Há dois anos, escrevemos aqui sobre o fantástico mundo de Jimmy Liao. Confessámos a nossa paixão pelos sua obra, um misto de arte e poesia sem destinatário específico. Os seus livros falam de percursos, dos caminhos que se escolhem ou não, da transitoriedade e finitude da vida. De sentimentos, sonhos, medos, perdas... Ao mesmo tempo, interrogávamo-nos até quando durariam os desencontros entre o autor e as nossas editoras. Antes, já tínhamos mostrado um pouco do seu trabalho aqui.
Há um ano, festejámos a sua chegada, quando a Kalandraka nos trouxe o magnífico Desencontros. A aposta da editora é para continuar, sendo expectável e desejável que a obra deste premiado autor se possa tornar conhecida dos leitores portugueses. O segundo livro, Segredos na Floresta, já anda pelas livrarias.
Hoje, falamos de segredos e de sonhos, acompanhando a pequena e solitária protagonista da história. Com ela, abrimos a porta da floresta que esconde os seus segredos. O seu guia, um coelho gigante, é também o nosso guia.
A evocação de Alice e do seu mundo apodera-se do leitor nesta incursão pelo país dos sonhos. Mas a ela se sobrepõe a maravilhosa revisitação ao imaginário infantil, proposta por Liao, num tempo onde se esquecem segredos escondidos na floresta e onde a porta para o mundo dos sonhos está sempre ao alcance da mão.
A floresta, povoada de coelhos, revela-se um lugar mágico. Os medos da pequena protagonista, intuídos pelo leitor, cedem lugar à aventura e ao divertimento de todos. Aqui, abrem-se portas no céu, atravessam-se as nuvens e cavalga-se o vento. Os sonhos perdidos voltam a encontrar-se e é possível brincar com eles.
Uma história repleta de poesia e com uma forte dimensão onírica, constantes, aliás, em toda a obra de Jimmy Liao. Segredos na Floresta foi o seu primeiro livro. Contrariando a grande maioria do seu trabalho, onde a cor assume papel de relevo, este é um livro a preto e branco, pincelado de cinzas e azuis. Mas nem por isso, menos fascinante.
O despertar parece marcado pelo silencioso afastamento do coelho gigante. Com a realidade retorna a solidão. As cidades sem sonhos são lugares tristes. Dando continuidade à partilha do seu universo interior e expondo o quanto é importante para si o sonho, é a pequena que informa o leitor: "Acho que vou sonhar outra vez". A enigmática inversão de alguns detalhes surpreenderá tanto o leitor infantil como o adulto.
Numa feliz opção, a Kalandraka optou por um livro de formato pequeno e capa mole para dar guarida aos segredos e aos sonhos. Os mesmos que nos levam de volta à infância e à fantasia dos sonhos que um dia, também escondemos e esquecemos na floresta. Porque as cidades sem sonhos são lugares tristes para as crianças e para os adultos.
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