Corria o ano de 1938, quando a escritora Margaret Wise Brown, autora de vários êxitos infantis como o conhecido Goodnight Moon, decidiu convidar alguns vultos da literatura para escreverem livros para crianças. Ernest Hemingway, John Steinbeck e Gertrude Stein foram os contemplados. Enquanto os dois primeiros recusavam, Stein surpreendia não só por aceitar, mas sobretudo por afirmar já ter o livro escrito. Chamava-se O Mundo é Redondo.
O que talvez ninguém esperasse é que Stein impusesse algumas condições. As páginas deveriam ser cor-de-rosa e o texto impresso a azul. Mas essas não eram as únicas surpresas reservadas. Uma vez publicado, o livro, misto de prosa e poesia, revela um texto corrido onde a pontuação se faz apenas com o uso de vírgulas, poucas, e pontos finais.
“Não se importem com as vírgulas que não estão lá, leiam as palavras. Não se importem com o sentido que lá está, leiam as palavras mais depressa. Se tiverem alguma dificuldade, leiam mais e mais depressa até não terem”. Era o conselho da autora.
Quase oitenta anos depois, o livro chega a Portugal, pela mão da editora Ponto de Fuga. Nele podemos ler a emblemática divisa de Stein, a rosa é uma rosa é uma rosa. Aqui, a Rosa parece ter mesmo sido de carne e osso. Uma pequena de nove anos, vizinha da escritora, terá sido a fonte de inspiração. Ela, Pépé e Love, os dois cães que eram e não eram dela.
Rachel Caiano foi a ilustradora escolhida. A delicadeza e a beleza do traço das pequenas ilustrações, em perfeita sintonia com o texto, emprestam ao livro uma fina singularidade. Em 1939, Clement Hurd foi o ilustrador de serviço. Nos anos noventa, Roberta Arenson ilustrou uma deliciosa edição em formato de bolso. Se Gertrude Stein fosse viva, ficaria certamente muito feliz de ver a rosa é uma rosa é uma rosa que agora nos chega às mãos. Um luxo!
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