quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Espera, Miyuki. E se ler um livro por dia fôr uma vacina contra a pandemia?

3. Espera, Miyuki de Roxane  Marie Galliez e Seng Soun Ratanavanh | Orfeu Negro

Nunca a palavra paciência nos pesou tanto como nestes dias intermináveis que vivemos. Às vezes, pensamos que se nos pedissem para formular um desejo, pediríamos que fossem inauguradas fábricas de paciência. Uma vez abertas, agarrávamos nas nossas crianças e íamos buscar as doses necessárias. Porque são elas, as crianças, quem mais precisa.
O livro que hoje escolhemos não podia ter chegado em momento mais oportuno, já que esta temática se tornou recorrente com os mais pequenos. 
A pequena Miyuki não vê a hora de ir lá para fora festejar a chegada da primavera. Apressa o avô, não entendendo porque, numa data tão importante, o dia despertou primeiro que ele. O avô não tem essa pressa, sabe que o dia é grande... Mas, Miyuki quer a sua companhia não só para saudar a chegada da nova estação, como também para se despedir do último luar de inverno.  Os dois acabam indo jardim fora, envoltos num espectáculo de cores, dando os bons dias às cerejeiras e a todas as flores com que se cruzam.







Miyuki, atenta a todos os detalhes de um dia tão importante, não pode deixar de reparar numa pequena flor, que tal como o avô, parecia não ter pressa em despertar. Não era possível que não desabrochasse a horas de saudar a primavera. O sábio avô bem lhe explicou que nem todas flores dançam ao mesmo tempo. Que, por ser mais frágil e preciosa, aquela aguardava a água mais pura... Mas a impaciência da pequena não se compadecia com tanta explicação e antes mesmo do avô acabar, já ela andava à procura de água para a pequena flor.








































Miyuki não mediu esforços  na sua busca.  Um poço seco, uma nuvem vaidosa e presumida, uma cascata, um rapaz... Falou com todos, mas as palavras "agora" e "já", que  evidenciavam a sua impaciência  e alguns percalços próprios da pressa, impediram  que alcançasse o que procurava. 
Sem água para a pequena flor, a menina só voltaria a casa no dia seguinte, trazida pelo rio.
Às vezes é melhor ir devagar, dissera-lhe ele. 







































Com um final delicioso, este é um livro onde a poesia atravessa texto e imagens. Celebrando a cultura japonesa, os alegres e elegantes padrões florais pintados em tons vermelhos, verdes e amarelos são um festim para os olhos. Objectos como o quimono ou o fabuloso cisne de origami não deixam dúvidas ao leitor sobre os magníficos lugares que visita. 
Agarrem nas crianças, que facilmente se identificarão com Miyuki, e passeiem-se, pacientemente,  por este lugar encantado onde se cultiva a arte de saber esperar. 
Não nos cansamos de vos dizer que um livro por dia pode bem ser uma vacina contra a pandemia.


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