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sexta-feira, 8 de julho de 2022

Dança


 






















Dança | Inês Fonseca Santos e André Letria | Pato Lógico


Para Friedrich Nietzche, um dia sem dançar seria um dia perdido. Talvez só os amantes da dança entendam o alcance das palavras do filósofo. Mas, goste-se mais ou menos de dançar, é impossível ficar indiferente a esta Dança do Pato Lógico que, ao longo de 72 páginas, nos ritma os sentidos e nos deixa uma gigantesca vontade de dançar horas a fio.

 






















Depois de Mar e Teatro, este é o terceiro livro da coleção de Atividários (atividades + abecedário), livros temáticos organizados por ordem alfabética e que contêm propostas de atividades. De A a Z, o universo da dança é aqui percorrido por múltiplas referências artísticas, históricas, científicas... Bailarinos, coreógrafos, passos, marcações, ensaios, tipos de dança, movimentos que marcaram a história da dança, filmes, lugares... nada parece ter ficado de fora, nem mesmo a dansa mais leve de Sophia de Mello Breyner.























Tendo contado com a consultoria científica de Daniel Tércio, os autores oferecem-nos um pequeno tratado sobre a arte de movimentar o corpo, que nos acompanha deste sempre. Há toda uma parafernália de vultos que, de alguma forma, deixaram o seu nome escrito na história da dança. Isadora Duncan, Josephine Baker, Fred Astaire, Trisha Brown, Camargo, Mantero, Vaslav Nijinsky, Rudolf Nureyev, Pina Bausch, são apenas alguns dos exemplos. De todos e com todos, é possível aprender algo mais. Melodiosamente, Fonseca Santos conduz-nos numa fabulosa viagem, onde não faltam os compassos pintados por Picasso ou Degas ou os filmes que  puseram gerações a dançar, como a Febre de Sábado à Noite ou Dirty Dance. Os magníficos desenhos de Letria demoram-nos os olhos a cada página, como se cada um fosse o par certo. 























Dança é toda essa multiplicidade e riqueza de informação, mas não se apresenta ao leitor como um mero livro informativo. Antes, surge como um movimento gracioso e irresistível pintado em tons rosa e preto, onde texto e imagens se entrelaçam harmoniosamente para todos e qualquer tipo de dança. Um lugar precioso onde diferentes gerações se podem encontrar e que fará as delícias de toda a família aí por casa.

 
























Aplausos! Muitos! Agora que chegámos ao fim, recomeçamos esta Dança. Sozinho, a pares ou em grupo, Let's dance!

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Mudar






Mudar é o novo livro da colecção Imagens que Contam, editada pelo Pato Lógico. Em tons azuis e amarelos, Ana Ventura está de volta. E que saudades tínhamos de voltar a ver o seu trabalho!



A viver atualmente na Bélgica, a autora inspirou-se na sua experiência pessoal para nos contar uma história sobre mudança, escolhas, incertezas, adaptação a novas realidades, encontros, aventuras...
"A ideia para a história surgiu quando, numa tarde de Outono ao atravessar o parque da cidade em Antuérpia, apanhei uma folha do chão.  Pensei: "Está a mudar de cor, está a adaptar-se a uma nova realidade".


Nas palavras da autora, "Mudar fala de alguém que, por qualquer razão, decide partir, ir para um território desconhecido à procura de uma vida melhor. Sair da zona de conforto, escolher o que levar, o que deixar, as incertezas, o entusiasmo da aventura, a reacção dos que ficam e dos que nos recebem são coisas que fazem parte dum processo complexo de adaptação." 



"Este livro é uma metáfora sobre os dias de hoje em que todos nós, seja pela aventura, pelo trabalho, pela religião, pela guerra, por amor, pela família, pela curiosidade, viajamos, circulamos, mudamos e nos misturamos pelo mundo fora. As ilustrações foram inspiradas em locais, casas, lojas, plantas, amigos e familiares que vou conhecendo."




Esta é uma narrativa visual em que gostamos de tudo. Das silhuetas tão ao jeito de Ventura, do que elas transportam, dos espaços, dos silêncios que até o leitor consegue viver. Um lugar onde nos queremos demorar. E, certamente, uma das nossas escolhas este ano.

 


quinta-feira, 25 de março de 2021

Discórdia.


 























Discórdia, da autoria de Nani Brunini, é o nono livro da colecção Imagens que Contam, editada pela Pato Lógico. A  colecção nasceu, há cerca de oito anos,  como um espaço de liberdade criativa para artistas visuais, em que cada convidado é desafiado a imaginar uma narrativa contada exclusivamente através de imagens.











Brunini aceitou o desafio e o resultado é uma magnífica narrativa visual à volta de um tema que nos envolve a todos. Brasileira de nascimento, tendo vivido em vários lugares como São Francisco e Londres, a autora terá vivenciado de perto as divergências de opinião de amigos e familiares acerca de acontecimentos como a chegada de Trump e Bolsonaro ao poder ou o Brexit. Na vida, muitas vezes, as diferentes posições são elevadas a um extremo que conduzem ao corte de relações e a zangas intermináveis. Foi esse o ponto de partida para esta discórdia.























 

O que começa por ser uma opinião diferente de duas pessoas, vai-se transformando numa acesa celeuma. A cada lado das duplas páginas vão chegando novos partidários que contribuem para a gigantesca polémica. O pequeno formato das personagens dispostas no vazio branco das páginas, acentua ainda mais o enorme ruído que se vai gerando. Sem necessidade de palavras, ele chega ao leitor através da nuvem que se foi instalando, pintada com as duas cores da controvérsia. A cada virar de página, as posições surgem mais extremadas, sugerindo que chegámos a um ponto em que os argumentos da cada um já não são audíveis. Querem saber quem ganha e quem perde? Se há vencedores e vencidos? Abram o livro e ouçam o barulho ensurdecedor que por lá se faz.
 

























Não deixem de o fazer com as crianças porque este é um livro para todas as idades. Os temas que inspiraram a autora ( podem ver aqui a entrevista que deu ao blogue Letra Pequena) podem ser do mundo dos adultos, mas assistir a esta discórdia fará bem a leitores de todas as idades e tamanhos. Afinal, como diz o Pato, Discórdia é um livro para quem está cansado de gritaria. E não estamos todos?

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Eu Vou Ser


Um livro, um jogo, um lugar onde se celebra o 30º aniversário da Convenção sobre os Direitos da Criança. Para descobrir e voltar. Muitas vezes. É o último livro da dupla Letria, que volta a um formato que tanto encantou miúdos e graúdos. Quem não se lembra dos magníficos Estrambólicos e De Caras?

O texto de José Jorge Letria e as ilustrações de André Letria estendem-se por 16 páginas, cada uma dividida em três. E como 16 ao cubo é igual a 4096, este é o número de combinações possíveis que conseguimos alcançar. Brincar com todas elas, misturando-as vezes sem conta, é um desafio irresistível. Construir uma multiplicidade de surpreendentes personagens e jogar com os textos que as podem acompanhar, faz o deleite dos seus destinatários. 


Eu vou ser o aroma da aurora, uma ideia corajosa, um horizonte de silêncio e paz, a medida das coisas justas, um segredo tranquilo, um sonho de aventura... 
Eu Vou Ser é uma espécie de manual de sonhos, bem ao alcance das mãos pequenas. A clássica pergunta "O que vais ser quando fores grande?" adquire, aqui, uma outra dimensão. Neste lugar, todos podem ser o que quiserem. E, não menos importante, da forma que quiserem. Não é todos os dias que conseguimos ter cabeça de caracol ou cara de donut...


Tragam as crianças até cá e deixem-nas sonhar. E, já agora, sonhem com elas. Afinal de contas, quem não gostaria de ser um segredo tranquilo que em silêncio tudo diz como um sopro de magia?  Ou a medida das coisas justas que anuncia a felicidade como um feitiço por cumprir? Oum sonho de aventura que tudo faz dançar na rua como uma folha esvoaçando sem parar? Ou...

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Um Milhão de Rebuçados ou a história de um livro sem tosses


São tão bons, tão bons, que até se vendem nas farmácias! Os livros? 
Não, os rebuçados. Mas bem poderiam, ou melhor, deveriam ser ambos. Porque os milhões de rebuçados que a editora Pato Lógico decidiu desenrolar no livro recém editado são mesmo muito bons! 
Apetece dizer : REBUÇADOS E LIVROS À VENDA NAS FARMÁCIAS, JÁ! 
Os primeiros são amigos do peito. Os últimos, do coração.


Antes mesmo de referir o nome, a grande maioria já os reconheceu. Os tons vermelho e azul, o rosto a tossir... Sim, são os rebuçados Dr. Bayard. Avulsos ou em pacotinhos, acompanham-nos há  décadas, transportando uma mensagem que já vem do tempo dos avós e dos pais:
Não sofra mais, experimente os rebuçados peitorais.


Com texto de Inês Fonseca Santos e ilustrações de Marta Monteiro, o livro surge no âmbito da comemoração dos 70 anos dos rebuçados do Dr. Bayard e desenrola muitos rebuçados para nos contar a história da incrível amizade que deu origem ao nascimento destes amigos do peito.


Para revelar tudo ao leitor, Fonseca Santos escolheu um sortudo petiz que vive na rua da fábrica dos rebuçados Dr. Bayard, uma rua com cheiro e sabor a rebuçados. À boleia da sua bicicleta e dos muitos rebuçados que vai saboreando, conhecemos Álvaro Matias,  o grande responsável por estarmos aqui hoje a falar dos rebuçados, e o médico francês Dr. Bayard.   O acaso apresentou-os numa mercearia ali para os lados de São Bento. O primeiro deixara a aldeia para trás e chegara a Lisboa em busca de uma vida melhor. O segundo fugira dos horrores da guerra e procurara refúgio entre nós. Uma amizade improvável noutra qualquer altura? Talvez. Mas, partilhando o pouco ou muito que tinham, tornaram-se amigos inseparáveis. 

                                                                                                                                        
Com o fim da guerra, o médico pode finalmente, voltar a França. Não sem que antes entregasse ao amigo português uma lata onde se via desenhado um senhor a tossir. Lá dentro, a receita dos rebuçados capazes de eliminar todas as tosses. E foi essa receita, sem quantidades especificadas, que Álvaro Matias tornou num projecto de vida. Seu e da família.


O livro revela todo o percurso das bolinhas medicinais. As tentativas, as experiências diversas, as primeiras maquinetas inventadas por Álvaro, a venda de porta a porta... o sucesso dos nossos amigos do peito, o aperfeiçoamento dos métodos, as primeiras máquinas a sério vindas de Itália. Uma gigantesca viagem que culmina na Fábrica que hoje produz Um Milhão de Rebuçados por dia e onde trabalham 16 pessoas. Entre elas, um filho e dois netos de Álvaro Matias. Ah, e porque o pequeno vizinho da fábrica é mesmo curioso até ficamos a saber os ingredientes... ou quase todos.


Um livro que prende o leitor do princípio ao fim. As palavras cativam-nos, desvendando, de forma magnífica, uma história que poucos saberiam. As deliciosas ilustrações de Marta Monteiro, com a exclusiva paleta de cores do invólucro dos rebuçados, acrescida do dourado associado ao ditos, fazem-nos percorrer cada recanto do livro com água na boca. 


Deixem-se de tosses! Não sofram mais, saboreiem o livro e os rebuçados peitorais. Do Dr. Bayard.


E não saímos dos domínios da editora Pato Lógico sem vos dizer que  a colecção   Grandes Vidas Portuguesas já conta com mais dois títulos. Sim, saem aos pares!


Sophia de Mello Beyner Andresen. Quem era Sophia?  com texto de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada e ilustrações de Sara Feio. 
Carmen Miranda. Eu Fiz Tudo Pra Você Gostar de Mim, com texto de Tito Couto e ilustrações de Sofia Neto. Podem ler mais sobre a colecção e outras biografias aqui e aqui.

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Desconcertinas


Somos fãs da colecção Desconcertinas, da autoria de André Letria, editada pela Pato Lógico.  Degelo e Impulso são os novos títulos que se juntam aos já existentes Incómodo, Destino, Outono e Partida.

Gostamos do formato pequeno e desdobrável, que alberga histórias só de imagens. Elas, as histórias, encantam-nos. Algumas harmoniosas, todas desconcertantes, para desvendar até à surpresa final, diz o Pato. Concordamos.



Um saltador, a concentração, um acto solitário... a busca da perfeição. Uma história que leva miúdos e graúdos a ter o impulso de encontrar palavras para a contar. Serão necessárias?


Os invernos são sempre longos de mais. As primaveras deviam chegar mais cedo. Cabe ao leitor descobrir porquê.

sábado, 10 de novembro de 2018

Temas Difíceis em Tempos de Desassossego


Será a literatura infantil território propício para acolher histórias de guerra ou histórias duras de vida como as dos milhares de migrantes e refugiados que todos os dias nos entram em casa  carregando a vida às costas, sem horizontes definidos?


 
A GUERRA ENTRISTECE, ESMAGA E CALA.

A mediatização do mundo transformou em lugar comum a expressão "tudo está ao alcance de um clique". A criança de hoje cedo convive com acontecimentos trágicos sem que, muitas vezes, o adulto ao seu lado disso se aperceba. Não há censura possível sempre que temos uma televisão ligada e as imagens de destruição e violência, de que os conflitos e as guerras se alimentam, nos entram em casa. O livro pode acordar os seus medos, é certo, mas também a faz pensar, questionar e refletir sobre realidades que, mais cedo ou mais tarde, irá  conhecer. Afinal, não é nisso, que todos nós, adultos, acreditamos? Que o poder da literatura, enquanto geradora de um fazer pensar e de um fazer questionar,  é formar pessoas que saibam pensar por si, com capacidade para dizer não e transformar o mundo num lugar melhor? 

A GUERRA TOMA A FORMA BRUTAL DE TODOS OS MEDOS

As crianças devem saber que o mundo está povoado também de coisas más e estar preparadas para elas. A frase é de Tomi Ungerer, nome grande da LIJ. Não há temas  proibidos na literatura, o leitor tem de ser respeitado, independentemente do seu tamanho ou idade. Maurice Sendak, outro vulto da literatura, afirmava que não podemos subestimar a inteligência das criançasA sua capacidade de assimilar informação, de a  pensar à sua maneira, de questionar tudo e todos com genuína curiosidade.

A GUERRA NUNCA FOI CAPAZ DE CONTAR HISTÓRIAS

A Guerra, com texto de José Jorge Letria e ilustrações de André Letria ( ed. Pato Lógico) é um desses livros onde ninguém deve ficar à porta. Crianças, jovens e leitores adultos têm aqui uma ponte de excelência para um dos temas mais inquietantes da humanidade. Recentemente seleccionado para o White Ravens 2018, catálogo anual da Biblioteca Internacional da Juventude, a maior e mais prestigiada biblioteca de literatura infanto-juvenil do mundo, o livro transporta-nos numa viagem sombria e solitária. 




A GUERRA NÃO OUVE, NÃO VÊ E NÃO SENTE.


O texto compõe-se de 17 frases curtas, onde tudo parece caber, dispostas a cada dupla página e começando  invariavelmente  por " A Guerra...". As poderosas e magistrais ilustrações de André Letria, em tons sombrios e negros, vão contando, em paralelo, a essência da guerra. A paleta de cores esgota-se com os castanhos e cinzas que mostram os seus efeitos devastadores. Porque a guerra tem todos os rostos da maldade que impõe. Não há rostosNão há tempo nem lugar determinados. Pelo meio, há silêncios. 




A GUERRA TEM SONHOS DE GLÓRIA QUE TUDO INCENDEIAM.

É um livro poderoso. Que nos deixa, progressivamente, sem fôlego. A cada virar de página, o leitor é confrontado com um cenário onde pontificam bombas, aviões, armas...  Mas também com a sua pequenez, a sua  impotência perante a destruição. De livros, de florestas, de cidades, de gentes. Seguramente, uma das nossas escolhas em 2018.

UMA LONGA VIAGEM



Reflectir sobre a guerra e sobre todo o mal que ela pode causar é, muitas vezes, a forma mais  assertiva de responder às questões colocadas pelos mais novos sobre as razões que levam milhões de pessoas a migrar, deixando para trás família, amigos, casa, escola, pertences... 

– É hora de partir, pequena.
– Porquê, mamã? – 
O frio está a chegar e não podemos ficar aqui.
– Então para onde vamos?

– Para sul
Uma Longa Viagem, com texto de Daniel H. Chambers e ilustrações de Federico Delicado, editado pela Kalandraka, é um livro que nos inquieta da primeira à ultima página. Silenciosamente, o leitor percebe, desde o inicio, que esta é uma história de duas famílias, de duas viagens que se iniciam em paralelo. 


– Preparem-se, temos que ir embora!
Para onde papá?

– Não sei, mas para algum sítio longe daqui.

– Porquê?
– Porque a guerra já começou.

Os destinos são diferentes. Enquanto a mãe gansa e a sua cria rumam para Sul fugindo ao inverno rigoroso, uma família inicia a sua fuga da guerra, em direcção ao Norte. O sentido contrário da rota não exclui, antes evidencia, as coincidências entre os voos e os passos destes viajantes perante as intempéries e as adversidades que vão encontrar. Desde logo, o medo e a recusa dos mais pequenos em partir. Mas também o tempo, a fome, o cansaço, os encontros indesejados...  A viagem, porém, vai clareando as diferenças na forma de solucionar as contrariedades.  



A intensidade e o realismo das ilustrações de Federico Delicado, que já conhecemos de Ícaro, também editado pela Kalandraka, levam o leitor a percorrer, cá em baixo, os anseios, a tristeza, a fome, o cansaço, a angústia, o desalento... que marcam definitivamente o percurso das famílias em fuga. Mas também a voar à boleia das asas das aves que, naturalmente, buscam um novo paradeiro. 


Uma viagem repleta de metáforas, que evidenciam a luta e a coragem de quem é obrigado a trilhar estes caminhos. Em busca de paz. Em busca de um lugar que os mais pequenos possam voltar a chamar de casa. Onde ainda caibam os sonhos. 


Por fim, a chegada ao mar. O ponto para onde ambas as rotas convergem e se cruzam. O  medo volta a tomar conta de todos. Ao leitor resta uma única certeza. Embora  todos alcancem a margem que ansiavam, aquilo que os espera será completamente diferente. 
Um livro marcante, para partilhar com leitores de todas as idades. Uma das nossas escolhas em 2018.

A VIAGEM


Como será deixar tudo para trás e percorrer quilómetros e quilómetros rumo a um destino longínquo e estranho?
A interrogação pode ler-se na contracapa do livro A Viagem, de Francesca Sanna, editada entre nós pela Fábula. Um livro tão delicado quanto intenso, que nos desassossega e comove da primeira à última página. Um relato  emocionante de uma mãe que, fugindo da guerra,  parte com os dois filhos numa viagem feita de medos, perigos e incertezas.  


Costumavam ser uma família igual a tantas outras. Viviam numa cidade junto ao mar, iam à praia aos fins de semana... Um dia, a guerra chegou e tudo se desmoronou. Sem aviso, levou-lhes o pai. Contada por uma das crianças, esta é uma história como a de tantas outras famílias que atravessam o Mediterrâneo rumo à Europa.


Magistralmente ilustrada, é pela leitura visual que ficamos a conhecer grande parte dos detalhes dos dias que antecederam a fuga, como a busca que a mãe faz para se documentar sobre o novo país para onde leva os filhos, a dolorosa despedida do gato... 


Carro, bicicleta, camioneta, a pé...  são as imagens que, mais uma vez, nos dão conta do  sofrimento que vão experienciando, escondidos de tudo e de todos nas florestas das noites escuras. Mas também da coragem de que necessitam. Para enfrentar o medo, aqui tão bem personificado por esse assustador guarda gigante que os manda de volta à floresta, e toda a espécie de perigos.


À noite, as crianças redobram os medos. Os braços da mãe, que não tem medo de nada, são o seu porto seguro. Mas, ao leitor não passa despercebida, através de uma notável dupla de imagens, o momento em que as crianças adormecem e a mãe pode finalmente chorar. 


A Viagem é, na verdade, uma história sobre muitas viagens, e c começou com a história de duas raparigas que conheci num campo de refugiados em Itália. Depois de as conhecer, apercebi-me de que havia algo muito poderoso por trás da sua viagem. 
O pequeno texto consta de uma nota da autora, onde Senna termina, acrescentando: 
Quase todos os dias ouvimos nas notícias as palavras "migrantes" e "refugiados", mas raramente se fala das viagens pessoais que eles tiveram de fazer. Este livro é uma colagem de todas essas histórias de vida e da extraordinária força dos seus protagonistas. 



A esperança resiste. À espera do dia em que voltem a encontrar uma casa, onde possam recomeçar a sua história, as suas vidas. 
Também aqui os pássaros os acompanham, migrando para outro destino. A diferença, como se diz no texto, é que eles não têm de atravessar fronteiras.  
A Viagem é uma das nossas escolhas em 2018. Acima de tudo, é um livro que passámos a acompanhar em permanência junto dos nossos leitores de todas as idades.