Há encontros felizes. Roubamos a frase a Carla Maia de Almeida para falar da sua parceria com Marta Monteiro, de que resultou Amores de Família, o livro recentemente editado pela Caminho.
Um álbum de família(s), onde se retrata com arte e subtileza a diversidade que hoje caracteriza esta instituição. Recompostas, monoparentais, com pais do mesmo sexo, de substituição ou adoptivas, as famílias deste livro têm em comum os afectos e as vivências de todos os dias.
Depois do êxito de Irmão Lobo, (atravessado pela história de uma família em desagregação), Carla Maia de Almeida volta à temática da família, com uma abordagem que surpreende pela originalidade. As famílias deste livro são inspiradas nos principais deuses e deusas da mitologia greco-latina, que a autora considera muito parecidos, afinal, com os humanos (tirando os poderes sobrenaturais).
Texto e ilustração fundem-se numa sóbria harmonia, resultando num livro singular e de poética beleza. Os textos curtos e magníficos, dispostos lateralmente a cada página, cedem a largueza da dupla página às ilustrações de Marta Monteiro, que nela se espraiam como retratos vivos do dia a dia de cada uma destas famílias.
Usufruindo do fundo branco, os tons quentes e apelativos, com predominância do azul e do laranja, ilustram na perfeição os afectos de que as palavras dão conta e as múltiplas histórias do quotidiano destas famílias, que podem ser encontradas em qualquer parte do mundo.
É um livro para ler em família. Várias vezes! A cada leitura, deleita-nos ver a forma como os mais novos vão descobrindo as subtilezas e revelando sinais de identidade com esses pais, mães, tios e avós, que têm tudo menos nomes vulgares.
Para adormecer, O Pai Neptuno conta cavalos-marinhos. Quando se zanga, levanta uma tempestade em casa que faz os barcos pequenos sentirem-se ainda mais pequenos. Assim que acalma, a maré baixa.
Energética e superorganizada (a Mãe Minerva), adora fazer listas de compras e planear as refeições da semana, seguindo os conselhos da roda dos alimentos. Com ela, as crianças sabem que nunca hão de encontrar comida de plástico na mochila.
O glossário existente no final do livro, certamente, tranquilizará os menos familiarizados com estas "coisas de deuses". Ao mesmo tempo que nos chama a todos para outra... e mais outra leitura! Procurando um lugar, escolhendo os nossos deuses...
E relembrando outros livros e outras famílias que ainda hoje fazem parte da nossa memória. Nos anos 80, Jorge Listopad escreveu no seu Álbum de Família:
16 desenhos
7 homens e 7 mulheres
Mais um casal
Mais 1 anjo
Mais um casal
Mais 1 anjo
Esta é a minha família.
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