E se olharmos para a noite estrelada com um livro de Jimmy Liao na mão, o mundo agiganta-se, acrescentamos nós. O livro que chega agora a Portugal, mais uma vez pela mão da Kalandraka, é um fascinante exemplo da beleza e da singularidade poética que caracterizam a obra deste autor. Um presente de Natal que não nos cansamos de agradecer.
É uma história povoada de tristeza, de silêncios, de solidão. Mas também de amor, de determinação, de coragem, de liberdade. Uma história que pode ser de muita gente, ilustrada com a mestria inigualável de Liao.
A protagonista viveu até aos seis anos com os avós numa montanha. Agora vive na cidade com os pais. Diariamente, ocupa o seu lugar numa casa vazia e silenciosa, apenas habitada por uma mãe ausente e um pai ocupado. As saudades do que tinha antes são grandes e o peso que carrega apenas se torna mais suportável com a chegada de um novo vizinho e colega de escola.
Um dia, a coragem e a vontade de libertação sobrepõem-se a tudo o resto e ambos partem numa viagem que urgia ser vivida. O autor inspirou-se numa notícia real da fuga de dois jovens, que uma vez encontrados e depois das mútuas acusações das respectivas famílias, afirmaram nada ter feito de mal, limitando-se a usufruir dos lugares que tinham visitado, a praia e a montanha.
O livro é atravessado por temas como a morte, os conflitos conjugais, a incompreensão, o bullyng, a solidão. São assim os livros de Jimmy Liao. Em 2013, a propósito do autor e da sua obra, escrevíamos aqui: Os livros de Jimmy Liao falam de percursos de vida, dos caminhos que se escolhem ou não, da transitoriedade e finitude da vida. De sentimentos, sonhos, medos, perdas... Afinal, coisas simples de todos os dias.
Confessos admiradores do seu trabalho, referíamos: As personagens que cria não têm nomes, podendo ser qualquer um de nós. As histórias decorrem em lugares que existem em qualquer parte do mundo. As palavras são parcas porque os desenhos de Liao não deixam nada por dizer. Em todos os livros, autênticas novelas gráficas, a arte acontece. Através dela, o autor consegue expressar tudo o que tem para comunicar e partilhar com o mundo.
Liao é mestre em pintar sentimentos ou estados de alma. A solidão, a melancolia ou a esperança transmitem-se ao leitor através de um simples jogo de cores ou de uma sala vazia...
Confessando a influência de mestres como Van Gogh e Magritte, os seus livros são autênticas galerias de arte onde o leitor se perde no reencontro com elementos expressos que identificam a arte destes vultos.
Jimmylianos de corpo e alma, voltámos a escrever sobre o autor em 2014. Em 2015, reafirmámos a nossa paixão pelos sua obra, um misto de arte e poesia sem destinatário específico. Na altura, falámos de uma história repleta de poesia e com uma forte dimensão onírica. Mas essa é uma constante em toda a obra de Jimmy Liao.
Aos textos curtos e portadores de uma elevada sensibilidade, junta-se a sublime mestria com que pinta sentimentos e "escancara" expressões. Tendo o azul como cor de eleição, as suas aguarelas oferecem-nos, regra geral, pedaços de arte que desejamos guardar na nossa galeria.
Hoje repetimos o que escrevemos aqui em Fevereiro último: As histórias de Liao podem não ser fáceis, mas surgem sempre envoltas num misto de beleza e de poesia, que acaba confrontando o leitor consigo mesmo. A profundidade que transmitem parece viver uma estreita relação com a subtileza com que o autor nos faz chegar sentimentos ou estados de alma de um qualquer personagem. Que, afinal, todos poderíamos encarnar.
Abram as portas e encantem-se com a magia do fantástico mundo de Jimmy Liao! Miúdos e graúdos, porque os destinatários da beleza e da arte não têm idade.
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