quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Gosto, Logo Existo. Redes Sociais, Jornalismo e Um Estranho Vírus chamado Fake News.
























Internet, notícias, jornalismo, informação e desinformação, telemóveis, teorias, emojis, likes, gigantes invisíveis... é sobre isto e muito mais, o último livro do Planeta Tangerina. Gosto, logo existo, 
com o subtítulo redes sociais, jornalismo e um estranho vírus chamado fake news, foi escrito pela jornalista Isabel Meira e ilustrado por Bernardo P. Carvalho. É um livro feito a pensar nos jovens, mas que deve ser lido por todos.

























Este é um tempo em que um grande número de famílias se viu forçado a alterar hábitos e a contradizer-se no seu próprio discurso no que toca à relação das crianças e jovens com a internet e os meios digitais. Hoje, o contacto dos nossos filhos com os ecrãs e as novas tecnologias é muito maior, nomeadamente para acesso à escola. Esta é uma realidade para muitos impensável antes da pandemia. Não só por isto, mas também, este é um livro precioso para ser lido por todos aí em casa. E a sua chegada não podia ser mais oportuna.



















Um livro informativo, com uma linguagem directa e acessível para todos, onde se considera ser importante fazer perguntas, sabendo que as respostas não se encontram todas no google. Tendo como primeiros destinatários aqueles que nunca conheceram um mundo sem internet e a quem parece impossível que o mundo já tenha funcionado de outra forma , a quantidade e a qualidade da informação que contém, os números, as "dicas" e a própria linguagem tornam este livro num precioso auxiliar para os seus destinatários e para toda a família. 





















"Habituámo-nos a receber a informação e a desinformação que nos chega através de algoritmos secretos, a ter rotinas em mundos virtuais, a comunicar com abreviaturas e emojis. Vivemos numa enorme bolha de likes e partilhas. 
Mas será que conhecemos bem as regras do jogo?
Qual o impacto de tudo isto na nossa relação com o mundo e nas decisões que tomamos?"

























Sem qualquer abordagem moralista, das que tanto enfadam os jovens, este é um livro bem inteligente, capaz de os pôr a pensar sobre o que efectivamente sabem ou não. Inteligentes são, também, as ilustrações com que Bernardo P. Carvalho acompanha o texto. Capazes de criar uma forte proximidade com os leitores, estes facilmente se identificam com elas. A qualidade dos livros informativos do Planeta Tangerina já não surpreende os leitores. Mas, no ano em que a editora comemora 20 anos de existência, não podemos deixar de reconhecer este gigantesco contributo, agradecendo o tanto que nos têm dado. Por isso, dizemos: Parabéns! E que venham os próximos 20.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

O Bolo de Maçã. Um Hino à Gratidão


 





















Obrigada parece ser a palavra preferida da pequena protagonista desta história, com texto de Dawn Casey e ilustrações de Genevieve Godbout, recentemente editada pela Fábula. Num álbum em que as ilustrações se espraiam harmoniosamente a cada dupla página, o curto texto que nelas vislumbramos é, invariavelmente, um agradecimento à natureza por tudo o que ela nos dá. 














Na companhia de um cachorro, a pequena percorre alegremente os trilhos campestres, agradecendo às árvores, aos arbustos, às abelhas, às vacas, às galinhas... enquanto o cesto que leva consigo se vai enchendo de amoras, avelãs, maçãs, mel, leite, ovos... 
















Os agradecimentos são extensivos à chuva e ao sol, aliados da mãe da natureza, aos amigos e à família. Quando chega a casa, o cesto transborda já de ingredientes. Tudo, mais do que suficientes para confeccionar... um delicioso bolo de maçã.















A simplicidade do texto e as apelativas ilustrações, bem ao jeito de Godbout, fazem deste hino à gratidão uma história poética e inspiradora. Agora que estamos todos em casa, este é um lugar de eleição para levar as crianças a passear. No regresso, metam as mãos na massa com os miúdos  e experimentem a deliciosa receita de bolo de maçã que se encontra no final do livro. Nós já experimentámos e, nham nham, é mesmo...delicioso!


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

When You Look Up. Leituras de fora

























When You Look Up, da autoria do argentino Decur (Guillermo Decurgez) e editado pela Enchanted Lion Books, foi um dos livros que mais nos encantou em 2020. A mudança de casa e dos hábitos de vida que temos em determinado lugar pode ser um acontecimento  complicado na infância. Para trás, ficam os amigos, os conhecimentos e as rotinas adquiridas. Para Lorenzo, o protagonista desta história, a vida parecia mais cinzenta agora que os amigos só estavam dentro do seu telemóvel.



Mas, no seu caso, a chegada à nova casa acabou por revelar-se uma grande surpresa, deixando-o sem tempo para pensar no que já era passado. Tudo, graças a uma velha escrivaninha que ali encontrou com dezenas de gavetas e gavetinhas e alguns segredos pelo meio. Foi numa dessas gavetas que Lorenzo descobriu um diário. Alguém o escrevera e o guardara ali! O rapaz desconhecia quem o teria feito, mas a sua leitura começou a transportá-lo para um mundo mágico e maravilhoso.

A ele e ao leitor, que passa a ter direito a duas histórias. A que lhe chega através das imagens do diário e a que vê através da imaginação do rapaz misturada com cenas do quotidiano. 


Com ilustrações deslumbrantes, esta é uma história capaz de encantar leitores de todas as idades. Ou não fosse ela uma história envolta em segredo e algum mistério. 



O autor, cartonista e ilustrador autodidacta, reserva ainda um delicioso final, quando permite a Lorenzo que conheça o autor do  fantástico diário. Um encontro que nós, leitores, não perderíamos por nada. 

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Ler o Mundo

 
                                                                             
Ler o Mundo, com o subtítulo Experiências de transmissão cultural nos dias de hoje, da antropóloga francesa Michèle Petit, é o mais recente livro da colecção Ágora K, da editora Kalandraka. Um livro que é um poderoso testemunho para todos os que acreditam no poder da leitura e da arte em geral. Para todos os que amam os livros e, de alguma forma, tentam contagiar os outros com esse amor.
Petit reúne, nesta obra, um vasto número de relatos, experiências e caminhos percorridos por bibliotecários, professores, escritores, mediadores culturais, alunos, pessoas em geral. Há toda uma partilha assente em saberes, práticas , conversas, estudos, conferências... que nos é trazida através de uma escrita tão simples, quanto directa e eficaz. 
O inicio do livro elucida o leitor. Este livro é uma apologia. Para que a literatura, oral e escrita, e a arte sob todas as formas tenham um lugar na vida de todos os dias, em particular na das crianças e dos adolescentes. De forma genuína, a autora esclarece que o livro nasce de uma revolta. Uma revolta contra a obrigação de fornecer provas dos resultados da leitura, como se essa fosse a única razão de ser de ler. Porque é que a literatura e a arte têm de prestar contas? 
Uma revolta que nasce, também, da vontade de combater o utilitarismo, tantas vezes de vistas curtas. Do cansaço relativamente a todos os discursos de lamentação sobre a leitura ou ausência dela. Das lamúrias de culpabilização dos jovens por não terem vontade de ler, ainda que sejamos nós, adultos, quem, tantas vezes, os vacina contra a leitura. Uma revolta contra a instrumentalização da leitura nas escolas, dos livros e das obras de arte. 
Porque tantas vezes sentida, torna-se impossível ao leitor não concordar com a autora quando esta afirma que o essencial da leitura, quando não é regida pela obrigação ou pela utilidade imediata, são os momentos em que levantamos os olhos do livro e nos surgem associações inesperadas.
Para que serve ler? Porquê ler hoje? Qual a importância da leitura e da transmissão cultural

Porque devemos incitar crianças e jovens à leitura? 

Estas são algumas das questões a que tanto a autora como os seus interlocutores vão respondendo. Sem milagres. Sem fórmulas certas. Apenas com a certeza de que nas erradas não vale a pena persistir. 

Há um fio condutor que percorre o livro. Petit regista que ele está presente em todos os discursos dos interlocutores: desde a mais tenra idade e ao longo de toda a vida, a literatura oral e escrita e as práticas artísticas estão intimamente ligadas à possibilidade de encontrar um lugar. 

São múltiplas as associações com que o leitor se depara. Para uns, o livro é  a terra de asilo, uma paisagem, um país, o universo, um continente, um abrigo, um refúgio, uma choupana, uma cabana. Para outros, o livro é "um lugar meu", "a minha casa, sempre lá para me receber", "uma passagem secreta", "um transporte para algum lado".  Bem para lá do carácter útil e até do simples prazer,  ler é forjar uma arte de viver, mantendo uma parte da liberdade, do sonho, do imprevisto.

Ao longo desta apologia da leitura como coisa de todos os dias, Petit referencia dois conceitos subjacentes à essência da leitura: apropriação e segredo. 
"Apresento-te os livros porque uma imensa parte do que os seres humanos descobriram está aqui escondido". 
De uma maneira ou de outra, todos nos apropriamos das palavras. Ela própria deixa o convite para que os leitores se apropriem das suas, que as roubem, se for caso disso. A vontade é grande, até porque a autora nos vai lembrando o grande papel dos mediadores de leitura e educadores pela arte: saber tornar desejável a apropriação da cultura a quem dela está mais afastado.
"Apresento-te o mundo que outros me passaram e de que me apropriei. Pedacinhos de saber que passam de geração para geração. Agora, entre linhas lidas, escreve a tua própria história."
Para além da dimensão de apropriação selvagem, o desejo de ler está quase sempre envolto  na vontade de descobrir um segredo, de desvendar um mistério. Pais, professores, mediadores em geral... transformar a leitura e a arte em coisas de todos os dias, dependerá em muito da nossa arte de acolhimento e da nossa disponibilidade. Da nossa arte em levar os outros a ter "a cabeça suficientemente nas nuvens".
Testemunho poderoso,  Ler o Mundo, mais do que um livro é um lugar para se habitar muito tempo. E a que se voltará, seguramente, muitas vezes.
Porque atravessamos dias de muitas dúvidas e poucas certezas, roubamos as palavras de Michèle Petit para vos dizer: Mesmo que as crianças a quem lêem histórias não se tornem leitores, não terão perdido o vosso tempo. Terão recheado os bolsos delas, enchido a sua arca do tesouro de palavras, de histórias, de imagens, de que elas poderão apropriar-se para não se sentirem nuas, perdidas face ao que as rodeia, ou para enfrentarem os seus próprios demónios (...)