Casa de Família | Sophie Blackall | Fábula
Blackall é uma daquelas autoras que seguimos incondicionalmente. Com mais de cinquenta livros editados, premiada por várias vezes, incluindo a Caldecott Medal com o seu Olá Farol!, continua a deslumbrar-nos a cada novo livro.
Depois de aqui termos falado do nosso fascínio por livros sobre casas a propósito de Casa, de Carson Ellis, a chegada desta Casa de Família não podia ser mais oportuna. Inspirada numa quinta em ruínas do séc.XIX, localizada no estado de Nova Iorque, a autora decidiu reconstruir no papel o que o tempo tinha destruído, celebrando assim a vida e as rotinas diárias da família com 12 crianças que ali viveu. Para além dos seus habituais materiais, tinta da China, aguarela, guache e lápis de cor, Blackall utilizou ainda toda a espécie de objectos encontrados nas ruínas da casa: papel de parede, cadernos, jornais, sacos de papel pardo, roupas, lenços, cortinas e cordéis. O resultado é um livro magnífico onde, nós leitores, queremos morar vezes sem conta.
A imensidão do campo e o estilo rústico dão as boas-vindas ao leitor, mas é a família numerosa que nos recebe a posar para o retrato de família que prende o nosso olhar. As crianças, que são muitas, enchem a casa toda e despertam a nossa curiosidade. Queremos conhecer a vida desta família numerosa e Blackal conduz-nos com mestria. As brincadeiras, as travessuras, os risos e os choros, as leituras, os sonhos... vão sendo revelados ao leitor através de pequenos blocos de texto em painéis amarelecidos e das deliciosas ilustrações que se espraiam a cada página, evidenciando múltiplos detalhes do dia a dia. Ilustrações feitas de camadas, como nos conta a própria autora. Umas mais visíveis do que outras, como acontece com as histórias à medida que são contadas e recontadas ao longo dos anos.
Ao leitor é permitido conhecer as escolhas que cada um fez. As profissões, a diversidade e a riqueza dos caminhos de todos e de cada um. Assistimos ao momento em que a filha mais nova, já velhinha, deixa a casa. Acompanhamos a saída, detectamos os laços que continuam a unir os irmãos e observamos a porta entreaberta para um sem número de memórias.
Histórias, acrescentamos nós, que perduram neste precioso e incrível livro. Feito de retalhos e de afectos, de memórias reais e imaginadas por quem quer perpetuar vivências e um tempo passado num lugar que agora é seu. Uma casa onde, independentemente da idade, todos vamos querer passar muito tempo.
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