O que nos torna humanos | Victor D. O. Santos e Anna Forlati | Fábula
Poucos saberão que vivemos a "Década Internacional das Línguas Indígenas", declarada pela ONU em 2022 com o propósito de preservar, revitalizar e divulgar as línguas indígenas, muitas das quais correm o risco de desaparecer. Este livro, traduzido em mais de 20 línguas e adoptado como livro oficial da Década Internacional das Línguas Indígenas pela UNESCO, é uma preciosa homenagem à língua e a todos os povos que a criaram. Um valioso testemunho artístico do que podemos considerar as " raízes da humanidade".
Celebrando a língua em todas as suas vertentes, este é um livro lugar que, rapidamente, se transforma em ponto de encontro para leitores de todas as idades. As frases curtas e poéticas lançam o enigma. O diálogo direto com o leitor, nesta espécie de "adivinha quem eu sou", confere-lhe a intensidade necessária para nos envolver avidamente na descoberta do mistério. Uma avidez só refreada pela soberba beleza das ilustrações, que nos faz parar a cada dupla página para olhar demoradamente e reflectir.
A cada página somos desafiados para a descoberta do enigma, mas também ficamos a saber um pouco mais de quem se vai apresentando, falando diretamente com e para o leitor. Talvez este não descodifique o enigma sozinho. Mas isso não lhe retira o prazer da leitura, do jogo que ambos já iniciaram. A revelação chega no final do livro. Num lugar onde sentimos que todos pertencemos.
Numa nota final aos leitores, os autores dizem-nos que das cerca de 7164 línguas vivas actualmente, se estima que, pelo menos metade se extinga até ao ano de 2100. E quando uma língua morre, também uma cultura pode morrer com ela.
A dupla de autores já se estreara a trabalhar em conjunto com My Dad, My Rock, um livro que gostaríamos muito de ver por cá. Aqui volta a encontrar-se, presenteando-nos com um livro que é, simultaneamente, casa e abrigo para todos os que acreditam que a união em torno da diversidade é a nossa grande riqueza e o que os torna mais fortes. Forlati escolheu pintar a poesia das palavras de Santos com uma paleta onde parece verter toda a nostalgia do tempo em que tudo começou. Os tons terra ou tons raízes predominam e a beleza de cada dupla página passa-nos à frente de forma estonteante, fazendo-nos querer apanhar boleia. E, de alguma forma, contribuir para a preservação de tamanho património.
De Forlati já tínhamos falado aqui, a propósito desse livro incrível que é Le Renard et L'Aviateur. Dissemos como nos impressiona a beleza extraordinária de que sempre se reveste o seu trabalho, o seu traço realista e de como as suas cores e formas abraçam e envolvem poeticamente os textos. Aqui não é excepção, dando o seu contributo para um livro único e marcante, onde o leitor vai querer habitar algum tempo. Uma das nossas escolhas em 2024.
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