Susa Monteiro |
Este fim de semana, a Casa dos Hipopómatos celebra o seu 8º aniversário. Sábado e domingo, das 11 às 19H, estaremos à vossa espera. Sempre em festa!
As Casas das Coisas | João Pedro Mésseder e Rachel Caiano | Caminho
Apresenta-se como um livro de prosas pequeninas que desafia a pensar, e onde a diversão e a poesia dão as mãos. À primeira vista, parece pensado para gente pequena. Mas o leitor conhecedor dos seis livros desta série sabe que não é assim. A escrita méssederiana não tem idade. Já aqui escrevemos, a propósito do autor, que a sua escrita intensa e plena de sentidos é um ponto de encontro entre pequenos e grandes leitores.
Talvez por falarem de coisas de todos os dias, os pequenos livros desta série albergam o leitor vagarosa e prazenteiramente, impelindo-o a pensar. Sobre as coisas, sobre a vida. Afinal, esse é o objectivo do autor . As metáforas povoam-lhe o universo, apresentando-se envoltas em subtileza. Assim como algumas das casas que encontra para as coisas.
A casa da luz eléctrica será a escuridão?
E a areia sem-abrigo terá ela casa?
Os livros possuem segunda habitação, de férias?
A delicadeza das ilustrações de Caiano, parceira em todos os livros da série iniciada em 2012, guia-nos por todas estas casas por onde vamos entrando. Com o traço genuíno e puro a que já nos habituou, as páginas vão revelando uma imensa cumplicidade entre imagens e texto. Uma harmonia que respira liberdade. À semelhança do vento que é casa para o cavalo.
Quando é que a bruxa má perde a casa? Será, sem dúvida, uma questão que os mais pequenos gostarão de deslindar. Tal como as casas da Lua, da chuva, dos pássaros... Enquanto isso, nós, leitores mais velhos, vagueamos por este universo, reflectindo sobre outras casas. Como a triste casa do Pai Natal ou a casa que a areia sem-abrigo não tem. Até porque quando iniciámos a viagem, a pergunta já nos ocupava a cabeça : Haverá coisa ou pessoa que não precise de casa, casinha ou casarão?
Obrigado, avó Omu! | Oge Mora | Fábula
A generosidade, o espírito de partilha e a gratidão são os pilares desta história construída pela autora como uma homenagem à sua avó. Vencedor, entre outros prémios, da Caldecott Medal, o livro encerra uma deliciosa e bela abordagem da vida em comunidade, da proximidade com os outros e do altruísmo. Mora já nos tinha encantado com Sábado, um livro de que falámos aqui.
A figura da avó que cozinha um guisado vermelho, convicta de que vai ter o melhor jantar de sempre, os traços de bondade evidenciados no rosto, a panela de enormes proporções e o livro que vai lendo enquanto a comida se apura prendem o leitor no inicio do livro, não o libertando mais. É com água na boca que seguimos o magnífico aroma que ultrapassa o espaço circunscrito da casa, invade todo o bairro e não deixa ninguém indiferente.
Talvez por isso, o leitor não se surpreenda quando um pequeno garoto bate à porta indagando sobre tão delicioso cheiro, MMMMM. Com uma panela de tão grandes dimensões, a avó Omu não teve dúvidas em partilhar com o pequeno o seu guisado. Com ele e com todos os que lhe viriam bater à porta. Claro que só mesmo uma criança poderia desbravar este caminho, sucedendo-lhe, entre outros, uma polícia, um vendedor de cachorros-quentes, um lojista, um taxista, um médico, uma atriz, um advogado, uma bailarina, uma pasteleira, uma artista, um atleta, e até a presidente da câmara! Com todos, Omu partilhou o seu delicioso guisado vermelho.
Com uma estrutura repetitiva, a autora deixa que o leitor antecipe o que lhe pode trazer a página seguinte, mas aguça-lhe a vontade de, sempre que batem, abrir a porta de casa da avó e conhecer cada uma das personagens que se atreveu a seguir o delicioso aroma. E esta inteligente proximidade que cria com os leitores, colocando-os dentro de casa da avó, faz-se tanto com o texto como com as deliciosas ilustrações. A técnica da colagem predomina no universo de Mora e tal como em Sábado, o recurso a papéis padronizados, texturas e a recortes de livros antigos atravessam todo o livro. O mesmo acontecendo com a diversidade racial e cultural, uma marca nos seus livros.
Depois de tanto a ver partilhar, e quando o corrupio de gente à porta termina, o leitor não consegue deixar de sentir a tristeza desta avó, que é também já sua, quando ela percebe que na grande panela não sobeja nada. Fazemos nossa a desilusão estampada no rosto de Omu por já não ter nada para comer daquele que iria ser o seu melhor jantar de sempre. Mas, mais uma vez, o leitor quer ficar lá por casa e festejar o grande e gratificante final que Mora encontrou para a sua história. A avó Omu teve o melhor jantar da sua vida e nós, leitores, um livro para saborear e cheirar muitas vezes.
Todos e Cada Um de Nós | Liisa Kallio | Lilliput
A temática é recorrente e necessária. Vivemos um tempo em que urge conversar com os mais novos sobre a forma como ocupamos o nosso lugar no mundo e como nos relacionamos com os outros. O respeito pela diversidade será sempre tema inacabado.
Depois de termos vivido uma pandemia e de assistirmos ao escalar de duas guerras, contar o mundo aos mais pequenos é, hoje, mais complexo. Mostrar-lhes que todos contamos, todos somos importantes e podemos fazer a diferença é outra história. E essa pode ser bem contada. De forma simples e genuína, é o que faz esta autora finlandesa. Kallio oferece-nos um livro com uma paleta suave e desenhos feitos, predominantemente, com lápis de cor. Os mais pequenos conseguirão, sem esforço, identificar-se com as personagens que assomam a cada página, com os seus gostos e comportamentos.
Uns gostam de balouçar, outros de jogar à bola, outros de dançar... Há quem goste de ler livros, há quem goste de se espreguiçar. Somos todos diferentes. E cada um de nós é único. Todos experienciamos os mesmos sentimentos e estados de alma. Umas vezes estamos felizes, outras tristes. Às vezes zangamo-nos, outras fazemos as pazes. Todos temos medos e, em determinados momentos, todos somos corajosos. Afinal, somos todos parecidos.
A conclusão é óbvia, mas nem por isso pacífica. Somos todos seres a viver no planeta terra, debaixo do mesmo sol e da mesma lua. Todos contamos. Pequeninos, médios e grandes. Acreditamos que crescer com estas histórias, aprendendo a respeitar e a aceitar a diversidade, seja um importante contributo para que possamos ter um mundo mais justo, com lugar para todos e onde a única coisa que se queira matar seja a guerra. Todos (contamos) e cada um de nós (é importante).
Um livro pode ser muita coisa. Tanta coisa! Por exemplo, uma casa. É quando temos vontade de habitá-lo uma e outra vez. Queremos explorar cada compartimento até sentirmos que conhecemos os “cantos à casa”. Ou não. Porque, às vezes, o desafio é tão grande que por mais voltas que demos lá dentro, fica a certeza de restar sempre alguma coisa por descobrir. Então voltamos.
Por exemplo, uma Rosa é um desses livros. Dezenas de objetos, de formas e de palavras povoam as páginas como se o mundo ali coubesse. Coisas, animais, plantas, astros, tudo o que se vê e não se vê. São-nos familiares. Há uma consonância perfeita entre palavras e imagens, ambas distendidas pelas duplas páginas como se de um “open space” se tratasse. E depois chegamos a essa dupla em branco apenas preenchida com palavras. Todas distintas entre si. Porquê estas, perguntará o leitor. O desafio já está lançado, mesmo que ainda não se tenha apercebido.
O pensamento já se passeia por ali, ávido de discernir o que o livro pode querer de si. Mas este não dá tréguas. Há toda uma parafernália de coisas nas páginas que estão por abrir. As que giram e rodam, as que abrem e fecham, as que vão e vêm. Também há as que picam e cortam, mas dessas ficamos a saber que a autora não gosta delas. Qual o sentido de tudo isto, continuará o leitor a interrogar-se.
Entre coisas que voam e coisas que caem todas têm um nome. As que se veem e as que não se veem, as que existem, as que já pertencem a um tempo passado, as que ainda estão por vir. Há aquelas em que podemos pegar, outras que só imaginamos, as que podemos observar, as que podemos cheirar...
Mas qual o sentido destas coisas? Por exemplo, uma rosa. A palavra rosa é uma rosa? E se fizermos um desenho de uma, o desenho é uma rosa? Podemos oferecer a palavra rosa? E quantas pessoas com o nome Rosa conheces? Sim, as palavras designam as coisas. Mesmo as que não conseguimos ver. Por exemplo, o teu pensamento enquanto vives dentro deste livro.
Há muitas coisas diferentes com o mesmo nome. Por exemplo, cão. Sabes quantos tipos de cães existem? E também já reflectiste sobre o tamanho das palavras? Há de todos os tamanhos. Até há palavras pequenas que designam coisas grandes e palavras grandes que são nomes de coisas pequenas.. Já pensaste nisto tudo? Sim, é desafiante. Tão desafiante quanto dizerem-te que podes ser tu, leitor, a escolher um fim para este livro. Sabendo, de antemão, que esse fim não é o fim.
A chegada desta família merece ser festejada! O livro remonta aos anos 60, mas é intemporal. A capa transporta-nos para um tempo que sabemos não ser o nosso, criando desde logo no leitor uma imensa vontade de iniciar viagem. Muito por culpa das brilhantes e coloridas ilustrações do grandioso John Alcorn.
Com os mais pequenos como destinatários, são quatro as histórias que Joslin aqui conta. Têm em comum uma estrutura acumulativa, vivendo da repetição e acrescentando uma ou duas novas palavras a cada virar de página. Cores, números, alimentos... Os mais novos encontram aqui um palco privilegiado para aprender de forma bem divertida. No final, ainda dispõem de um glossário bilingue de português-inglês.
Para os leitores mais crescidos, sempre adiantamos que o humor presente em cada final de história não deixará ninguém indiferente. O nosso conselho é que abram o livro antes que um qualquer crocodilo o devore, uma ratazana o roa ou até que possa desaparecer por um qualquer golpe de malabarismo... Não digam que não avisámos.
CELEBRAMOS O PODER DA ILUSTRAÇÃO E A MAGIA DE SINTRA.
O primeiro Festival de Ilustração de Sintra realiza-se entre os dias 15, 16 e 17 de Setembro e prolonga-se até 7 de outubro.
Consultem o programa e mais informações em ilustresintra.com e nas redes sociais. Contamos com vocês! Até Setembro.
Ilustração: Susa Monteiro
Design: Catarina Correia Marques
Curadoria: Nazaré de Sousa e Renata Bueno (Hipopómatos na Lua)
Produção: Hipopómatos na Lua
Apoio: Câmara Municipal de Sintra, Cultursintra, Parques de Sintra
Um verão sem pirilampos é algo inimaginável. Quem vive no campo e tem por hábito organizar as noites de pirilampos, sabe do que falamos. Por isso, não podia ser mais oportuna a chegada deste pequeno, cartonado e precioso livro de Mr. Eric Carle. Pouco interessa a sua idade, porque os livros de Carle são intemporais e serão sempre fantásticos companheiros de crescimento para os mais pequenos.