mesma coisa, aí estão duas edições cartonadas e de cantos arredondados para encaixarem nas mãos mais pequenas! 


O Senhor Cavalo Marinho e Sonho de Neve parecem ter chegado envoltos em magia!



Sentem-se no vosso cadeirão favorito, bebam um chá quente... e divirtam-se com as crianças!


sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Bom Fim de Semana


Catarina Correia Marques 

A Casa dos Hipopómatos comemora,  este fim de semana, o seu primeiro aniversário! Vamos estar sempre em festa, rodeados de amigos e com muitas actividades. Em permanência, teremos a nossa venda de livros, a preços de festa! São dois dias abertos, em que só têm de aparecer! 


Vai uma rifa, freguês? É o que diz o nosso caixote de livros, pronto a ser sorteado.


Livros, compotas biológicas e biscoitos de gengibre e canela...




Venham, estamos à espera do vosso abraço! Bom Fim de Semana.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Noite Estrelada

Se levantares a cabeça e olhares para a noite estrelada, o mundo torna-se grande, muito grande.


E se olharmos para a noite estrelada com um livro de Jimmy Liao na mão, o mundo agiganta-se, acrescentamos nós. O livro que chega agora a Portugal, mais uma vez pela mão da Kalandraka,  é um fascinante exemplo da beleza e da singularidade poética que caracterizam a obra deste autor. Um presente de Natal que não nos cansamos de agradecer.


É uma história povoada de tristeza, de silêncios, de solidão. Mas também de amor, de determinação, de coragem, de liberdade. Uma história que pode ser de muita gente,  ilustrada com a mestria inigualável de Liao.


A protagonista viveu até aos seis anos com os avós numa montanha. Agora vive na cidade com os pais. Diariamente, ocupa o seu lugar numa casa vazia e silenciosa, apenas habitada por uma mãe ausente e um pai ocupado. As saudades do que tinha antes são grandes e o peso que carrega apenas se torna mais suportável com a chegada de um novo vizinho e colega de escola.


Um dia, a coragem e a vontade de libertação sobrepõem-se a tudo o resto e ambos partem numa viagem que urgia ser vivida. O autor inspirou-se numa notícia  real da fuga de dois jovens, que uma vez encontrados e depois das mútuas acusações das respectivas famílias, afirmaram nada ter feito de mal, limitando-se a usufruir dos lugares que tinham visitado, a praia e a montanha.


O livro é atravessado por temas como a morte, os conflitos conjugais, a incompreensão, o bullyng, a solidão. São assim os livros de Jimmy Liao. Em 2013, a propósito do autor e da sua obra, escrevíamos aqui: Os livros de Jimmy Liao falam de percursos de vida, dos caminhos que se escolhem ou não, da transitoriedade e finitude da vida. De sentimentos, sonhos, medos, perdas... Afinal, coisas simples de todos os dias. 


Confessos admiradores do seu trabalho, referíamos: As personagens que cria não têm nomes, podendo ser qualquer um de nós. As histórias decorrem em lugares que existem em qualquer parte do mundo. As palavras são parcas porque os desenhos de Liao não deixam nada por dizer. Em todos os livros, autênticas novelas gráficas, a arte acontece. Através dela, o autor consegue expressar tudo o que tem para comunicar e partilhar com o mundo.



Liao é mestre em pintar sentimentos ou estados de alma. A solidão, a melancolia ou a esperança transmitem-se ao leitor através de um simples jogo de cores ou de uma sala vazia...


Confessando a influência de mestres como Van Gogh e Magritte, os seus livros são autênticas galerias de arte onde o leitor se perde no reencontro com elementos expressos que identificam a arte destes vultos.  


Jimmylianos de corpo e alma, voltámos a escrever sobre o autor em 2014. Em 2015, reafirmámos a nossa paixão pelos sua obra, um misto de arte e poesia sem destinatário específico. Na altura, falámos de uma história repleta de poesia e com uma forte dimensão onírica. Mas essa é uma constante em toda a obra de Jimmy Liao.


Aos textos curtos e portadores de uma elevada sensibilidade, junta-se a sublime mestria com que pinta sentimentos e "escancara" expressões. Tendo o azul como cor de eleição, as suas aguarelas oferecem-nos, regra geral, pedaços de arte que desejamos guardar na nossa galeria.


Hoje repetimos o que escrevemos aqui em Fevereiro último: As histórias de Liao podem não ser fáceis, mas surgem sempre envoltas num misto de beleza e de poesia, que acaba confrontando o leitor consigo mesmo. A profundidade que transmitem parece viver uma estreita relação com a subtileza com que o autor nos faz chegar sentimentos ou estados de alma de um qualquer personagem. Que, afinal, todos poderíamos encarnar.


Abram as portas e encantem-se com a magia do fantástico mundo de Jimmy Liao! Miúdos e graúdos, porque os destinatários da beleza e da arte não têm idade.