quarta-feira, 5 de junho de 2013

O Fantástico Mundo de Jimmy Liao


Jimmy Liao é um nome incontornável no universo dos Picture Books. Os seus livros são um misto de arte e poesia sem destinatário específico. Há mesmo quem considere que o maior mérito da sua obra é o de ter conseguido transpor para o mundo dos adultos um género quase exclusivamente conotado com o público infanto-juvenil.


Os livros de Jimmy Liao falam de percursos de vida, dos caminhos que se escolhem ou não, da transitoriedade e finitude da vida. De sentimentos, sonhos, medos, perdas... Afinal, coisas simples de todos os dias. 


As personagens que cria não têm nomes, podendo ser qualquer um de nós.  As histórias decorrem em lugares que existem em qualquer parte do mundo. As palavras são parcas porque os desenhos de Liao não deixam nada por dizer. Em todos os livros, autênticas novelas gráficas, a arte acontece.  Através dela, o autor consegue expressar tudo o que tem para comunicar e partilhar com o mundo.


Liao é mestre em pintar sentimentos ou estados de alma.  A solidão, a melancolia ou a esperança chegam até nós, leitores, através de um simples jogo de cores ou de uma carruagem vazia. O sentido ou dessentido da vida é o fio condutor que nos prende sofregamente a cada livro que descobrimos.


Jimmy Liao licenciou-se em  Belas Artes e durante mais de uma década trabalhou em publicidade. Aos quarenta anos, depois de ter sofrido de uma leucemia,  escolheu  um novo caminho e passou a dedicar-se em exclusivo à escrita e ilustração das suas histórias. Histórias de vida, que, como tal, podem e devem ser lidas por crianças, jovens e adultos. A sua vasta obra encontra-se traduzida em vários idiomas, nomeadamente,  inglês, francês, alemão e espanhol. Alguns dos seus livros têm sido adaptados ao cinema. 


Hoje escolhemos Desencuentros, editado na vizinha Espanha pela editora Barbara Fiore (com vários livros publicados do autor) e cujo título em inglês é Turn Left Turn Right.




Desencuentros relata a história de dois jovens vizinhos que vivem lado a lado numa grande cidade, mas que nunca se encontram. Nos seus percursos de todos os dias, um vira invariavelmente à  esquerda e o outro à direita. Como acontece com tanta outra gente que, vivendo no meio de ruidosas multidões com que se misturam todos os dias, se sente sozinha.


Um dia, a magia e o amor acontecem. Os dois jovens encontram-se e as suas vidas recuperam a luminosidade que a melancólica rotina lhes havia roubado. Parecem conhecer-se desde sempre, vivem momentos únicos e trocam números de telefone. Através do detalhe e da minúcia das ilustrações, os leitores vão-se  familiarizando com os protagonistas, os seus hábitos de vida, os seus gostos, os seus sonhos. Mas também com as suas angústias e tristezas!


A indicação dos dias e meses precede, em regra, cada ilustração. Bem como a menção das condições atmosféricas, numa expressa correlação com o estado de espírito dos dois jovens. E é o tempo que volta a separá-los, quando a chuva torrencial transforma os números de telefone em meros borrões de tinta.


A segunda parte do livre é uma busca incessante de um pelo outro, o regresso aos mesmos sítios onde se tinham encontrado, agora já transformados em cenários tristes e inóspitos.   O leitor vai acompanhando o  desencontro permanente de dois seres que, vivendo lado a lado,  continuam a virar  um, à direita e o outro, à esquerda.  



O final do livro? Os finais das histórias de Jimmy Liao não são, por regra, felizes. Tudo se passa como, afinal, na vida. São capazes de nos fazer reflectir. A nós,  às crianças e jovens que sejam contemplados com a sorte de os ler.



Os seus livros estão impregnados de poesia.  Desencuentros começa com um poema de Wislawa Szymborska, a polaca vencedora do Prémio Nobel em 1996.


A intertextualidade é outra das caracteríticas da obra de Liao. Para além de múltiplas referências à cultura oriental, encontramos permanentes pontes que nos transportam até Van Gogh, Matisse ou Magritte, a outras histórias e ilustradores.



Porque somos seguidores incondicionais do fantástico mundo de Jimmy Liao perguntamo-nos amiúde até quando durarão os desencuentros entre o autor e as nossas editoras.

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