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quinta-feira, 19 de junho de 2014

CAPITAL e VAZIO

Têm a palavra, perdão, a imagem... os Ilustradores! Afonso Cruz e Catarina Sobral, dois nomes grandes da nossa Ilustração,  são os senhores que se seguem na colecção editada pelo Pato Lógico, Imagens que Contam.



Para a editora, esta é uma colecção dedicada exclusivamente a ilustradores contadores de histórias. Com ela, o Pato pretende criar um espaço onde se dá forma ao que não é dito ou escrito. É um novo palco onde, em cada mancha, em cada traço, se descobre um mundo.



Depois de Sombras, de Marta Monteiro e Bestial, de André da Loba, Afonso Cruz assina uma história capitalizada.


CAPITAL é uma história contada em torno da figura,  bem nossa conhecida, do porquinho mealheiro. Muitos de nós crescemos com ele e habituámos-nos a capitalizar para a sua ranhura as moedas que conseguíamos angariar. Depois quebrávamos o animal e era dia de festa...


Bom, não é o que faz o rapaz da história a quem o porco é oferecido. De tal forma o alimenta e o mima que o porco vai engordando, engordando... até adquirir proporções gigantescas. Acaba por tomar o gosto às moedas e tornar-se insaciável. Ganancioso mesmo.


Com uma boa dose de humor e algum sarcasmo à mistura, vamos vendo uma criatura cada vez mais obesa e um dono que cresce com ele,  transformados numa máquina trituradora... Afinal, uma rábula tão actual nos dias que correm...


Um livro com marca registada Afonso Cruz, o que sempre parece querer significar um livro para  destinatários de todas as idades. Como já se tornou hábito, para pequenos e grandes leitores.


À semelhança de todos os outros do autor, um livro a que não se consegue ficar indiferente. Venha o próximo!


VAZIO é a história contada por Catarina Sobral


O vazio sentido por um homem que vive numa grande cidade e que todos os dias se cruza com a multidão. A busca por algo que o preencha nos detalhes do dia a dia ou até a explicação médica do que possa estar errado consigo não parecem ter qualquer êxito.  


Um vazio profundo, aqui simbolizado por uma silhueta branca onde nada permanece. Um vazio que nem a natureza ou a arte parecem conseguir colmatar. Até ao dia em que descobre, finalmente,  a receita para essa doença, bem mais comum do que muitas vezes supomos. 


Palavras para quê? Este é um livro de Catarina Sobral. A temática, a forma inteligente e divertida, mas não menos poética da abordagem, as subtilezas espalhadas pelas páginas e os seus bonecos inconfundíveis, conferem ao livro uma beleza singular. 


Expectantes e ansiosos pelos próximos livros, dizemos: Parabéns ao Pato! Lógico.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O LIVRO DO ANO

  E hoje, no nosso  calendário, o livro é... O Livro do Ano.


Dia 1- Virginia Wolf, Kyo Maclear e Isabelle Arsenault, Éditions de la Pastèque.
Dia 2 - Jane, le renard & moi (versão francesa), Isabelle Arsenault e Fanny Britt, La Pastèque. 
Dia 3 - MAMÃ, Mariana Ruiz Johnson, Kalandraka. 
Dia 4- O SENHOR PINA, Álvaro Magalhães, desenhos de Luiz Darocha, Assírio & Alvim.
Dia 5- THE DARKLemony Snicket e Jon Klassen, Orchard Books.
Dia 6- O livro do ano, Afonso Cruz, Editora Objectiva.


terça-feira, 22 de outubro de 2013

Assim, Mas Sem Ser Assim.

Considerações de um misantropo.


Parecem fazer parte de nós. Insistem em ser companhia de todos os dias. Afinal, é disso mesmo que parecem falar, dos nossos dias. E de pessoas. Daquelas com quem nos cruzamos todos os dias ou dia nenhum. Em comum,  uma identidade. Foram escritos e ilustrados por Afonso Cruz.


À semelhança do que acontece em Contradição Humana, Assim, Mas Sem Ser Assim, considerações de um misantropo, é um livro construído a partir da observação do quotidiano e de quem o povoa. Mais uma vez, é o olhar inocente e questionador de uma criança que põe a nu idiossincrasias e contradições, que tantas vezes escapam aos adultos, tornando-os seres acríticos e socialmente pouco conscientes. 


Seguindo o conselho do pai, que costuma dar bons conselhos e usa barba, o nosso jovem narrador decide contrariar a propensão para passar muito tempo em casa e comunicar pouco. Uma mão cheia de ironia e o humor crítico a que o autor já nos habituou, condimentam a viagem que faz por quem  está mais à mão para comunicar, os vizinhos.



Andar a andar (o prédio tem 8) somos apresentados a cada um dos vizinhos, ficando a conhecer-lhes os traços peculiares... 
No 3C mora uma pessoa muito magra, que lhe comunicou ser "tão extremamente elegante" por ser modelo. 
No 6C mora uma pessoa um pouco gorda ou a atirar para o forte que quase não come, pois quer emagrecer. Comunicou-lhe que por vezes tem momentos de fraqueza. 
No 7A mora um poeta, que passa a vida sozinho e não abre a porta a ninguém.  O que leva o rapaz a desconfiar de puder tratar-se de um misantorto ou até de um misantodo
No 3A, mora um bailarino que anda sempre descalço e que tem como cobertor preferido as estrelas.


Depois, ao virar da página, ali está esse final! Inesperado? Surpreendente? Desconcertante? Sim, tudo isso! Quando lemos o livro com Hipopómatos mais pequenos, o comentário surgiu: " Gostava tanto de poder telefonar ao Afonso Cruz para lhe perguntar como  é que ele se lembrou deste final!"

  
A intertextualidade e o uso de  metáforas são indissociáveis da sua escrita. "O meu pai, que tem barbas, disse-me: As palavras mais fortes são poemas. A palavra não, quando cresce, torna-se talvez, e as palavras que levantam mais peso são as mais delicadas(...). Sim, mas as palavras também crescem, como as árvores, e vão mudando de significado ao longo da vida, começam por querer dizer uma coisa e acabam por dizer outra. Ninguém quer manter-se igual para sempre e até as lagartas começam a voar, um dia."

Talvez sejam elas que nos fazem acabar um livro de Afonso Cruz e ficar avidamente à espera do próximo! Que, simplesmente, nos fazem gostar de sétimos andares! E que já nos fazem andar aqui  às voltas para saber Para Onde Vão Os Guardas-Chuvas!

terça-feira, 12 de março de 2013

O livro do ano


A preto e branco, as frases vão surgindo curtas. Lemos uma, duas... e mais vezes. Só podem ter sido feitas para preencher espaços vazios da nossa memória. Não queremos esquecer-nos de nenhuma. É um diário que atravessa as quatro estações do ano, pela mão de uma menina que celebra a vida em todas as páginas.
 
Não, não pode ser coincidência o facto de ser  o último livro de Afonso Cruz! Podíamos escrever muito sobre ele mas, se calhar, bastará dizer isso mesmo,  é um livro de Afonso Cruz. Dele se diz que é escritor, ilustrador, músico, cineasta, dono de talentos múltiplos... Para nós,  é um ser habitado, em todos os dias do ano, por uma genial criatividade. 
São 138 páginas, num formato pequeno. Que apetece levar para todo o lado!  Ao que parece, começou por ser pensado para crianças mas transformou-se e nasceu virado para leitores de todas as idades.

É o diário de uma  menina que vai relatando, cronologicamente, pensamentos e  observações que faz da vida. Decidimos lê-lo com hipopómatos mais pequenos. E foi assim, na Primavera:
21 de Março - Fiquei à janela a ver a noite deitar os pássaros nos ninhos.

1 de Maio - Todos os dias faço coisas estranhas, pois tenho medo do Instituto das Pessoas Normais.
4 de Maio- ... Mas, por via das dúvidas, fui para casa com os sapatos calçados nas mãos. (Como nós gostamos dela!)
15 de Junho- Tenho reparado que a grande diferença entre o Outono e a Primavera é que no Outono as plantas morrem e na Primavera nascem. A diferença só pode estar na chuva... deitarei Primavera no Outono.
Poderíamos continuar... porque nos perdemos em todas as páginas do diário desta menina que anda na rua, levando um jardim enorme na cabeça, sem que ninguém repare. Que às vezes, leva um deserto para casa. Que gosta de atirar palavras aos pombos. Apesar de eles preferirem migalhas.
Que sabe que para aquecer o corpo, o melhor é uma lareira. Mas, para aquecer a parte de dentro do corpo, o melhor é ler. Uma menina, a quem  aborrece que Fevereiro nunca veja o dia 30 e tem pena deste mês. Ninguém tem culpa de nascer pequeno. Por isso, pensa nos dias que faltam e em inventá-los.

E nós descobrimos que foi exactamente no dia 30 de Fevereiro que começou a escrever este diário.
Aprendemos com ela que Não é preciso ser cientista para compreender as árvores, basta ser pássaro. Ou Abril. 
Para se ser pássaro ou Abril, basta ler O livro do ano! Acrescentamos nós.