Mostrar mensagens com a etiqueta Enchanted Lion Books. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Enchanted Lion Books. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

When You Look Up. Leituras de fora

























When You Look Up, da autoria do argentino Decur (Guillermo Decurgez) e editado pela Enchanted Lion Books, foi um dos livros que mais nos encantou em 2020. A mudança de casa e dos hábitos de vida que temos em determinado lugar pode ser um acontecimento  complicado na infância. Para trás, ficam os amigos, os conhecimentos e as rotinas adquiridas. Para Lorenzo, o protagonista desta história, a vida parecia mais cinzenta agora que os amigos só estavam dentro do seu telemóvel.



Mas, no seu caso, a chegada à nova casa acabou por revelar-se uma grande surpresa, deixando-o sem tempo para pensar no que já era passado. Tudo, graças a uma velha escrivaninha que ali encontrou com dezenas de gavetas e gavetinhas e alguns segredos pelo meio. Foi numa dessas gavetas que Lorenzo descobriu um diário. Alguém o escrevera e o guardara ali! O rapaz desconhecia quem o teria feito, mas a sua leitura começou a transportá-lo para um mundo mágico e maravilhoso.

A ele e ao leitor, que passa a ter direito a duas histórias. A que lhe chega através das imagens do diário e a que vê através da imaginação do rapaz misturada com cenas do quotidiano. 


Com ilustrações deslumbrantes, esta é uma história capaz de encantar leitores de todas as idades. Ou não fosse ela uma história envolta em segredo e algum mistério. 



O autor, cartonista e ilustrador autodidacta, reserva ainda um delicioso final, quando permite a Lorenzo que conheça o autor do  fantástico diário. Um encontro que nós, leitores, não perderíamos por nada. 

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Crescendo. Leituras de fora


CRESCENDO, de Alessandro Sanna e Paola Quintavalle, editado pela Enchanted Lion Books, é o livro que escolhemos no regresso dos Hipopómatos.


Um livro belo e delicado, que transporta dentro de si uma poética e sublime homenagem à maternidade. Uma narrativa predominantemente visual, onde as deslumbrantes aguarelas de Alessandro Sanna parecem conduzir o leitor para dentro de um museu dedicado  a todas as mães.


Mês a mês, acompanhamos o crescimento e desenvolvimento da "semente" que cresce no útero materno. Em sintonia, vemos o crescimento da barriga da mãe, que se vai projectando e assemelhando a outros elementos da natureza.  A curva das asas da gaivota, a inclinação de uma colina, o leito de um rio, a forma de algumas flores, a lua... são apenas algumas das várias e estonteantes metáforas desenhadas por Sanna , que deixam o leitor sem fôlego.



O texto, também ele repleto de metáforas, inscreve-se em frases curtas nas páginas esquerdas, assumindo em pleno a necessária cumplicidade para a concretização do resultado final. Tão poético quanto único.


Não é novidade que somos admiradores confessos do trabalho de Sanna, o ilustrador italiano que muitos associam ao nome de Rodari. São várias as histórias rodarianas que já ilustrou. De algumas falámos aqui.  


Pinocchio:The Origin Story e The River são livros incontornáveis do autor. O último é um livro que temos sempre aberto  nos Hipopómatos e que perfaz as delícias de todos os que o lêem. A partir de agora, há mais um, com que os leitores vão crescendo.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Leituras de Fora. What Color Is The Wind?


We can't see the wind, we hear what it brings.
We can't hear the wind, we see what it brings.

What Color Is The Wind? é o livro em destaque, esta semana, na Casa dos Hipopómatos.


Uma ou outra vez acontece-nos andar com um livro ao colo vários dias... e continuar a
pensar que tudo o que possamos dizer ou escrever sobre ele é pouco! É necessário contemplar, demoradamente, o que temos nas mãos. É preciso tocar, sentir!
Este é um desses livros. Da autoria de Anne Herbauts, autora que seguimos incondicionalmente e que tanto gostaríamos de ver por cá, a história tem como protagonista um rapaz cego que vai perguntando a cor do vento  a diferenciados interlocutores com que se cruza:  o cão, o lobo, a janela, a chuva... Para cada um, a resposta é, obviamente, distinta.


It has a color, says the dog. It is pink, flowery, pale white.

Diversas técnicas e materiais, uma multiplicidade de formas em relevo, ainda que suave e delicado, sobreposições, recortes...  são elementos que geram surpreendentes e inimagináveis resultados.  Que, se fecharmos os olhos e passarmos os dedos,  nos deslumbram e desconcertam pela beleza e singularidade do efeito alcançado.


 No, says the wolf, the wind is the dark smell of the forest.

Profundo, poético, filosófico, belo... Um livro que nos faz pensar e nos transporta para lá das palavras e das imagens. Venham até cá, também queremos perguntar-vos:  What color is the wind?


The little giant asks a bird,   
What color...
But  the bird has flown away.


terça-feira, 10 de março de 2015

Ainda o Fascinante Mundo de Komako Sakai


É considerada por muitos uma das histórias mais amadas de sempre.  Há mesmo quem compare  The Velveteen Rabbit ao Principezinho de Saint-Exupéry. Quase cem anos volvidos sobre a sua publicação, datada de 1922,  a história escrita pela britânica Margery Williams continua a emocionar e a encantar gerações de leitores. 
É uma história sem tempo, que já conheceu múltiplas versões e adaptações. Nos anos 60,  Maurice Sendak não resistiu a ilustrá-la. O resultado parece fabuloso. Podem ver no brain pickings, um site de referência.



Komako Sakai, a autora japonesa de quem temos falado, brindou-nos recentemente com a sua versão, baseada no original de Margery Williams. O livro foi publicado em 2012, pela Enchanted Lion Books, uma editora americana com um catálogo invejável. 
Ainda que numa versão mais reduzida e soft do texto, a beleza das ilustrações de Sakai transporta-nos, vezes sem conta, para o universo mágico do clássico de Williams. E, acima de tudo, mostra-nos como ele continua tão actual. 




The Velveteen Rabbit é uma história onde o imaginário e o real se unem, fazendo-nos imergir num universo mágico e poético. Um coelho de peluche é oferecido a um pequeno rapaz como prenda de natal. Apesar de "amor à primeira vista", o encantamento do pequeno não dura muito, uma vez que o objecto do seu interesse se vai diversificando à medida que recebe outras prendas.


Esquecido, o coelho vê-se relegado para uma prateleira, onde recebe a companhia de muitos outros brinquedos com idêntico destino. Entre eles, há um tema recorrente que lhe escapa ao entendimento: saber quem é ou não real. 



Refira-se que, na versão original, o momento acaba por revelar-se bem mais duro, com o coelho a ser alvo da arrogância dos brinquedos mais sofisticados e desenvolvidos tecnologicamente. Mas é também aqui que o coelho encontra o seu primeiro grande amigo, o cavalo de madeira. É o mais antigo por ali e a sabedoria que possui é evidenciada quando explica ao coelho o significado de Real.



É inesquecível o diálogo entre ambos. Transcrevemos um excerto  da versão original:
"What is REAL?" asked the Rabbit one day, when they were lying side by side near the nursery fender, before Nana came to tidy the room
"Does it mean having things that buzz inside you and a stick-out handle?"
"Real isn't how you are made,"
said the Skin Horse. "It's a thing that happens to you. When a child loves you for a long, long time, not just to play with, but REALLY loves you, then you become Real."



A sorte do coelho acaba por mudar numa noite em que o habitual companheiro do rapaz não é encontrado. Com o amor do rapaz chegam os dias felizes. Tornam-se inseparáveis. 


Uma história carregada de ternura e de sensibilidade, que Komako ilustra de forma magistral. Sentimos os abraços do rapaz e a confiança do pequeno coelho no amor que recebe. 


Confiança que se mantém mesmo depois do encontro com dois coelhos reais, a quem nota a ausência das costuras, e a quem ouve o veredicto de que não pertence ao mundo real. 


A sorte volta a mudar no dia em que o rapaz fica doente e o médico exige uma desinfecção total do quarto, nela incluindo aquela "massa de germes".


A história tem um final digno de um conto de fadas. O coelho de peluche, que no seu livro Komako distingue com a cor verde dos olhos,  transforma-se num coelho real. Um dia, o reencontro com o rapaz acaba por acontecer. E, como sempre acontece com o que é real, a vida continua para além dele.  


Para quem não conheça a história, pode sempre ler aqui a versão original. 


                                           
Hannah's Night, o último livro de Komako Sakai, 
foi publicado em 2013, pela Gecko Press.




Komako volta a surpreender, tanto pela simplicidade  e delicadeza da história, como pelo magnífico trabalho de ilustração. 


Como já nos habituou, utiliza as imagens e frases curtas para contar situações passíveis de serem vivenciadas por qualquer criança.


Hannah acorda a meio da noite, quando todos dormem lá em casa. Perante as tentativas goradas de acordar a irmã e o sono profundo dos pais, inicia uma deambulação pela casa, na companhia do  bichano Shiro.  


A calma e o silêncio reinantes são retratados por Komako com uma força inigualável através das manchas de azul que escolheu para invocar a noite e o escuro. As texturas fortes, onde se misturam várias camadas de azul, evidenciam simultaneamente a delicadeza dos genuínos gestos e a intimidade do momento.


Uma história centrada nas inocentes, mas determinadas, escolhas que Hannah acaba por fazer na ausência dos prováveis limites que os pais ou a irmã mais velha lhe imporiam. 






A tentação das cerejas, as risotas que pode dar ou os brinquedos da irmã de que pode agora desfrutar... Na intimidade da noite, Hannah revela, afinal, algo que nos é  bem familiar: a afirmação de si própria reflectida em pequenas doses de independência. 



Cada gesto da pequena Hannah parece tão real quanto mágico. Komako revela um profundo conhecimento  do mundo interior das crianças, conseguindo através das ilustrações, com predominância dos jogos de sombras,  transmitir  pensamentos e  sentimentos, como se estivessem envoltos numa película transparente. 


Antes do sono chegar, Hannah observa a beleza da noite e o que ela tem para oferecer. É lá que encontra a pomba mais bonita que alguma vez viu.


Nós observamos os livros de Komako Sakai e continuamos à espera que eles cheguem por aí! Pode ser à noite...


terça-feira, 3 de março de 2015

O Fascinante Mundo de Komako Sakai

 
O nome pode não ser muito familiar, mas as ilustrações de Komako Sakai deslumbraram-nos a todos quando, em 2011, a editora bruaá trouxe para Portugal o inesquecível O Urso e o Gato Selvagem. Dele falámos aqui.


Já afirmámos várias vezes o quanto ficamos felizes quando vemos o trabalho de autores que admiramos ser editado em  português. Foi o caso desta ilustradora, e também autora, japonesa. 


Conhecíamos dois livros fascinantes de Sakai: Emily's Balloon e The Snow Day, a que pertencem estas ilustrações. Desde então, nunca mais lhe perdemos o rasto. O que vos propomos hoje é que venham daí, à descoberta de Komako Sakai.


Um mundo pincelado de poesia, moldado pela arte desta japonesa que parece apostar em revelar a essência da infância através da liberdade de pequenos gestos, tão comuns aos pequenos protagonistas.


Os seus livros são uma espécie de retratos da infância, aonde os adultos querem retornar e as crianças se revêem e descobrem. Por regra, são histórias que narram factos simples da vida das crianças, assentes em textos minimalistas, mas nem por isso menos poéticos, e onde os desenhos sempre captam o que de mais genuíno e belo existe na infância.  


A expressividade e a densidade que consegue incutir nas personagens e a autenticidade com que nos mostra o que as rodeia são características maiores da sua arte. In The Meadow,  com texto de Yukiko Kato publicado em 2011 pela Enchanted Lion Books, é um bom exemplo disso.


O contacto e a descoberta da natureza por parte de uma criança que não resiste a seguir uma borboleta são o ponto de partida para um livro onde conseguimos sentir cheiros, experimentar sensações e até ouvir os sons. Onde quase tocamos a erva, tão alta quanto a pequena exploradora.


O espanto, o encantamento, as interrogações... tudo é evidenciado com uma mestria ímpar através do rosto e dos gestos desta criança.


Independentemente dos materiais utilizados, os seus livros  revelam, invariavelmente, uma textura intensa, que nos faz querer tocá-los vezes sem conta.  Neste caso, Sakai combina o acrílico com pastel de óleo, oferecendo-nos mais um livro de soberbas beleza e sensibilidade.


A inocência, o silêncio, a calma ou o escuro adquirem vida própria nas pinceladas de Sakai. Esse é um dos seus maiores méritos. 


Komako Sakai vive e trabalha no Japão, mas os seus livros já se encontram traduzidos em várias línguas. O êxito de The Velveteen Rabbit, uma adaptação do clássico escrito pela britânica Margery Williams, editado em inglês em 2012, tornou-a ainda mais conhecida no mundo da literatura para a infância.


 Dele e do mais recente livro de Sakai, Hannah's Night, falaremos a seguir.