segunda-feira, 4 de novembro de 2024
A Gigantesca Pequena Coisa
segunda-feira, 21 de outubro de 2024
Gaspar, com os pés bem assentes na Lua
Gaspar, com os pés bem assentes na Lua | Rita Taborda Duarte e Sebastião Peixoto | Caminho
Isto é um MANIFESTO pela PALAVRODIVERSIDADE! A convocatória é para dia 26, às 16H.
Assinaríamos de cruz, se fosse caso disso. Vivemos tempos pandémicos, cada vez com menos imunidade à "febre de facilitismo" em nome de uma suposta "escrita para crianças". Infantilizar a escrita consubstancia um grosseiro retrocesso e uma afronta a todos os que, ao longo do tempo, se bateram para que ocupasse o lugar que é seu no panorama da literatura.
Não há palavras difíceis. Há palavras com que os mais os novos não estão familiarizados. O crescimento faz-se por aprendizagem e a diversidade de palavras é a riqueza de uma língua.
Rita não tem medo de usar palavras. Muitas. Esse é o caminho que propõe para tornar o mundo maior e mais brilhante.
Há por aqui uma parafernália de palavras e expressões que os mais novos nunca terão ouvido. Muitas delas só as encontrarão nos dicionários, as casas de todas as palavras, também eles em desuso. E que bom é pensar que um livro pode ter o efeito de pôr os mais novos a descobrir dezenas de palavras ainda que possam buscar apenas o significado de uma. Algo que os adultos que estão por perto deviam incentivar.
"(...)os adultos, enfim... são uma espécie pouco expedita, quase nada inteligente: não veem uma coisa nem que ela esteja a brilhar diante dos olhos."
sexta-feira, 18 de outubro de 2024
A Colher
A Colher | Sandra Siemens e Bea Lozano | Fábula
Há pequenos objectos que transportam consigo histórias enormes. Alguns atravessam gerações. Se falassem seriam capazes de contar histórias intermináveis de vida, de afectos, de perdas. É esse o caso da colher que empresta o nome a este livro.
Um inicio algo enigmático prende-nos às primeiras páginas do livro. Quando a jovem narradora põe a mesa, reservando para si aquela colher, a voz da mãe faz-se ouvir: "Essa colher não". Segue-se um pequeno elenco dos usos que não lhe podem ser dados, e é ele que leva o leitor a aferir a importância da colher.
- "Essa colher não é para comer sopa", acrescenta a mãe.
- "Essa colher não é para cavar buracos", esclarece a avó, num momento em que a pequena se atreve a fazê-lo.
- "Essa colher não é para tocar música", diz o pai, ainda que ela sinta que nenhuma outra colher consegue emitir aquele som.
Acompanhamos a jovem nas suas interrogações. Afinal, porque está a colher na gaveta, juntamente com todas as outras, se não pode ser usada? E qual a sua proveniência? Um simples virar de página é suficiente para nos esclarecer. A colher fez parte de um conjunto dado como prenda de casamento à sua bisavó. Num tempo em que foi forçada a fugir da guerra, esta foi a única coisa que conseguiu salvar e trazer com ela. Talvez por isso, para os mais velhos, mais importante do que o lugar fisico que lhe está reservado, seja vê-la todos os dias. Uma forma de ter presente o lugar, os tempo e as pessoas para junto de quem ela os transporta. Mais do que uma gaveta, há por ali um baú de memórias.
As magníficas ilustrações de Lozano espraiam-se, algo minimalistas, pelo fundo branco das páginas. Com uma paleta em tons amenos, somos levados a sentir-nos em casa, admirando a partilha daquele objecto tão emblemático para quem ali vive.
A colher foi mudando de dona, mas nunca abandonou a família. Da bisavó passou para a avó e é agora da mãe. Um dia será pertença da nossa jovem. Mas ela ainda não sabe se quer ser dona de uma colher que não pode ser usada para comer sopa, ou para cavar buracos, ou para tocar música. Não tem dúvidas que, em tempos, a sua bisavó fez tudo isso. Tal como ela deixará , um dia, a sua filha fazer. Será?
Quanto a nós, leitores, não conseguimos deixar de pensar nas colheres únicas que todos aqueles que, hoje, deixam a guerra para trás transportam consigo. Ou não.
terça-feira, 15 de outubro de 2024
Um e Sete
Era uma vez um rapaz que era sete meninos num só. Muito mais o que os une do que aquilo que os separa, quando crescem, no seu mundo, não há lugar para a guerra. Afinal são um só. Gostamos deste mundo e, tal como escrevemos aqui em 2017, há muito que fizemos a nossa reserva.
quinta-feira, 10 de outubro de 2024
Gato Comum
Tudo por aqui aparenta ser comum. O gato, a família, a casa, as rotinas. O que nada tem de comum é a mestria com que Joana Estrela, alicerçada na simplicidade das coisas de todos os dias, constrói uma história intensa e tocante, levando o leitor a apropriar-se desta ou daquela vivência. Quem tem animais domésticos conhece a inevitabilidade da dor quando chega o momento de nos deixarem. Nesta história, a longevidade do gato faz adivinhar a proximidade do fim.
sexta-feira, 7 de junho de 2024
Quando é que a Hadda volta?
Quando é que a Hadda volta? | Anne Herbauts | Orfeu Negro
Criadora de um universo delicado, belo e poético, Anne Herbauts é uma das nossas autoras de eleição. Somos admiradores confessos do seu trabalho desde o primeiro álbum, Que fait la lune, la nuit? e não hesitamos em afirmar o nosso fascínio pelo seu universo inigualável. A chegada de um dos seus livros, pela mão da Orfeu Negro, faz-nos acalentar o desejo de que muitos outros possam suceder-se.
Detentora de um léxico gráfico inconfundível, Herbauts pega nas pequenas coisas da vida e eleva-as a uma dimensão profunda e filosófica. É nessa grandeza das coisas pequenas, que se revelam verdadeiramente importantes, que envolve os leitores, oferecendo-lhes um jogo sublime de emoções e arrebatamento. Os seus livros estão repletos de "portas semiabertas", cabendo-nos a decisão de as abrir ou fechar. São caminhos por desbravar, questões que se suscitam, interrogações que perduram e lugares impensáveis de visitar.
quinta-feira, 9 de maio de 2024
Debaixo Da Mesma Lua
Debaixo da mesma Lua | Jimmy Liao | Kalandraka
Há onze anos escrevíamos aqui sobre o fantástico mundo de Jimmy Liao. Na altura, referíamos que o autor é "mestre em pintar sentimentos ou estados de alma. A solidão, a melancolia ou a esperança chegam até nós, leitores, através de um simples jogo de cores ou de uma carruagem vazia. O sentido ou dessentido da vida é o fio condutor que nos prende sofregamente a cada livro que descobrimos".
Nunca saberemos quanto tempo passou. Mas a espera é sempre movida a esperança e o surpreendente final que Liao imaginou é revelador disso mesmo. Uma delicada, subtil e fascinante história sobre os infortúnios de uma guerra e de como eles nos podem atingir a todos. A lua é a mesma, mas a cor do céu não é igual para todos.