As Mãos Do Meu Pai | Deok Kyu Choi | Orfeu Negro
Um invólucro onde estão desenhadas as mãos grandes e firmes do pai cobre uma boa parte da capa. Só quando o retiramos nos é revelado o que elas ocultam: uma criança. A imagem aliada ao título indicia uma ode ao amor entre pai e filho. Mas o que nos aguarda é muito mais. É o ciclo da vida que aqui se exibe e se desdobra nas suas múltiplas fases. O passado e o presente, a infância e a velhice, o nascimento e a morte. Há toda uma celebração do amor sem limites, dos cuidados de que ele se reveste, de retribuição. Uma ligação forte e única entre pai e filho, consolidada pelo tempo e pelo amor .
De forma delicada, a infância e a velhice dão as mãos. O passado e o presente mostram-se ao leitor na separação das páginas duplas. À esquerda, as imagens surgem em forma de círculo, como recordações saídas da objectiva de uma máquina fotográfica. São imagens da infância, dos cuidados e do amor dados por um pai presente em todos os momentos do crescimento. Um pai que acaricia, que muda as fraldas, que aperta os sapatos, que corta as unhas, que dá banho...
Na página da direita, o presente revela-se na retribuição dos gestos, em tudo semelhantes, do filho que, agora adulto, cuida do pai a quem o decurso do tempo trouxe a fragilidade e o cansaço próprios da idade. A similitude dos gestos, do carinho nos cuidados dispensados por um ao outro são evidentes. É um filho cuidador quem, hoje, aperta os sapatos, dá banho, corta as unhas... ao pai.
O ciclo da vida exibe-se nas páginas do livro, começando nas magníficas guardas. Há uma sequência de três páginas duplas onde o rapaz vai crescendo e se apressa a chegar ao presente. Até ao pai que precisa de si. Há todo um realismo em que nos revemos. Porque esta é uma história onde não se relatam apenas os momentos lúdicos passados entre pai e filho, mas também as coisas de todos os dias. Até as mais íntimas, como tomar banho ou cortar as unhas.
Este é um álbum sem palavras onde não fica nada por dizer. Os olhares e as cumplicidades que atravessam a vida dos dois são observados pelo leitor. Paternidade e filiação entrelaçam-se a quatro mãos.
Vencedor do prémio Bologna Ragazzi 2022 na categoria Menção Especial Não-Ficção, este é um livro que, com grande sensibilidade e delicadeza, lembra a leitores de todas as idades a reciprocidade no amor. Feliz Dia do Pai, hoje e todos os dias!
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