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segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

A Casa Suspensa nas Árvores

Livros para ler antes de 2022 desaparecer




A Casa Suspensa nas Árvores | Ted Kooser e Jon Klassen | Orfeu Negro

"Não muito longe daqui, vi uma casa suspensa nas mãos das árvores. Esta é a sua história."

Kooser é um poeta laureado que, de quando em vez, faz umas incursões pelo universo dos mais novos. O tom poético da sua escrita e a forma como entrelaça as palavras oferecem ao leitor uma história onde  o tempo e o espaço se unem numa intimidade única. As ilustrações de Klassen, no estilo minimalista a que já nos habituou, parecem perpetuar o isolamento e os silêncios vividos na história.











A imagem da casa no meio de um descampado marca o inicio da narrativa. Duas crianças  correm em direcção aos frondosos bosques vizinhos que abrigam toda a espécie de árvores. É lá que se situam os lugares secretos onde brincam na companhia dos pássaros. Por vezes, ficam apenas a observar o pai, que teima em aparar o relvado impedindo que qualquer semente ali possa germinar. Mesmo depois de um dia de trabalho, o homem ocupa o tempo a arrancar os rebentos que, ciclicamente, ali crescem trazidos pelo vento e pela chegada do outono.












Os anos foram passando. O pai foi envelhecendo. As crianças são, agora, um homem e uma mulher aptos a enfrentar o mundo. A proximidade do momento em que sairão de casa adensa a obsessão do solitário pai pelo perfeição do relvado. O envelhecimento do homem é acompanhado pelo da casa. A solidão é apreendida pelo leitor, quer através das palavras do poeta, quer pela sobriedade das ilustrações. 













A idade não perdoa e o pai sabe que aparar aquele relvado já não é para ele. O homem acaba por ceder e muda-se para a cidade, para mais perto dos filhos. A casa é posta à venda, mas o árido descampado não atrai compradores. Com o decurso do tempo, até ele acaba por deixar de ir até lá. 











Cada vez mais velha, sem tinta, sem telhas, sem vidros, só a mãe natureza se interessa por ela. Curiosamente, numa casa onde, por omissão, o leitor sempre soube que não havia uma mãe. Os pardais escolhem-na para fazer o ninho e as sementes já não têm quem as impeça de crescer. São elas, as jovens árvores que tinham começado a crescer, que abraçam agora o que resta da casa. 


sábado, 26 de fevereiro de 2022

Uma Pedra Cai do Céu

 






















Uma Pedra Cai do Céu | Jon Klassen | Orfeu Negro

Num cenário minimalista, onde todos os silêncios se fazem ouvir,  três personagens parecem oferecer-se como objeto de estudo para um qualquer tratado de relações sociais. Dividida em cinco capítulos, a história reveste-se de um humor desconcertante, capaz de nos fazer pensar em Klassen como um discípulo nato de Edward Gorey





















Este foi o livro que se seguiu à trilogia dos chapéus, o que é facilmente detectado pelo leitor. As personagens são-nos familiares. Cruzámo-nos com elas em Onde está o Meu Chapéu?, o último livro de que falámos. De forma semelhante, as falas das personagens distinguem-se pela cor diferenciada. A paleta de cores confirma que entrámos no universo do autor. Os chapéus (Este Chapéu não é Meu), com mais ou menos variação, permanecem na história, mas sem o protagonismo que já conheceram. Aqui, o importante é a pedra. 














Quando abre o livro, o leitor já sabe que uma pedra vai cair do céu. O título deixou-o alerta. Não sabe quando nem como. Não conhece as consequências. Mas, a espaços, vê a pedra e a queda é iminente. O suspense e a expectativa habitam-no quando entra naquele cenário desértico . De um lado, apenas uma pequena flor. Do outro, uma pequena planta. Aguardam-no uma tartaruga e um tatu, ambos com chapéus de coco, numa clara e assumida evocação de Samuel Beckett e do seu À Espera de Godot.
























Uma tartaruga orgulhosa e obstinada faz a apologia do seu sítio preferido. Precisamente, aquele onde se encontra. O melhor de todos! O tatu não sente o mesmo por aquele lugar, tendo mesmo um mau pressentimento. Decide-se pela página do lado. Simpático, lança o convite à sua interlocutora. Mas, ela é demasiado teimosa e inflexível para isso. Curiosamente, é o ciúme que a salva. É quando a serpente, a terceira personagem, se junta ao tatu, que a tartaruga enciumada, se decide a atravessar a página. Concluída a travessia, os três observam a queda da pedra, ou melhor, da rocha, bem em cima do lugar preferido da tartaruga. Ao leitor, o estrondo parece audível.
























Uma hilariante estranheza atravessa todos os capítulos. Ao perigo da queda da pedra, junta-se o do aparecimento de um alien num futuro imaginado pelo tatu no único capítulo que foge ao vazio do cenário. O vai-vem entre páginas é uma constante. O espaço ou a falta dele assume uma importância crescente. Os diálogos são um desfiar de conversa fiada que transmitem ao leitor a forma de ser de cada uma daquelas criaturas. De um lado, um tatu paciente, conhecedor e prestável. No outro, uma tartaruga com um ego gigante, mentirosa q.b., que nunca tem dúvidas, que nunca precisa de ajuda, que nunca está cansada... Pelo meio, há ainda uma serpente low profile, que parece decidir-se sempre pelo lado certo.












Tudo, debaixo de um incrível céu, onde um deslumbrante pôr do sol nos faz querer permanecer. Vão, mas não deixem de reflectir sobre o lado que escolhem. É que do céu não cai só uma pedra. 

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Quero o Meu Chapéu. Um regresso há muito esperado




Quero o Meu Chapéu | Jon Klassen | Orfeu Negro

Chapéus há muitos, nós sabemos, mas este é especial! Diferente, vermelho e pontiagudo... Quero o Meu Chapéu é um livro hilariante, finamente construído e inteligentemente desconcertante. Integra a espécie, tão nossa conhecida, "outra vez"... 
Foi assim que, em 2014, escrevemos aqui sobre este livro e festejámos a chegada de Klassen a Portugal. Oito anos volvidos, saudamos a reedição, há muito esperada, da história deste urso de aparência bonacheirona e doce que, tendo perdido o seu chapéu, decide perguntar a cada um dos animais que vai encontrando, se o viram. Independentemente da resposta obtida, revela-se um urso polido e educado, a todos agradecendo... Será? 

segunda-feira, 16 de julho de 2018

O Lobo, O Pato & O Rato. Regresso ao Quadrado.


Mac Barnett e Jon Klassen estão de volta. Pela mão da Orfeu Negro,  a dupla de Uma Aventura Debaixo da Terra e de Triângulo regressa, agora, ao Quadrado


Geometricamente falando, este é o segundo livro. Do primeiro, Triângulo, falámos aqui. Na altura, a propósito de Klassen, relembrámos o que tínhamos escrito em 2013:  Enquanto ilustrador, Klassen é portador de um estilo inconfundível. Minimalistas, as suas ilustrações parecem conter apenas o essencial para nos encantar e deixar incondicionalmente à espera do próximo livro. A utilização de uma paleta de cores, onde predominam, em regra, os tons terra, sépia e negro é outra das suas características. Mas é, sobretudo, o humor desconcertante que quase sempre expressa nas suas ilustrações, que encanta pequenos e grandes leitores. 
Hoje, voltamos a dizer que os mais pequenos têm razões para sorrir.


O Quadrado é já nosso conhecido. As crianças não terão esquecido o susto causado pelas  partidas que o brincalhão do Triângulo lhe pregou. Desta feita, temos oportunidade de o conhecer um pouco melhor e ficamos a saber que ocupa o tempo na sua gruta secreta, tirando blocos de pedra que  empurra até ao topo da colina. Depois, empilha-os, obtendo verdadeiras obras de arte. Um trabalho maravilhoso que não passa despercebido à sua amiga Círculo.


O Quadrado não sabe sequer o que é um escultor, mas a sua amiga acha que é isso que ele é. Mais,  conhece-lhe as aptidões e considera-o nada mais nada menos que um génio. Por isso, encomenda-lhe um trabalho específico.  Mais uma vez, o Quadrado está em apuros. De natureza diferente, é certo. A  verdade é que não se sente capaz de executar o trabalho que a amiga Círculo lhe pede, duvidando de si mesmo e vendo a perfeição, que sempre almeja, longe do seu horizonte.


Sem querer antecipar o resultado final, sempre diremos: espectacular! Sim, concordamos com a Círculo. Este Quadrado é um génio. Vão de férias? Levem-no que ele pode ser uma ajuda preciosa! Os miúdos agradecem.

O Lobo, O Pato & O Rato. 
 Uma história pronta a ser devorada, mesmo em férias



Um dia, pela manhã, um rato encontrou um lobo e foi logo engolido. 

Mau, mau! Isto mais parece o final do que o começo da história. Bom, depois de séculos de histórias, se há algo que já aprendemos é que quando metem lobos são sempre imprevisíveis. Esta não foge à regra. Neste caso,  até a pequena criatura foi surpreendida depois de já ter previsto o próprio fim. Por isso, se estão à espera de fazer o percurso pelas tripas da fera, esqueçam lá isso.
Para seu (e nosso) enorme espanto, o que o rato encontra é uma barriga esmeradamente limpa, organizada a rigor e com uma decoração invejável. O responsável? Um pato bon vivant, amante de alta cozinha, de bom vinho e de música. Antes que perguntem: sim, é morador! 


Ainda mal refeito do espanto e já apaparicado com um belo pequeno almoço de boas vindas, o rato não aguentou de tanta curiosidade.  Cama, mesa, toalha, compota???
- Nem imaginas as coisas que se encontram na barriga de um lobo.
Nem ele, nem nós, leitores.


Klassen é igual a si próprio, com o estilo a que já nos habitou. Minimalista, com uma paleta de cores que já nos é familiar e sobretudo com esses olhos que possuem todas as suas personagens...
Os detalhes são maravilhosamente hilariantes. Placa de fogão topo de gama, um fantástico conjunto de facas, lps, aparelhagem... O rato estava rendido.
Claro que nem tudo é perfeito.  Ter uma ou duas janelas dava jeito. Mas depois de o pato esclarecer que tinha sido engolido mas não pretendia ser comido,  estava mais do que decidido.


O argumento final, esse foi de peso. Esta vida era muito melhor e mais despreocupada do que  a que tinha lá em cima, sempre com medo de ser engolido por um lobo. Primeiro estranha-se, depois entranha-se. O rato decidiu ficar e festejaram a preceito. 


A música e a dança provocaram um tal tumulto que o pobre lobo  quase morria de dores de estômago. O pato não se fez rogado, tinha a cura para as dores da fera, um remédio antigo indicado para acalmar as dores: um pedaço de bom queijo. E um jarro de vinho! E umas velas de cera de abelha. O jantar foi um luxo e o brinde, claro, foi à saúde do lobo!


O único senão foi que o remédio não surtiu qualquer efeito... e os gemidos do lobo acabaram por captar a atenção de um caçador que passava por perto. Mau, mau! Até o pato previu o fim. 
Mas o rato manteve o firme propósito de defender a casa. Afinal de contas, não seria justo, ainda agora comemorava a decisão de ali morar... A coragem, a determinação e a solidariedade foram grandes e o caçador acabou por fugir a sete pés.


Nesta fábula bem moderna, com um final de fazer inveja a Esopo, tudo acaba bem! Mais do que bem... Ao que parece, a dança passou a ser uma constante da vida naquela casa e o senhorio ainda hoje continua a uivar para a lua! Não deixem de dar um pulo até lá!

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Triângulo


A chegada de mais um livro da dupla Jon Klassen/Mac Barnett é sempre motivo para festejar. Desta parceria frutuosa, temos, entre nós, Uma Aventura Debaixo da Terra, também editado pela Orfeu Negro. Destinado ao público mais pequeno, chega agora Triângulo.




Um dia, o triângulo, que vivia numa casa triangular, decidiu ir pregar uma valente partida ao quadrado. Para chegar a casa deste, o triângulo teve de atravessar uma floresta povoada de triângulos pequenos, médios e grandes.  Depois deles, o triângulo passou ainda pela parte da floresta em que as formas já não eram triângulos, eram formas sem nome, até chegar, finalmente, ao território dos quadrados. Grandes, médios, pequenos...



Conhecedor do pavor que o quadrado nutre por cobras, o triângulo chega a casa deste determinado a pregar-lhe um valente susto. E podemos garantir que a tarefa que se propunha foi coroada de êxito. 


Em Dezembro de 2013, escrevíamos aqui que Klassen era um dos autores que muito gostaríamos de ver traduzido entre nós. Quatro anos volvidos, graças à Orfeu Negro, são  já vários os livros conhecidos em Portugal. trilogia dos chapéus (Este Chapéu não é MeuQuero o meu Chapéu e Achámos um Chapéu),  O Escuro, Uma Aventura Debaixo da Terra
Enquanto ilustrador, Klassen é portador de um estilo inconfundível. Minimalistas, as suas ilustrações parecem conter apenas o essencial para nos encantar e deixar incondicionalmente à espera do próximo livro. A utilização de uma paleta de cores, onde predominam, em regra, os tons terra, sépia e negro é outra das suas características. Mas é, sobretudo, o humor desconcertante que quase sempre expressa nas suas ilustrações, que  encanta pequenos e grandes leitores.


Triângulo não foge à regra. À semelhança de outros livros desta dupla, como Uma Aventura Debaixo da Terra e Extra Yarn,  há uma notável cadência entre texto e imagens. Com uma estrutura repetitiva e invertida, ao texto aparentemente simples juntam-se os jogos de sombras, os planos, as formas... que ora são montanhas que apetece escalar, ora são, com pernas estreitas e olhos grandes, personagens hilariantes.


Não pensem que o triângulo ficou sem resposta. Passado o susto, o quadrado decidiu percorrer o caminho inverso, até casa do triângulo. Quadrados grandes, médios, pequenos... A vingança serve-se fria! E o quadrado acaba por descobrir que o triângulo tem pânico do escuro. Ou já saberia?
Triangulem, triangulem! A criançada vai adorar.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Este Chapéu não é Meu

 Chapéus há muitos, mas os de Jon Klassen são únicos. 



Ainda os leitores se deliciavam com o genial I Want My Hat Back (em português, Quero O Meu Chapéu) e já o autor lançava This Is Not My Hat, livro vencedor da Caldecott Medal 2013 e da Kate Greenaway Medal 2014. Pela mão da mesma editora, a Orfeu Negro, o premiado  Este Chapéu Não É Meu já anda pelas nossas livrarias.


Entre outras coisas, os dois livros têm em comum não só um final invulgar, com uma boa dose de humor negro, como também um pequeno ladrão de chapéus e um legítimo dono de proporções que impõem respeito.


Em Quero O Meu Chapéu, de que falámos aqui, o protagonista é um urso bonacheirão que, de forma educada, vai perguntando a todos os animais com que se cruza, se viram o seu chapéu. O livro reserva-nos um final surpreendente, quando, sem qualquer rodeio, o simpático urso acaba por comer o pequeno coelho que se tinha apoderado do seu chapéu.


No livro que agora nos chega, há uma inversão de protagonismo. O pequeno ladrão que aqui vemos é o próprio narrador da história. E o factor surpresa surge  bem no início, quando o leitor é confrontado com a sua confissão: Este chapéu não é meu. Acabei de o roubar.


Apesar do crime cometido, a sinceridade da pequena criatura desencadeia no leitor um fenómeno de empatia que cresce página a página, na mesma proporção da ingenuidade que o narrador vai revelando.   


Brilhantemente construído, o livro conta-nos em simultâneo, duas histórias opostas, a das palavras e a das imagens. Enquanto o pequeno e confiante peixe fala do  roubo, das circunstâncias em que o cometeu, do mais que provável desconhecimento do dono do chapéu e do seu plano de fuga,  as imagens vão revelando uma realidade bem diferente.



A contradição entre as duas histórias é uma evidência. As imagens mostram ao leitor o oposto dos pensamentos que o pequeno peixe lhe vai confidenciando. Por exemplo,  enquanto ele nos conta que roubou o chapéu quando o peixe grande estava a dormir e que ele talvez não acorde tão cedo, vemos o peixe grande de olhos bem abertos... Quando ele invoca a esperança de que mesmo que o outro acorde, talvez não dê pela falta do chapéu, o olhar do peixe grande é bem elucidativo de que já deu pela falta dele... 



Klassen volta a um jogo minimalista de que tanto parece gostar, colocando no olhar das personagens uma boa parte da resolução do enigma das histórias. A forte convicção de que nunca será apanhado e a segurança dos seus planos de fuga são contrariados, a cada dupla página,  pelos planos dos olhos do peixe grande.



É um jogo hilariante, em que o leitor cedo descobre que sabe algo que escapa ao pequeno peixe. Apetece chamá-lo, avisá-lo... que o crime não compensa! Os leitores mais novos desassossegam-se a cada confissão desmentida pelo que os olhos vêem! É essa originalidade, consubstanciada no facto do leitor saber mais do que o  narrador, que parece desconhecer o seu próprio fim, que torna a história tão genial!



Consciente do seu crime, o pequeno ladrão organiza a fuga para um lugar onde as plantas crescem e ficam grandes e altas, muito juntinhas. Um sítio absolutamente seguro, onde se vê muito mal, o que lhe confere a certeza de nunca ser encontrado. É aí que o leitor o vê pela última vez,  emergindo no seu ultra secreto esconderijo. E mais não dizemos.


Com o estilo minimalista que o caracteriza, Klassen parece ter a virtude de nada deixar de fora. O formato horizontal escolhido para o livro e o aproveitamento da dupla página transmitem, na perfeição, a ideia de movimento inerente à fuga e à perseguição protagonizadas na história. De certa forma, a lembrar-nos Leo Lionni e o seu Nadadorzinho. O fundo preto escolhido pelo autor revela-se em verdadeira consonância com a boa dose de  humor negro de que a história se reveste. 


Com uma estrutura aparentemente simples, Klassen consegue, mais uma vez, uma história capaz de despoletar reacções bem complexas. Um livro inteligente e desafiador. 


Depois da visita dos ladrões de chapéus, resta-nos aguardar que a Orfeu Negro traga o próximo livro. Até apetece dizer: não interessa qual, Mr. Jon Klassen é sempre genial!

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O Escuro


Foi uma das nossas escolhas 2013. Há precisamente um ano, falámos aqui sobre o livro, na versão inglesa The Dark, de  Lemony Snicket e Jon Klassen. 
Na altura, escrevemos: Klassen tem um estilo minimalista. As suas ilustrações parecem conter apenas o essencial para nos encantar e deixar incondicionalmente à espera do próximo livro. The Dark foi o último livro ilustrado por si que nos chegou às mãos. Escrito por Lemony Snicket, pseudónimo utilizado pelo popular escritor americano, Daniel Handler, o livro aborda uma velha e recorrente temática na literatura infantil: o escuro e os medos que lhe estão associados.
E acrescentámos:  Se há autores que gostaríamos de ver traduzidos entre nós,  Jon Klassen é um deles. Somos fãs do seu extraordinário trabalho.


Um ano volvido,  O Escuro já se instalou nas nossas livrarias. Mais, este é já o segundo livro de Jon Klassen editado entre nós! O primeiro foi Quero O Meu Chapéu, de que falámos aqui. Que luxo! Que alegria! Obrigado à Orfeu Negro! Duas vezes, claro.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Quero o Meu Chapéu

Em Dezembro, a propósito das nossas escolhas de 2013, falámos aqui de Jon Klassen. Confessámos a nossa admiração pelo seu extraordinário trabalho e a imensa vontade de o ver traduzido entre nós.


Agora estamos em festa, pá. Porque Jon Klassen já está entre a nossa gente, trazido pela Orfeu Negro.


Chapéus há muitos, nós sabemos, mas este é especial! Diferente, vermelho e pontiagudo... QUERO O MEU CHAPÉU é um livro hilariante, finamente construído e inteligentemente desconcertante. Integra a espécie, tão nossa conhecida, "Outra Vez"...

 

Este urso de aparência bonacheirona e doce perdeu o seu chapéu e decide perguntar, a cada um dos animais que vai encontrando, se o viram. Independentemente da resposta obtida, revela-se um urso polido e educado, a todos agradecendo.


Com uma estrutura simples e de repetição ao nível do texto, as ilustrações espelham a sobriedade que caracteriza o estilo de Klassen em todos os seus livros. 


Num fundo sépia, a cor castanha do protagonista apenas rivaliza com o vermelho do seu chapéu e a fúria que sente quando, algumas páginas volvidas, se apercebe que foi enganado.


A magistral expressividade das personagens,  centralizada nos olhares que encontramos a cada página, seria só por si suficiente para contar uma boa parte da história.


A ingenuidade, a distracção, a “mentirinha atabalhoada” e o não ver o que está mesmo à frente dos olhos fazem parte das vivências dos mais pequenos, que facilmente os detectam.  


O movimento é agora o inverso e o confronto inevitável. Como inevitável parece ser a pressa que as crianças têm em descobrir o que se segue depois deste frente a frente... É aqui que vocês entram. Não percam esta fabulosa história, cujo final já vimos rotulado de inusitado, irónico, hilariante, cínico... 


Nós, que não resistimos a uma boa sessão de gargalhadas com a criançada, agradecemos o end com uma certa pitada  de Edward Gorey..E mal podemos esperar pelo próximo chapéu... É que a Orfeu já reservou a viagem para o livro THIS IS NOT MY HAT, com que Jon Klassen ganhou a Caldecott Medal o ano passado.