segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Por Exemplo, uma Rosa



Por exemplo, uma rosa | Ana Pessoa e Madalena Matoso | Planeta Tangerina


Um livro pode ser muita coisa. Tanta coisa! Por exemplo, uma casa. É quando temos vontade de habitá-lo uma e outra vez. Queremos explorar cada compartimento até sentirmos que conhecemos os “cantos à casa”. Ou não. Porque, às vezes, o desafio é tão grande que por mais voltas que demos lá dentro, fica a certeza de restar sempre alguma coisa por descobrir. Então voltamos.






Por exemplo, uma Rosa é um desses livros. Dezenas de objetos, de formas e de palavras povoam as páginas como se o mundo ali coubesse. Coisas, animais, plantas, astros, tudo o que se vê e não se vê. São-nos familiares. Há uma consonância perfeita entre palavras e imagens, ambas distendidas pelas duplas páginas como se de um “open space”  se tratasse. E depois chegamos a essa dupla em branco apenas preenchida com palavras. Todas distintas entre si. Porquê estas, perguntará o leitor. O desafio já está lançado, mesmo que ainda não se tenha apercebido. 








































O pensamento já se passeia por ali, ávido de discernir o que o livro pode querer de si. Mas este não dá tréguas. Há toda uma parafernália de coisas nas páginas que estão por abrir. As que giram e rodam, as que abrem e fecham, as que vão e vêm. Também há as que picam e cortam, mas dessas ficamos a saber que a autora não gosta delas. Qual o sentido de tudo isto, continuará o leitor a interrogar-se.









































Entre coisas que voam e coisas que caem todas têm um nome. As que se veem e as que não se veem, as que existem, as que já pertencem a um tempo passado, as que ainda estão por vir. Há aquelas em que podemos pegar, outras que só imaginamos, as que podemos observar, as que podemos cheirar... 

Mas qual o sentido destas coisas? Por exemplo, uma rosa. A palavra rosa é uma rosa? E se fizermos um desenho de uma, o desenho é uma rosa? Podemos oferecer a palavra rosa? E quantas pessoas com o nome Rosa conheces? Sim, as palavras designam as coisas. Mesmo as que não conseguimos ver. Por exemplo, o teu pensamento enquanto vives dentro deste livro. 








































Há muitas coisas diferentes com o mesmo nome. Por exemplo, cão. Sabes quantos tipos de cães existem? E também já reflectiste sobre o tamanho das palavras?  Há de todos os tamanhos. Até há palavras pequenas que designam coisas grandes e palavras grandes que são nomes de coisas pequenas.. Já pensaste nisto tudo? Sim, é desafiante. Tão desafiante quanto dizerem-te que podes ser tu, leitor, a escolher um fim para este livro. Sabendo, de antemão, que esse fim não é o fim. 























Diferente     surpreendente     único     fantástico     marcante     imperdível  
São muitas as palavras que poderíamos usar para designar este livro. Ana Pessoa já nos habituou à sua “arquitectura” de linhas desafiantes, originais, subtis, inteligentes e envolventes. Por exemplo, uma pessoa. O nome é uma pessoa? Neste caso, uma dupla pessoa?
As ilustrações de Madalena Matoso não deixam nada ao acaso e no seu estilo inconfundível, com uma paleta de cores fortes e quentes, vai contribuindo para transformar esta casa num verdadeiro espaço de aconchego. 
É bom que te prepares, leitor, porque há por aqui muito para fazer. E não é só brincar com as palavras e as imagens ou com os seus significados. Também não será só dar nome às coisas ou entrar nos jogos e desafios. Há muito para ver, para descobrir, para cheirar, para imaginar...
Afinal, um livro é um livro é um livro é um livro.



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