Sábado | Oge Mora | Fábula
A expressão nunca mais é sábado bem podia bem ter sido inventada pela pequena Eva e pela mãe, as protagonistas desta história. É o dia mais desejado por ambas, o preferido. Especial, porque é o único que passam juntas, uma vez que a mãe da Eva trabalha domingo-segunda-terça-quarta-quinta e sexta-feira. Esta é uma história que começa logo nas guardas, onde um calendário identifica os leitores com as rotinas e os dias da menina. Quem a vai buscar à escola, quem assiste às reuniões de pais, as atividades... Mas, o que prende, de imediato, a nossa atenção são as notas com a lista de desejos para os sábados. O calendário mostra que a maior parte já se cumpriu, ficando em evidência que no próximo sábado há teatro de fantoches.
Uma dupla página elucida-nos sobre os momentos lúdicos e felizes de que mãe e filha costumam desfrutar. Hora do conto na biblioteca, cabeleireiro, piqueniques... Este sábado há um extra: assistir a um espetáculo de fantoches único. O ritual do dia é todo partilhado. Vemos Eva a levantar-se, a tomar o pequeno-almoço com a mãe e a saírem de casa em ritmo de quem mal pode esperar pelas coisas magníficas que as aguardam. A expressão corporal, braços quase sempre levantados, e facial são elucidativas das emoções que rodeiam a chegada do sábado. A esta altura, o leitor já está suficientemente envolvido para as querer acompanhar.
Quando a Eva e a mãe chegam à biblioteca e a hora do conto tinha sido cancelada, rapidamente suspeitamos que as altas expectativas que têm para o seu dia, podem sair defraudadas. Antes mesmo do diálogo, a desilusão é visível nos gestos e nos rostos, com a mãe debruçada sobre a pequena a consolá-la. Descobrimos, então, que têm uma estratégia para lidar com a frustração: pausa, fechar os olhos, respirar fundo e seguir em frente. À medida que avançamos nas páginas e nos planos delineados pelas duas, vamos dando como certo que nada neste sábado irá correr como programado e desejado. Porque há dias assim. O leitor mais atento e perspicaz já terá percebido que o momento alto do dia, o teatro de fantoches, também não irá acontecer para mãe e filha. A alegria e a pressa, no momento da saída, deixaram para trás algo importante. As decepções foram-se somando e, desta feita, os papéis invertem-se. Agora, é a pequena que consola a mãe.
Uma magnífica abordagem sobre as contrariedades e frustrações que a vida nos pode reservar e a forma como conseguimos lidar com elas. Acima de tudo, um precioso e comovente livro sobre o amor incondicional que liga mãe e filha. Juntas, irão compensar as contrariedades do dia.
Mora é uma autora jovem, mas já muito premiada. A diversidade racial e cultural são características que atravessam os seus livros. A colagem é a sua técnica preferida. Sábado não foge à regra, com predominância para papéis coloridos e livros antigos, que lhe conferem um toque único e singular. Fãs do seu trabalho, esperamos ver por cá Thank You, Omu!, o seu livro mais premiado.
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