terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Irmãos

 






















Irmãos | Marie Le Cuziat e Hua Ling Xu | Orfeu Negro


Um é alto, o outro é baixo. Um é moreno como o café, o outro é loiro como o trigo. Um caminha, o outro levanta voo. São tão diferentes que ninguém, à sua volta, acha possível que sejam irmãos. Ficam zangados, cada um à sua maneira, com essa desconfiança. Porque Ari e Rey sabem que, para lá de todas as suas diferenças, o forte laço que os une é imutável e perdurará para sempre.





Este é um magnífico álbum sobre amor, família, fraternidade. Com um texto curto e delicado, trata-se de uma narrativa predominantemente visual onde as poderosas ilustrações a acrílico de Xu conduzem o leitor pelo quotidiano dos dois protagonistas. É, sobretudo, através delas que assimilamos as diferenças físicas e temperamentais dos irmãos.



Começamos a conhecê-los. Um é contemplativo. O outro é mais enérgico e vemo-lo a trepar às árvores. Ficamos a saber as suas preferências. Um gosta de desenhar, o outro de dançar. Assistimos às brincadeiras, às "lutas", às cumplicidades. Mas o que retemos, acima de tudo, é a  forma como partilham os momentos do quotidiano, como se compreendem, como dividem a vida.


Cada um com a sua identidade muito própria, por vezes, tornam-se um só. Crescem juntos e colecionam memórias. Uma partilha alicerçada no amor. Porque há mil e uma maneiras de ser irmãos.


terça-feira, 28 de janeiro de 2025

O Jardim da Minha Avó

 













O Jardim da Minha Avó | Jordan Scott e Sydney Smith | Fábula


Eu Falo Como Um Rio, de que falámos aquimarcou a primeira incursão de Jordan Scott pelo universo da literatura para os mais novos. E marcou, também, os seus leitores. Neste segundo livro, o poeta canadiano regressa ao registo autobiográfico e às memórias da infância, evocando os dias passados na companhia da avó e a ligação única que mantinham. As ilustrações voltam a ficar por conta de Smith que, por entre aguarelas e guaches, manchas e os habituais traços impressionistas, nos mostra, de forma ímpar, o amor e os laços que unem estes dois seres. O resultado é mais uma deslumbrante e preciosa história que os leitores agradecem.






















No inicio do livro, um texto simples e poético relata-nos a história que vamos ver distendida ao longo das páginas. Ficamos a saber que a avó nasceu na Polónia e que, juntamente com a família, sofreu muito durante a Segunda Guerra Mundial. Que no pós-guerra emigrara  para o Canadá, passando a morar num antigo galinheiro atrás de um moinho de enxofre junto à auto-estrada. Intuímos a dureza da vida desta mulher que mal falava inglês. A comunicação entre o pequeno e a sua Baba era, sobretudo, feita de gestos, toques e risos. 






















O texto introdutório não inibe o leitor de se surpreender e envolver no amor que liga avó e neto. É uma leitura feita de pausas e de silêncios. A primeira imagem da Baba é marcante. Uma figura frágil e curvada contrasta com os raios de sol que a iluminam e com a força que intuímos nas pessoas a quem a vida raramente sorri. A indumentária simples revela alguém que passou ao lado das coisas supérfluas da vida.
















As rotinas são elencadas. Todas as manhãs, o pai deixa-o em casa da avó, percorrendo uma estrada onde as montanhas se assemelham a barrigas de baleias. A cozinha é o ponto de encontro. É lá que está a sua Baba murmurando baixinho como uma noite povoada de insectos, enquanto lhe prepara o pequeno-almoço. Este é sempre igual, mas numa tigela tão grande e farta que o rapaz podia perder-se lá dentro. A casa está, invariavelmente, a abarrotar de comida. Vem tudo da horta do jardim que a avó cultiva. Há frascos de picles na casa de banho, alhos pendurados no chuveiro, beterrabas na sapateira, tomates na varanda, cenouras na cadeira de baloiço, maçãs aos pés da cama.  A explicação chega pela boca da mãe do rapaz. Tudo se deve ao facto de a avó ter passado muita fome. Porque a comida escasseia quando os homens fazem a guerra.





















O rapaz come e a avó observa-o. Se ele deixa cair algum bocadinho de comida, ela apanha-o, dá-lhe um beijo e volta a colocá-lo no prato. Só os que já passaram muita fome conhecem o verdadeiro significado do desperdício. Falam pouco, claro.  A avó aponta, ele acena. Ela toca-lhe, evidenciando toda a ternura que um gesto pode conter. Sorriem. Afinal, o amor não precisa de palavras para se manifestar. 

No caminho para a escola, sobretudo em dias de chuva, o percurso faz-se vagarosamente. É o tempo de a avó procurar minhocas. No bolso tem sempre um frasco de vidro cheio de terra onde guarda as que encontra. É um ritual que ambos respeitam. Ajoelhada  na terra, é aí que espalha as minhocas e as cobre de terra. No dia em que lhe pergunta porque faz aquilo, ela molha o dedo na chuva e percorre-lhe as linhas da mão. 






















O ritual manteve-se até ao dia em que a avó deixou a sua casa-galinheiro e foi viver com eles. No mesmo sítio há agora um prédio enorme e a horta do jardim, onde havia tanto para cheirar e para comer, transformou-se numa selva. O tempo é outro. Tudo se inverte. Agora é o pai quem o leva à escola. É ele quem leva o pequeno-almoço à avó. Quem beija os bocadinhos de comida que ela, por vezes, deixa cair. Uma sucessão de imagens, sem palavras, espelham como todo o amor recebido é agora devolvido pelo neto. Um amor alicerçado em silêncios e cumplicidades. Sem barreiras de qualquer espécie.

Continua a saber o que faz a sua Baba feliz e semeia um tomateiro num pequeno vaso que coloca na janela do quarto dela. Duvida se será bem sucedido,  se algo nascerá dali. Mas quando ela lhe passa os dedos pelas linhas da mão, lembra-se. Está a chover. Vai para a rua e apanha todas as minhocas que encontra. 






















Scott confessa que ainda hoje o faz. Os seus filhos também.  Sabe que o que avó lhe ensinou é que, ao cavarem a terra, as minhocas ajudam a aumentar a água e o ar que penetram no solo e fornecem nutrientes. Sem filtros, esta é uma sublime ode ao amor entre avós e netos. Em tempo de guerra, este é um livro que diz muito sobre as vidas que ela maltrata. Lembrando-nos o pouco que os homens aprendem com os erros do passado.


sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Onde é que nós íamos? Livros que folhearam 2024


 





















Onde é que nós íamos?| Isabel Minhós Martins, Dina Mendonça e Madalena Matoso | Planeta Tangerina


Esta é uma conversa que queremos ter. Aceitamos sem reserva o convite das autoras para, ao longo de mais de 150 páginas, dissecarmos esta temática que faz parte da essência humana: a conversa. O diálogo com o leitor começa logo na introdução, onde nos dizem que conversar é ir andando. Seguimos juntos na tentativa de criar esse espaço de liberdade para pensarmos e ouvirmos o que outras pessoas pensam.
























Do que estamos a falar quando falamos de conversar? Porque gostamos tanto de conversar?

O desafio é claro, vamos experimentar. São muitas as perguntas, os exemplos, as hesitações, as interrupções, os avanços e recuos. Há conversas mais difíceis do que outras. Há pessoas com quem conseguimos falar mais facilmente. Outras nem tanto. Há conversas que nos deixam descobrir coisas boas e coisas menos boas. Umas que nos deixam felizes, outras que nos entristecem. Há conversas que correm mal. Recomeçamos?























Sim, recomeçamos. Todos sabemos que há conversas mais difíceis do que outras. Às vezes, também são como os novelos. Precisamos de desatar os nós. Mas as autoras sabem que esta conversa tem pernas para andar e, enquanto dialogam  com os leitores, vão deixando sugestões de algumas ideias para manter boas conversas. infinitas maneiras de conversar e infinitos temas para abordar. Trocamos opiniões, aprendemos com as diferentes ideias dos nossos interlocutores, assimilamos a importância e o prazer de conversar, percorremos os imensos lugares, novos ou revistados, onde podemos chegar juntos. 























Conversar faz parte de sermos humanos, e a forma como conseguimos comunicar é uma parte muito importante de nos sentirmos bem com o mundo. Conversar não resolve tudo, mas é fundamental para fazermos o caminho em conjunto


Afinal as conversas são como as cerejas. Pelo meio, são muitos os temas que vão surgindo.A paz ou a falta dela, as  lutas sangrentas, as diferenças de opiniões, as inseguranças, o prazer de conversar. São vários os autores referenciados. Porque as  conversas são como as cerejas. Algo que a capa de Matoso não nos deixa esquecer. Por aqui, a conversa começa mesmo antes de abrirmos o livro.









 
























Isto tem muito que se lhe diga... Onde é que nós íamos?  é um livro que nos faz pensar, reflectir, indagar, praticar, dar passos para nos entendermos melhor. Acima de tudo, descobrir ou redescobrir o prazer de conversar com os outros ou com os nossos botões. É um livro que nos interrompe a vida para nos pôr a falar sobre ela. 
Onde é que nós íamos? Aqui, num dos livros que é, obviamente, uma das nossas escolhas de 2024. Boas leituras e boas conversas!

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

O Que Nos Torna Humanos. Livros que folhearam 2024
























O que nos torna humanos | Victor D. O. Santos e Anna Forlati | Fábula


Poucos saberão que vivemos a "Década Internacional das Línguas Indígenas", declarada pela ONU em 2022 com o propósito de preservar, revitalizar e divulgar as línguas indígenas, muitas das quais correm o risco de desaparecer. Este livro, traduzido em mais de 20 línguas e adoptado como livro oficial da Década Internacional das Línguas Indígenas pela UNESCO, é uma preciosa homenagem à língua e a todos os povos que a criaram. Um valioso testemunho artístico do que podemos considerar as " raízes da humanidade".  























Celebrando a língua em todas as suas vertentes, este é um livro lugar que, rapidamente, se transforma em ponto de encontro para leitores de todas as idades. As frases curtas e poéticas lançam o enigma. O diálogo direto com o leitor, nesta espécie de "adivinha quem eu sou", confere-lhe a intensidade necessária para nos envolver avidamente na descoberta do mistério. Uma avidez só refreada pela soberba beleza das ilustrações, que nos faz parar a cada dupla página para olhar demoradamente e reflectir.






















A cada página somos desafiados para a descoberta do enigma, mas também ficamos a saber um pouco mais de quem se vai apresentando, falando diretamente com e para o leitor. Talvez este não descodifique o enigma sozinho. Mas isso não lhe retira o prazer da leitura, do jogo que ambos já iniciaram. A revelação chega no final do livro. Num lugar onde sentimos que todos pertencemos.



Numa nota final aos leitores, os autores dizem-nos que das cerca de 7164 línguas vivas actualmente, se estima que, pelo menos metade se extinga até ao ano de 2100. E quando uma língua morre, também uma cultura pode morrer com ela. 

A dupla de autores  já se estreara a trabalhar em conjunto com My Dad, My Rock, um livro que gostaríamos muito de ver por cá. Aqui volta a encontrar-se, presenteando-nos com um livro que é, simultaneamente, casa e abrigo para todos os que acreditam que a união em torno da diversidade é a nossa grande riqueza  e o que os torna mais fortes. Forlati escolheu pintar a poesia das palavras de Santos com uma paleta onde parece verter toda a nostalgia do tempo em que tudo começou. Os tons terra ou tons raízes predominam e a beleza de cada dupla página passa-nos à frente de forma estonteante, fazendo-nos querer apanhar boleia.  E, de alguma forma, contribuir para a preservação de tamanho património.


















De Forlati já tínhamos falado aqui, a propósito desse livro incrível que é  Le Renard et L'Aviateur. Dissemos como nos impressiona a beleza extraordinária de que sempre se reveste o seu trabalho, o seu traço realista e de como as suas cores e formas abraçam e envolvem poeticamente os textos. Aqui não é excepção, dando o seu contributo para um livro único e marcante, onde o leitor vai querer habitar algum tempo. Uma das nossas escolhas em 2024.



sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Transparente. Livros que folhearam 2024

 





















Transparente | Mariana Rio | Livros Horizonte


Transparente marca a primeira incursão de Mariana Rio pelo universo da escrita. Com um percurso brilhante na ilustração, vários livros, prémios e distinções no currículo, Rio vem construindo, ao longo da última década, uma identidade e um mundo próprios. A conquista de um lugar no panorama da ilustração nacional e internacional está assegurada. Dona de um vocabulário gráfico inconfundível, reconhecemos-lhe o traço fino e minucioso, as paletas de cores fortes, a incessante  busca pelos detalhes e por uma certa perfeição imperfeita. Somos fãs do seu trabalho desde a primeira hora e, hoje como ontem,  continuamos a encantar-nos com a sua criatividade.   Descortinamos-lhe sempre uma certa inocência de criança que a mulher parece querer guardar. A autoria plena dos seus livros não só se adivinhava como se desejava. Esta é uma estreia preciosa e merecedora de aplausos.



       

Sou um explorador da imaginação. Gosto de sonhar acordado e de viajar pelos meus pensamentos.                                                

O começo de um livro é precioso e, tal como Maria Gabriela Llansol, Rio parece saber isso. Prende o leitor logo nas primeiras frases desta história sobre a temática intemporal da amizade. Uma temática que acaba por se desdobrar ao longo das páginas. Porque como é seu hábito, a autora conduz-nos  por várias camadas de leitura, transportando-nos para um caminho bem mais abrangente do que, eventualmente, o leitor esperaria. Amizade, autoconhecimento, sonho, realidade, mistério... a diferença, o outro...uma certa ode à vida saudável e sustentável... bem podemos escolher a árvore a que queremos trepar para nos deitarmos a pensar no tanto que este livro contém.
























O sonhador protagonista, nas suas deambulações, encontra uma floresta selvagem, repleta de vegetação, e por lá decide ficar. Há por ali toda um nova vida e ele não hesita em explorá-la. Descobre insectos enormes e flores monumentais, passa a alimentar-se de frutos, folhas, raízes e sementes, dá mergulhos no ribeiro, trepa às árvores em busca de lugares perfeitos para se deitar a pensar. Como amante e estudante da natureza, constrói o seu abrigo-laboratório neste pedaço de paraíso. Tudo o que precisa encontra-se ali. 

Um dia, tem um encontro inesperado com um ser bem diferente dele. Um ser transparente e capaz de se metamorfosear. Fica assustado. Porque, num primeiro momento, tudo o que é diferente pode causar medo. Até então, aquela paisagem era só sua! O tempo foi-se gastando e o nosso sonhador envelhecendo. Os seus pensamentos tornaram-se mais complexos e o  conhecimento de si próprio e do que o rodeava apurou-se. O reencontro com o outro já não o atemoriza. Agora, também ele consegue ser transparente. Porque o caminho de construção da amizade passa, necessariamente, pelo conhecimento de nós mesmos. Só assim estamos aptos a aceitar e a conhecer o outro e as suas diferenças. É nessa transparência que todos nos devíamos encontrar.

 























À semelhança do protagonista, acreditamos que Rio é uma exploradora da imaginação e que no seu abrigo-laboratório continuará a sonhar acordada.  Que das viagens pelos seus pensamentos de menina mulher, continuarão a surgir livros polvilhados de poesia, tanto nas imagens como nas palavras. Este é um livro poético, delicado e capaz de despertar a imaginação de leitores de todas as idades.  Uma das nossas escolhas em 2024.


sexta-feira, 22 de novembro de 2024

STOP








































STOP | Ricardo Henriques e Pierre Pratt | Orfeu Negro


Os mais novos não o conhecem. Nunca o viram e, muito provavelmente, não ouviram falar dele. Na verdade, é uma espécie em vias de extinção. Ou, como se diz nesta história, um mamífero raro, ainda mais do que o tigre-de-bengala, o rinoceronte-branco ou aquela pessoa-que-escreve-cartas-de-amor. Vestido a rigor, com o típico capacete branco que lhe granjeou a alcunha de "cabeça de giz", luvas brancas a evidenciar o frenético gesticular de mãos e braços, apito na boca, eis o polícia sinaleiro. 
























Do alto do seu "trono" era dele a responsabilidade de orientar o trânsito. Veículos ou peões, todos obedeciam à sinaléctica, confiando-lhe a sua própria segurança. Falamos de um tempo em que as máquinas de três cores, vulgo semáforos, ainda não tinham sido inventadas. Hoje, já não nos lembramos das ruas sem elas e os polícias sinaleiros foram desaparecendo. São muito poucos os que existem. Quase nenhuns. 
























Que o diga o agente Simões, o polícia sinaleiro desta história. A chegada dos semáforos ao seu cruzamento deixou-o sem emprego e mudou-lhe a vida por completo. Ainda pensou declarar guerra ao inimigo, mas atrapalhar o trânsito não era coisa para ele. Mas desenganem-se os que pensam que o nosso agente se deixou abater. Não podia ficar de braços parados e foi em busca de nova ocupação. Afinal, a vida é feita de recomeços e de novas oportunidades. Foi assim que o agente Simões se viu a dirigir uma orquestra e, imaginem, até um farol... mas nada daquilo era para ele. O que, a esta altura, Simões não suspeitava era que lhe estivesse destinada uma missão muito maior, a de salvar o mundo. 


STOP é uma história divertida e cheia de humor, que ao mesmo tempo nos faz acreditar em recomeços, em persistência e determinação, em "não baixar os braços".  As magníficas ilustrações de Pratt, no seu traço inconfundível, espraiam-se pela páginas em brilhantes arranjos de tamanhos e perspectivas, dando-nos uma visão quase cinéfila da vida e das peripécias reservadas ao sinaleiro Simões. Texto e imagens complementam-se com mestria.





















Sim, o nosso polícia sinaleiro acabou por salvar o mundo, conquistar o seu lugar na história, tornar-se um herói mundial. E, mais importante, assegurar a continuidade dos sinaleiros já que hoje percorre o mundo, de Alpalhão a Brooklyn, conhecendo-lhe os cruzamentos todos. 




Para conhecerem a dimensão da proeza abram o livro, percorram as ruas com os mais novos, fiquem atentos ao apito do agente Simões e soltem as gargalhadas da criançada. STOP.

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

A Gigantesca Pequena Coisa




 







A Gigantesca Pequena Coisa | Beatrice Alemagna | Orfeu Negro


É um luxo ver os livros de Beatrice Alemagna por cá, e logo em dose dupla! Num curto espaço de tempo, fomos presenteados com dois magníficos livros trazidos pela mão das editoras Orfeu Negro e Kalandraka. Depois de uma anterior edição, há muito esgotada, da Bags of Books, está de volta essa incrível Gigantesca Pequena Coisa.







































Uma coisa que passou mesmo ao lado dos pés do pequeno Sebastião, que uma menina tentou apanhar como se apanha uma mosca, que alguns esperam durante muito tempo sem conseguir encontrar ou reconhecer... Há quem tenha medo dela, feche as portas, construa muros ou quem a tente comprar. 
De modo sublime, enigmático e nostálgico, Alemagna constrói uma narrativa em torno de algo que atravessa todo o livro, mas que só no final é revelado ao leitor. Algo transversal a todas as personagens que percorrem as páginas. Homens ou mulheres, velhos ou novos. 







































Que coisa é essa? Há quem a encontre nos cheiros, nos olhares, nos braços de alguém. E também há quem chegue a encontrá-la num simples floco de neve, no meio da chuva ou numa lágrima. Momentos tão fugazes quanto maravilhosos. Não podemos retê-la, não a podemos guardar, mas, de uma forma ou de outra, procuramo-la.




























Pintado de cores que parecem sempre ser só suas, a autora é dona de um universo feito de poesia, beleza, delicadeza e com uma forte componente filosófica. Através de uma harmoniosa simbiose entre palavras e ilustrações, o seu trabalho denota uma coerência e uma estética inconfundíveis. 
Não hesitem. São razões mais do que suficientes para querer habitar os livros desta nossa autora de eleição.  Abram as páginas todas e vão lá desvendar que gigantesca pequena coisa é essa. Para nós é impossível e impensável não abrir qualquer um dos livros de Alemagna e ficar por lá, sentindo essa imperfeita perfeição.