A preto e branco, as frases vão surgindo curtas. Lemos uma, duas... e mais vezes. Só podem ter sido feitas para preencher espaços vazios da nossa memória. Não queremos esquecer-nos de nenhuma. É um diário que atravessa as quatro estações do ano, pela mão de uma menina que celebra a vida em todas as páginas.
Não, não pode ser coincidência o facto de ser o último livro de Afonso Cruz! Podíamos escrever muito sobre ele mas, se calhar, bastará dizer isso mesmo, é um livro de Afonso Cruz. Dele se diz que é escritor, ilustrador, músico, cineasta, dono de talentos múltiplos... Para nós, é um ser habitado, em todos os dias do ano, por uma genial criatividade. São 138 páginas, num formato pequeno. Que apetece levar para todo o lado! Ao que parece, começou por ser pensado para crianças mas transformou-se e nasceu virado para leitores de todas as idades.
É o diário de uma menina que vai relatando, cronologicamente, pensamentos e observações que faz da vida. Decidimos lê-lo com hipopómatos mais pequenos. E foi assim, na Primavera:
21 de Março - Fiquei à janela a ver a noite deitar os pássaros nos ninhos.
1 de Maio - Todos os dias faço coisas estranhas, pois tenho medo do Instituto das Pessoas Normais.
4 de Maio- ... Mas, por via das dúvidas, fui para casa com os sapatos calçados nas mãos. (Como nós gostamos dela!)
15 de Junho- Tenho reparado que a grande diferença entre o Outono e a Primavera é que no Outono as plantas morrem e na Primavera nascem. A diferença só pode estar na chuva... deitarei Primavera no Outono.
Poderíamos continuar... porque nos perdemos em todas as páginas do diário desta menina que anda na rua, levando um jardim enorme na cabeça, sem que ninguém repare. Que às vezes, leva um deserto para casa. Que gosta de atirar palavras aos pombos. Apesar de eles preferirem migalhas.
Que sabe que para aquecer o corpo, o melhor é uma lareira. Mas, para aquecer a parte de dentro do corpo, o melhor é ler. Uma menina, a quem aborrece que Fevereiro nunca veja o dia 30 e tem pena deste mês. Ninguém tem culpa de nascer pequeno. Por isso, pensa nos dias que faltam e em inventá-los.
E nós descobrimos que foi exactamente no dia 30 de Fevereiro que começou a escrever este diário.
Aprendemos com ela que Não é preciso ser cientista para compreender as árvores, basta ser pássaro. Ou Abril.
Para se ser pássaro ou Abril, basta ler O livro do ano! Acrescentamos nós.
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