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quinta-feira, 9 de maio de 2024

Debaixo Da Mesma Lua

 






















Debaixo da mesma Lua | Jimmy Liao | Kalandraka

Há onze anos escrevíamos aqui sobre o fantástico mundo de Jimmy Liao. Na altura, referíamos que o autor é "mestre em pintar sentimentos ou estados de alma. A solidão, a melancolia ou a esperança chegam até nós, leitores, através de um simples jogo de cores ou de uma carruagem vazia. O sentido ou dessentido da vida é o fio condutor que nos prende sofregamente a cada livro que descobrimos".

























Neste caso, é em tons azuis e amarelos que Liao presenteia os leitores com mais um livro impregnado de beleza e de poesia. Ainda que a temática seja a guerra, a subtileza e a inteligência com que o autor construiu esta história fascinam leitores de todas as idades. Reafirmamos o que sempre dissemos a propósito dos seus livros: são um misto de arte e de poesia sem destinatário específico. 








































Num cenário quase imutável, um pequeno rapaz contempla a rua através da janela de sua casa. Sabemos que está à espera, mas não sabemos de quem. Pela postura corporal intuímos-lhe a nostalgia, a ansiedade e até uma certa solidão que sempre acompanham o acto de esperar. 
A espera aparenta não ser em vão. A cada virar de página vemos chegar alguns visitantes. Um leão, um elefante, uma grua. Como que em modo premonitório, todos chegam feridos e a casa parece ser uma espécie de abrigo seguro onde procuram ajuda. O pequeno Han não se faz rogado, tratando-lhes as feridas com todo o cuidado possível e de forma afectuosa. Mas, no dia seguinte, volta ao seu posto de vigia como que revelando ao leitor que cada visitante não passa de um acaso. Não era deles que estava à espera.


Neste lugar só a lua que nos revela a passagem do tempo e nos confere uma noção da persistência do pequeno protagonista. Nem o seu gato consegue ombrear com tamanha resistência. Sabemos que não está sozinho em casa. Sempre que recebe um visitante, o pequeno grita para avisar a mãe. Mas o leitor só a conhecerá no final da história. 
























Nunca saberemos quanto tempo passou. Mas a espera é sempre movida a esperança e o surpreendente final que Liao imaginou é revelador disso mesmo. Uma delicada, subtil e fascinante história sobre os infortúnios de uma guerra e de como eles nos podem atingir a todos. A lua é a mesma, mas a cor do céu não é igual para todos. 


quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Muitas e boas! São novidades com chancela Kalandraka

Entre reimpressões e novas edições, são muitas as preciosidades com que a Kalandraka brinda os seus leitores ao longo deste último mês. Elencamos apenas algumas, mas voltaremos a falar de todas.


Luxo! Maurice Sendak chega duas vezes. Estamos Todos na Sarjeta com João e Rui e A Cabra Zlateh e Outras Histórias, sete contos tradicionais judaicos contados por Isaac Bashevis Singer e ilustrados por Sendak, já andam pelas livrarias. Uma fantástica edição dos Contos ao Telefone (70) de Gianni Rodari, magistralmente ilustrada por Pablo Otero. Os mais pequenos são contemplados com mais duas fantásticas histórias de Eric Carle. Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?, o delicioso livro feito em parceria com  Bill Martin Jr. e a inesquecível Joaninha Resmungona que volta em versão cartonada. Virginie Aladjidi e Emmanuelle Tchoukriel, os autores dos Inventários Ilustrados, regressam com um deslumbrante  compêndio sobre a diversidade do planeta. 

 

De volta está também Jimmy Liao. A chegada de mais um dos seus livros (e que livro!)   não nos permite esquecer que até há alguns anos a sua obra era quase desconhecida em Portugal. Ainda hoje, são muitos os que entram pela nossa Casa e se deslumbram, pela primeira vez, com os seus livros. Noite Estrelada e Esconder-se Num Canto do Mundo,  os últimos dois livros do autor editados entre nós, contribuíram grandemente para aumentar  o número de leitores incondicionais de Liao. Mais ou menos conhecedores, todos têm novamente razões para se deleitar. Ainda que chegue com algum atraso,  O Som das Cores é, como os outros, um livro intemporal. 


No ano em que o meu Anjo se despediu de mim à entrada do metro, perdia aos poucos a visão. 
Assim se apresenta ao leitor a jovem protagonista que, na madrugada do seu décimo quinto aniversário, se determina a empreender uma viagem no metro da grande cidade onde vive. Esse é o inicio do livro, mas também o de uma grande viagem onde  imaginação e realidade parecem fundir-se em todos os caminhos que a jovem ousa trilhar.


Não sabemos o nome da personagem ou o lugar onde ela vive, mas ficamos a conhecer a cegueira e a solidão que lhe atravessam a vida. 
Quando a sua obra ainda não existia por cá, escrevemos aqui acerca do Fantástico Mundo de Jimmy Liao, dizendo que ele fala de percursos de vida, dos caminhos que se escolhem ou não, da transitoriedade e finitude da vida. De sentimentos, sonhos, medos, perdas... As personagens que cria não têm nomes, podendo ser qualquer um de nós. As histórias decorrem em lugares que existem em qualquer parte do mundo.


Sozinha no meio de multidões, a rapariga deambula por entre várias carruagens e estações. São muitos os perigos que se podem cruzar com quem não vê e muitas as metáforas visuais que Liao utiliza para os transmitir aos leitores. A dimensão dos perigos é evidenciada pelas proporções gigantescas do que vai surgindo, mas também pelas ausências... A partir de agora, o caminho faz-se a dois tempos. O das memórias e o da imaginação. A viagem é, acima de tudo, interior.


Sonho e realidade são os guias que a conduzem a lugares onde os cheiros e os sons são pintados de todas as cores. O pomar de onde espera que as maçãs sejam tão vermelhas quanto as cerejas, as costas da baleia de onde pode contemplar um céu azul de que já não se lembra... 
Ao entardecer, quem me irá recitar um poema junto à janela? E quando a alegre multidão se for, quem virá aquecer o meu quarto vazio?
Como em todas as histórias de Liao, a par da solidão e da tristeza, a força, a coragem e a liberdade coexistem nos caminhos que traça.
A tristeza de ontem já está esquecida. Tudo o que pode ser esquecido é insignificante.


A cada saída de estação, existe um turbilhão de desafios à sua espera. Um olhar mais atento leva-nos a concluir que Liao não a deixou sozinha. No meio de um mundo de gigantescos perigos, uma pequena criatura parece ter sido ali colocada para, a uma distância segura, zelar por ela. A cada página, tentamos descobri-la. Porque tememos pelo desfecho desta história inacabada.
Liao é mestre em pintar sentimentos ou estados de alma. A solidão, a melancolia ou a esperança chegam até nós, leitores, através de um simples jogo de cores ou de uma carruagem vazia. O sentido ou dessentido da vida é o fio condutor que prende, sofregamente, miúdos e graúdos a cada um dos seus livros. 


Jimmylianos de corpo e alma, reafirmamos a nossa paixão pelos sua obra repleta de poesia, de uma estonteante beleza e com uma forte dimensão onírica. O Som das Cores é dedicado a todos os poetas, termina com palavras de Rainer Maria Rilkee e, à semelhança de Desencontros,  começa com as de Wislawa Szymborska, a polaca vencedora do Prémio Nobel em 1996.

É uma grande fortuna
não sabermos com precisão
em que mundo vivemos.


domingo, 3 de dezembro de 2017

3. Esconder-se num canto do mundo



Pelo segundo ano consecutivo, a editora Kalandraka brinda-nos com um livro de Jimmy Liao na altura do Natal. Há cerca de um ano, chegou a maravilhosa Noite Estrelada, de que falámos aqui. Desta feita, o eleito é Esconder-se Num Canto Do Mundo. Jimmy Liao é uma paixão antiga. Sobre ele e a sua obra já aqui escrevemos várias vezes. E não hesitamos em afirmar que, nos pedacinhos da vida  em que nos apetece esconder, o faríamos de bom grado num canto de qualquer um dos livros do autor.


Está bem! Está bem!
Não estou a dizer que não gosto desta família!
E também não estou a dizer que vos odeio, malta!
É que às vezes gostava que me deixassem em paz...

O monólogo deste pequeno rapaz, convicto de que, diga o que disser, não vão acreditar nele,  é o ponto de partida para mais uma singular história, onde identificamos problemas comuns ao crescimento, à descoberta de si mesmo e do mundo. A incompreensão, a solidão, a busca de um porto seguro... 


Não vos vou abandonar, mas também tenho coisas para fazer! Não sou nenhuma ave rara, e há muita gente assim.
E é isto: gostávamos todos de nos esconder num canto do mundo!



O canto existe. Povoado pelo silêncio. 
É como numa biblioteca. Não podes importunar ninguém sempre que te apetecer. E também não deves ficar curioso com o que os outros fazem ou como livro que estão a ler. Relaxa, sê tu próprio e sê feliz. 


No canto do mundo, deve esquecer-se o tempo. É um lugar onde há sempre uma segunda oportunidade para os erros. Onde cada árvore abriga temporariamente uma criança que não está em sintonia com o mundo. No canto do mundo, porto de abrigo para corações feridos, todas as crianças têm o poder de transformar as derrotas em vitórias. 



As soberbas ilustrações de Liao, essas, deslumbram  leitores de todas as idades. O seu universo onírico, pintado a aguarela, revela sentimentos e estados de alma de forma ímpar. A solidão, a melancolia, a esperança, a beleza, a tristeza... percorrem toda a sua obra. 


Um dos nossos livros de 2017. Escondam-se. Aqui!

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Noite Estrelada

Se levantares a cabeça e olhares para a noite estrelada, o mundo torna-se grande, muito grande.


E se olharmos para a noite estrelada com um livro de Jimmy Liao na mão, o mundo agiganta-se, acrescentamos nós. O livro que chega agora a Portugal, mais uma vez pela mão da Kalandraka,  é um fascinante exemplo da beleza e da singularidade poética que caracterizam a obra deste autor. Um presente de Natal que não nos cansamos de agradecer.


É uma história povoada de tristeza, de silêncios, de solidão. Mas também de amor, de determinação, de coragem, de liberdade. Uma história que pode ser de muita gente,  ilustrada com a mestria inigualável de Liao.


A protagonista viveu até aos seis anos com os avós numa montanha. Agora vive na cidade com os pais. Diariamente, ocupa o seu lugar numa casa vazia e silenciosa, apenas habitada por uma mãe ausente e um pai ocupado. As saudades do que tinha antes são grandes e o peso que carrega apenas se torna mais suportável com a chegada de um novo vizinho e colega de escola.


Um dia, a coragem e a vontade de libertação sobrepõem-se a tudo o resto e ambos partem numa viagem que urgia ser vivida. O autor inspirou-se numa notícia  real da fuga de dois jovens, que uma vez encontrados e depois das mútuas acusações das respectivas famílias, afirmaram nada ter feito de mal, limitando-se a usufruir dos lugares que tinham visitado, a praia e a montanha.


O livro é atravessado por temas como a morte, os conflitos conjugais, a incompreensão, o bullyng, a solidão. São assim os livros de Jimmy Liao. Em 2013, a propósito do autor e da sua obra, escrevíamos aqui: Os livros de Jimmy Liao falam de percursos de vida, dos caminhos que se escolhem ou não, da transitoriedade e finitude da vida. De sentimentos, sonhos, medos, perdas... Afinal, coisas simples de todos os dias. 


Confessos admiradores do seu trabalho, referíamos: As personagens que cria não têm nomes, podendo ser qualquer um de nós. As histórias decorrem em lugares que existem em qualquer parte do mundo. As palavras são parcas porque os desenhos de Liao não deixam nada por dizer. Em todos os livros, autênticas novelas gráficas, a arte acontece. Através dela, o autor consegue expressar tudo o que tem para comunicar e partilhar com o mundo.



Liao é mestre em pintar sentimentos ou estados de alma. A solidão, a melancolia ou a esperança transmitem-se ao leitor através de um simples jogo de cores ou de uma sala vazia...


Confessando a influência de mestres como Van Gogh e Magritte, os seus livros são autênticas galerias de arte onde o leitor se perde no reencontro com elementos expressos que identificam a arte destes vultos.  


Jimmylianos de corpo e alma, voltámos a escrever sobre o autor em 2014. Em 2015, reafirmámos a nossa paixão pelos sua obra, um misto de arte e poesia sem destinatário específico. Na altura, falámos de uma história repleta de poesia e com uma forte dimensão onírica. Mas essa é uma constante em toda a obra de Jimmy Liao.


Aos textos curtos e portadores de uma elevada sensibilidade, junta-se a sublime mestria com que pinta sentimentos e "escancara" expressões. Tendo o azul como cor de eleição, as suas aguarelas oferecem-nos, regra geral, pedaços de arte que desejamos guardar na nossa galeria.


Hoje repetimos o que escrevemos aqui em Fevereiro último: As histórias de Liao podem não ser fáceis, mas surgem sempre envoltas num misto de beleza e de poesia, que acaba confrontando o leitor consigo mesmo. A profundidade que transmitem parece viver uma estreita relação com a subtileza com que o autor nos faz chegar sentimentos ou estados de alma de um qualquer personagem. Que, afinal, todos poderíamos encarnar.


Abram as portas e encantem-se com a magia do fantástico mundo de Jimmy Liao! Miúdos e graúdos, porque os destinatários da beleza e da arte não têm idade.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O Peixe Que Sorria



Um misto de arte e poesia sem destinatário específico. São assim os livros de Jimmy Liao. Escrevemo-lo aqui, em 2013, quando o autor ainda não estava editado entre nós. Voltámos a falar dos seus livros aqui, a propósito do Dia Mundial da Criança. 


Seguidores incondicionais do fantástico mundo de Jimmy Liao, regozijámos-nos com o encontro entre autor e Kalandraka, a editora que o trouxe até nós em 2014.  Desencontros marcou a estreia, seguindo-se-lhe Segredos na Floresta.


Recentemente chegou O Peixe que Sorria, a história de um homem que se deixa cativar por um peixe que parecia sorrir-lhe incondicionalmente.  De dia ou de noite, fizesse sol ou chuva. 


O homem não resiste, claro, e acaba por levar o peixe para casa. Essa é a viagem que dá inicio a uma outra, uma viagem de muitos regressos.


As histórias de Liao  podem não ser fáceis, mas surgem sempre envoltas num misto de beleza e de poesia, que acaba confrontando o leitor consigo mesmo. A profundidade que transmitem parece viver uma estreita relação com a subtileza com que o autor nos faz chegar sentimentos ou estados de alma de um qualquer personagem. Que, afinal, todos poderíamos encarnar.



Aos textos curtos e portadores de uma elevada sensibilidade,  junta-se a sublime mestria com que pinta sentimentos e "escancara" expressões. Tendo o azul como cor de eleição, as suas aguarelas oferecem-nos, regra geral, pedaços de arte que desejamos guardar na nossa galeria. 

Uma história sobre solidão, tristeza, amizade, nostalgia... Acima de tudo, sobre liberdade e respeito pelo outro. Enigmática? Uma história (para todos) que faz o seu percurso entre o sonho e a realidade. Como todas as histórias de Jimmy Liao. Abram o livro e sonhem! 

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Segredos na Floresta. O Regresso de Jimmy Liao


Há dois anos, escrevemos aqui sobre o fantástico mundo de Jimmy Liao. Confessámos a nossa paixão pelos sua obra, um misto de arte e poesia  sem destinatário específico. Os  seus livros falam de percursos, dos caminhos que se escolhem ou não, da transitoriedade e finitude da vida. De sentimentos, sonhos, medos, perdas... Ao mesmo tempo, interrogávamo-nos até quando durariam os desencontros entre o autor e as nossas editoras. Antes, já tínhamos mostrado um pouco do seu trabalho aqui.


Há um ano, festejámos a sua chegada, quando a Kalandraka nos trouxe o magnífico  Desencontros. A aposta da editora é para continuar, sendo expectável e desejável que a obra deste premiado autor se possa tornar conhecida dos leitores portugueses. O segundo livro, Segredos na Floresta, já anda pelas livrarias.


Hoje, falamos de segredos e de sonhos, acompanhando a pequena e solitária protagonista  da história. Com ela, abrimos a porta da floresta que esconde os seus segredos. O seu guia, um coelho gigante, é também o nosso guia.


A evocação de Alice e do seu mundo apodera-se do leitor nesta incursão pelo país dos sonhos.  Mas a ela se sobrepõe a maravilhosa revisitação  ao imaginário infantil, proposta por Liao, num tempo onde se esquecem segredos escondidos na floresta e onde a porta para o mundo dos sonhos está sempre ao alcance da mão.


A floresta, povoada de coelhos, revela-se um lugar mágico. Os medos da pequena protagonista, intuídos pelo leitor, cedem lugar à aventura e ao divertimento de todos. Aqui, abrem-se portas no céu, atravessam-se as nuvens e cavalga-se o vento. Os sonhos perdidos voltam a encontrar-se e é possível brincar com eles. 


Uma história repleta de poesia e com uma forte dimensão onírica, constantes, aliás, em toda a obra de Jimmy Liao. Segredos na Floresta foi o seu primeiro livro. Contrariando a  grande maioria do seu trabalho,  onde a cor assume papel de relevo,  este é um livro a preto e branco,  pincelado de cinzas e azuis. Mas nem por isso, menos fascinante. 


O despertar parece marcado pelo  silencioso afastamento do coelho gigante. Com a  realidade retorna a solidão.  As cidades sem sonhos são lugares tristes. Dando continuidade à partilha do seu universo interior e expondo o quanto é importante para si o sonho, é a pequena que informa o leitor: "Acho que vou sonhar outra vez". A enigmática inversão de alguns detalhes surpreenderá tanto o leitor infantil como o adulto.


Numa feliz opção, a Kalandraka optou por um livro de formato pequeno e capa mole para dar guarida aos segredos e aos sonhos. Os mesmos que nos levam de volta à  infância e à fantasia dos sonhos que um dia, também escondemos e esquecemos na floresta. Porque as cidades sem sonhos são lugares tristes para as crianças e para os adultos.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Desencontros


Se há chegadas que não podem deixar de ser festejadas, a de Jimmy Liao é uma delas. Há muito que nos perguntávamos como era possível que os seus livros não fossem editados entre nós. Há cerca de um ano escrevemos:  Porque somos seguidores incondicionais do fantástico mundo de Jimmy Liao perguntamo-nos amiúde até quando durarão os desencuentros entre o autor e as nossas editoras.

Desencontros,  agora editado pela Kalandraka, marca a estreia de Jimmy Liao entre nós.  Do livro e do autor falámos aqui e também aqui. Já aguardamos os próximos!


quarta-feira, 5 de junho de 2013

O Fantástico Mundo de Jimmy Liao


Jimmy Liao é um nome incontornável no universo dos Picture Books. Os seus livros são um misto de arte e poesia sem destinatário específico. Há mesmo quem considere que o maior mérito da sua obra é o de ter conseguido transpor para o mundo dos adultos um género quase exclusivamente conotado com o público infanto-juvenil.


Os livros de Jimmy Liao falam de percursos de vida, dos caminhos que se escolhem ou não, da transitoriedade e finitude da vida. De sentimentos, sonhos, medos, perdas... Afinal, coisas simples de todos os dias. 


As personagens que cria não têm nomes, podendo ser qualquer um de nós.  As histórias decorrem em lugares que existem em qualquer parte do mundo. As palavras são parcas porque os desenhos de Liao não deixam nada por dizer. Em todos os livros, autênticas novelas gráficas, a arte acontece.  Através dela, o autor consegue expressar tudo o que tem para comunicar e partilhar com o mundo.


Liao é mestre em pintar sentimentos ou estados de alma.  A solidão, a melancolia ou a esperança chegam até nós, leitores, através de um simples jogo de cores ou de uma carruagem vazia. O sentido ou dessentido da vida é o fio condutor que nos prende sofregamente a cada livro que descobrimos.


Jimmy Liao licenciou-se em  Belas Artes e durante mais de uma década trabalhou em publicidade. Aos quarenta anos, depois de ter sofrido de uma leucemia,  escolheu  um novo caminho e passou a dedicar-se em exclusivo à escrita e ilustração das suas histórias. Histórias de vida, que, como tal, podem e devem ser lidas por crianças, jovens e adultos. A sua vasta obra encontra-se traduzida em vários idiomas, nomeadamente,  inglês, francês, alemão e espanhol. Alguns dos seus livros têm sido adaptados ao cinema. 


Hoje escolhemos Desencuentros, editado na vizinha Espanha pela editora Barbara Fiore (com vários livros publicados do autor) e cujo título em inglês é Turn Left Turn Right.




Desencuentros relata a história de dois jovens vizinhos que vivem lado a lado numa grande cidade, mas que nunca se encontram. Nos seus percursos de todos os dias, um vira invariavelmente à  esquerda e o outro à direita. Como acontece com tanta outra gente que, vivendo no meio de ruidosas multidões com que se misturam todos os dias, se sente sozinha.


Um dia, a magia e o amor acontecem. Os dois jovens encontram-se e as suas vidas recuperam a luminosidade que a melancólica rotina lhes havia roubado. Parecem conhecer-se desde sempre, vivem momentos únicos e trocam números de telefone. Através do detalhe e da minúcia das ilustrações, os leitores vão-se  familiarizando com os protagonistas, os seus hábitos de vida, os seus gostos, os seus sonhos. Mas também com as suas angústias e tristezas!


A indicação dos dias e meses precede, em regra, cada ilustração. Bem como a menção das condições atmosféricas, numa expressa correlação com o estado de espírito dos dois jovens. E é o tempo que volta a separá-los, quando a chuva torrencial transforma os números de telefone em meros borrões de tinta.


A segunda parte do livre é uma busca incessante de um pelo outro, o regresso aos mesmos sítios onde se tinham encontrado, agora já transformados em cenários tristes e inóspitos.   O leitor vai acompanhando o  desencontro permanente de dois seres que, vivendo lado a lado,  continuam a virar  um, à direita e o outro, à esquerda.  



O final do livro? Os finais das histórias de Jimmy Liao não são, por regra, felizes. Tudo se passa como, afinal, na vida. São capazes de nos fazer reflectir. A nós,  às crianças e jovens que sejam contemplados com a sorte de os ler.



Os seus livros estão impregnados de poesia.  Desencuentros começa com um poema de Wislawa Szymborska, a polaca vencedora do Prémio Nobel em 1996.


A intertextualidade é outra das caracteríticas da obra de Liao. Para além de múltiplas referências à cultura oriental, encontramos permanentes pontes que nos transportam até Van Gogh, Matisse ou Magritte, a outras histórias e ilustradores.



Porque somos seguidores incondicionais do fantástico mundo de Jimmy Liao perguntamo-nos amiúde até quando durarão os desencuentros entre o autor e as nossas editoras.