Pode ser um livro feito a pensar nos mais jovens, mas apaixona leitores de todas as idades. É uma espécie de Tratado de Clareza sobre a Ciência. Mas também podia ser um Manifesto, de apurado sentido crítico, sobre a forma como ela continua a ser ensinada nas escolas. Hoje, como há centenas de anos, a Ciência continua a ser um bicho de muitas cabeças. Sobretudo, para os jovens.
Philip Ball é formado em Física e em Química. É, também, escritor e apresentador. Durante mais de vinte anos foi editor da revista Nature. Dono de uma obra já premiada, foi enquanto pai que sentiu necessidade de transmitir de forma mais concisa a essência da Ciência às suas filhas. Levá-las a pensar, de forma construtiva, sobre a maioria dos conteúdos de Ciência que encontram nos currículos escolares e na vida.
É disso que se trata. Da importância de poder e de saber pensar sobre as coisas. De fazer as perguntas certas no caminho que conduz à obtenção das respostas e dos resultados. Precisamos que nos ensinem a pensar e não a papaguear números e factos que já esquecemos no dia seguinte. Um trabalho que é tão necessário fazer quanto encontrar as pessoas certas para o levar a cabo.
Mel é a jovem protagonista a quem tudo vai sendo transmitido. Coadjuvado por três personagens cientistas, o autor transporta-a numa magnífica viagem pelo mundo da Ciência. A ela e aos leitores, provocando-nos o interesse, despertando-nos a curiosidade, levando-nos a querer vestir a bata branca e, acima de tudo, a adquirir conhecimentos com grande naturalidade.
Uma viagem proporcionada a meias com Bernardo P. Carvalho, que assina as ilustrações com a sustentável leveza do seu traço, inundando-nos os olhos de cores enquanto harmoniza na perfeição os seus desenhos com as palavras de Ball.
Mas a maior descoberta que os jovens leitores podem fazer é que este é um percurso onde a imaginação é mais importante que o conhecimento. Quem o disse foi o grande e insuspeito Albert Einstein.
No prefácio que assina, Joana Gonçalves de Sá confessa-se fascinada pelo livro e aponta como uma das razões, o facto de ser
(...) um livro que está sempre a repetir que, em Ciência, o que importa são as perguntas. Isto é raro, porque a maioria dos livros de ciências está absolutamente cheia de respostas e de certezas. Aliás, parece que as escolas existem para nos ensinar que respostas dar nos testes e o que escrever nos relatórios, mas a vida de cientista é estar sempre a tentar perceber o "que" e "como" perguntar (...).
Não podíamos estar mais de acordo. Tanto no fascínio, como nas observações. E apetece-nos voltar a Einstein e às citações que o livro nos fornece: o valor da educação escolar, não é a aprendizagem de muitos factos, mas sim treinar a mente para pensar.
Porque continuará a ser tão difícil levar isso à prática nas escolas?
De que serve andar com um número na cabeça (como a velocidade do som) quando se pode ir buscá-lo sempre que é preciso?
A pergunta terá sido formulada por Einstein. Mas, seguramente, foi pensada por milhões de pessoas de todas as gerações sempre que instados, diariamente, a "fixar" para debitar números e mais números, factos e mais factos. Afinal, como diz Ball, os melhores e as melhores cientistas não são os que sabem todas as respostas, mas os que pensam nas melhores perguntas. Essa é a essência da Ciência. E é, também, o que torna este livro essencial. Para jovens e não só. Para os que gostam da Ciência e para os que pensam não gostar.