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sexta-feira, 18 de junho de 2021

Ernesto O Elefante


Anda por aí um elefante chamado Ernesto que é propriedade de Mr. Anthony Browne. Confessamos que já sentíamos a falta deste reencontro e saudamos o seu regresso, como habitualmente, pela mão da editora Kalandraka.



Ernesto é um elefante bebé que vive com a mãe e o resto da manada. Todos os dias caminham, comem, bebem e à noite dormem. O pequeno é feliz assim, mas não deixa de se questionar se a vida é só isto. A sua curiosidade leva-o a interpelar a mãe quando, um dia, passam perto de uma selva. As reacções maternas perante selvas e florestas são sobejamente conhecidas. A mãe de Ernesto não foge à regra e explica-lhe que aquele não é um lugar para elefantes bebés.



Mas nós, leitores, sabemos que Ernesto não será o último a ceder a estas tentações. Até porque, como é típico da pequenada, ele já não se considera um elefante bebé. E com a coragem própria de quem se sente um crescido, aventura-se mesmo selva dentro. Ao fascínio inicial da novidade, segue-se rapidamente a desorientação. O pequeno elefante sabe que está perdido! E o pior é que ninguém se mostra disponível para o ajudar. Entre os animais mais fortes e possantes, só colhe antipatia e indiferença. É assim com o gorila, com o leão, com o hipopótamo... O pequeno só quer voltar a encontrar a sua mamã, mas ninguém quer saber disso. Ninguém se importa com o seu desespero. O medo apodera-se de Ernesto e o choro não tarda a chegar. 



Em jeito de fábula, a ajuda vem de onde menos se espera. Nem Ernesto acredita na capacidade do pequeno e bem-educado rato que lhe oferece generosamente os seus préstimos para o ajudar a encontrar o caminho de volta. Mas é graças a ele e a essa  manifestação de solidariedade que  acaba por reencontrar a sua mamã e voltar à vida feliz. E saibam os leitores que o pequenito herói, aquele delicado ratinho, ainda reune no seu leque de qualidades a da humildade, não sendo dado a grandes protagonismos.


Um livro magnificamente ilustrado, onde as personagens exibem uma expressividade que só Browne parece conseguir. Uma história que os pais lhe contavam quando era pequeno e uns primeiros desenhos ainda guardados terão estado na origem deste novo livro, que aplaudimos. Agora que todos sabemos que as aparências iludem, agarrem nas crianças e aventurem-se pela selva. Mas fiquem atentos, porque também elas se podem deslumbrar nesta selva browneana, repleta de apetecíveis frutos, doces de fazer crescer água na boca, chupa-chupas e muitas outras iguarias. 

quinta-feira, 18 de março de 2021

Quando Eric Carle e Anthony Browne nos visitam ... É uma festa!















Há muito tempo que queríamos receber esta mensagem secreta em português! A Mensagem Secreta de Aniversário de Eric Carle, agora editada pela Kalandraka, é um livro que nos acompanha há muitos anos e que faz as delícias dos mais pequenos. Já perdemos o conto às vezes que pomos os mais pequenos a ajudar o Tim a decifrar a misteriosa mensagem que lhe foi deixada debaixo da almofada na véspera do seu aniversário. E, claro, a encontrar o presente a que ela conduz.












Carle oferece-nos uma aventura partilhada entre o rapaz da história e os pequenos leitores que, não só têm de decifrar as enigmáticas pistas como percorrer todo o caminho envolto em mistério. A viagem faz-se de noite, por entre estrelas, morcegos e grutas, mas os possíveis sobressaltos são esquecidos assim que Tim e a pequenada encontram o presente de aniversário.

















Cartonado e de pequeno formato como pedem as mãos dos seus destinatários, o livro reserva-lhes, ainda, a surpresa de as páginas se apresentarem recortadas com a forma do objecto que representam. Num livro que teve a sua primeira aparição nos anos 70, as formas geométricas e a orientação espacial são, como sempre, introduzidas com grande sabedoria pelo mestre da cor. Inspirem-se e deixem por aí algumas mensagens para a criançada decifrar pela casa toda.









































Não é uma estreia, mas a reedição de um dos livros de Anthony Browne de que mais gostamos merece que o festejemos. Pela Floresta é uma das viagens mais deliciosas e incríveis que podemos fazer floresta dentro. Ainda que a capa e as primeiras páginas nos revelem que o protagonista da história é um rapaz, quase não necessitamos abrir o livro para saber que ele nos remete para o universo da Capuchinho Vermelho. 




O magnífico inicio de história parece traduzir-se num presságio de que algo está para acontecer. O pai não está em casa e essa separação não é do agrado do rapaz. O que se segue é-nos familiar. A a avó está doente e a mãe pede que lhe leve um bolo. Para chegar a casa da avó há dois caminhos possíveis. O mais longo, que demora séculos, e o mais curto, pelo meio da floresta. A mãe, obviamente, disse-lhe para ir pelo caminho mais longo e seguro. Não que o rapaz fosse desobediente, mas como queria estar em casa quando o pai chegasse,  aventurou-se pela floresta. 

























Browne conduz-nos por uma floresta repleta de mistério, plena de detalhes e metáforas visuais. O lobo andará, certamente, por lá, mas quem o rapaz dos sapatos vermelhos encontra, a cada virar de página, são personagens bem nossas conhecidas de outros contos. O preto e branco eleitos pelo autor adensam o mistério, a inquietude e o medo do rapaz que acaba por chegar a casa da avó não só com os simbólicos sapatos vermelhos com que saiu de casa, mas também com um casaco de capuchinho vermelho com que se cruzou no caminho. Curiosos? 





Para os que ainda não conhecem a história,  esta é a altura em que devem agarrar nas crianças, abrir o livro, percorrer a floresta, enfrentar os medos e corajosamente entrar em casa da avó...


terça-feira, 1 de outubro de 2013

Um Passeio Pelo Parque


Chegou Um Passeio Pelo Parque, de Anthony Browne. Do autor e da sua vasta obra já falámos aqui


Este foi o segundo livro de Browne, editado em 1977.  As diferenças sociais, o preconceito e a indiferença que tantas vezes caracterizam o mundo dos adultos são aqui evidenciadas pela espontaneidade, facilidade de comunicação e liberdade de comportamento das crianças e dos animais.


O encontro, no parque, de duas famílias põe em confronto os diferentes comportamentos. Enquanto as crianças e os cães partilham e desfrutam alegres momentos, os adultos permanecem de "costas viradas", sem trocar palavra. 


Quando chega ao Parque, o leitor já conhece as duas famílias, uma vez que lhe é permitido acompanhar o percurso que fazem desde que saem de suas casas. À boa maneira  "browneana", é através da multiplicidade de elementos e referências que povoam as ilustrações, que adquirimos um conhecimento mais detalhado das personagens e adivinhamos a sua origem social.



O leitor torna-se sujeito activo, na medida em que é sistematicamente impelido a interpretar toda uma parafernália de elementos com que se vai deparando. Pintores e quadros célebres são quase obrigatórios nos livros de Browne e este não é excepção. Logo na primeira página, encontramos uma peça replicadora  do célebre quadro de Barraud, His Master's Voice. Os elementos intertextuais são constantes. Num parque que, por vezes, se pode assemelhar a uma floresta sombria, não faltam surpresas!  Numa clara alusão a ricos e pobres, Robin dos Bosques passeia-se por lá e a simbologia do homem livre é-nos relembrada pela figura de Tarzan, na sua liana. 


Terminaríamos por aqui, não fosse estarmos a falar de um dos nomes maiores da literatura (infantil) e o facto de vinte anos volvidos sobre o livro, Browne o ter revisitado e nos ter conduzido novamente ao Parque. Desta feita, através do genial Voices In The Park.


A mesma temática e as mesmas personagens,  já sob o primado da figura humanizada dos primatas (tão do seu agrado), ganham agora uma nova dimensão. A história chega-nos contada a quatro vozes! Cada uma das personagens relata-nos a sua versão dos momentos vividos no Parque.


Os pormenores de  que Browne se socorre para cada um dos relatos (tipo de letra, linguagem, jogo de cores e de sombras...) e a intensidade com que cada personagem assume agora o seu perfil psicológico fazem de Voices In The Park um livro obrigatório. A ele voltaremos um destes dias.


"Voices in the Park encourages children to see things from other people’s points of view. I want children to see the world through other people’s eyes — to imagine what it’s like to be somebody else", diz Anthony Browne.


Nós, Hipopómatos, não perdemos nunca a oportunidade de ver o mundo através dos seus olhos.


domingo, 11 de novembro de 2012

Anthony Browne

Na maioria das vezes, quando as pessoas visitam um museu ou galeria de arte, perdem mais tempo a ler a explicação de um quadro do que a observá-lo. 
As palavras são do laureado Anthony Browne, autor e ilustrador de uma vasta obra na área da literatura infantil.


Coleccionador de um invejável número de prémios,  entre os quais o Prémio Hans Christian Andersen, em 2000, Browne atribui o sucesso do seu trabalho ao facto de as crianças serem observadores bem mais inteligentes, imaginativos e sensíveis do que os adultos podem supor.


Mais do que observadores dos seus livros, Os Hipopómatos são incorrigíveis  consumistas do seu trabalho. Um trabalho em que predomina a componente plástica, onde os elementos pictóricos e as referências culturais se combinam proporcionando enriquecedoras formas de leitura.  Através de Browne, a dupla leitura de palavras e de imagens ganha uma nova dimensão.


Os primatas são a imagem de marca do universo browneano. O autor exalta o contraste entre a "força bruta" que lhe intuimos e a gentileza que efectivamente os caracteriza. Destaca a similitude dos traços e rugas com o envelhecimento do rosto humano e o carácter universal que "assegura que todas as crianças se possam identificar com eles, e não só as pessoas de certa idade, época ou raça."



Personagens humanizadas na maior parte dos seus livros,  nutre por eles um fascínio confesso, a que não é alheia a memória do pai, homem de aparência forte e confiante mas ao mesmo tempo, tímido e sensível.

Num mundo muito seu, genialmente retratado, o pendor e a influência dos pintores surrealistas, dos quais se destaca o belga René Magritte,  são uma evidência na obra de Anthony Browne.

Outra evidência, que muito nos alegra,  é a recente edição pela Kalandraka  de mais dois livros de Anthony Browne.


Dois fantásticos álbuns, onde os mais pequenos podem deliciar e ginasticar os sentidos. Como Te Sentes, numa magnífica simbiose entre palavras simples e imagens, é uma espécie de viagem pelas emoções infantis. Feita por esta simpática personagem, cujas expressão e atitude vão mudando consoante os sentimentos que vai exprimindo.


Em Um Gorila, um livro para aprender a contar, Browne atinge um realismo que roça a perfeição. A inevitável empatia que se cria entre estas criaturas e o leitor perdura muito para além do acto de fechar o livro. Fazendo o que tanto gosta, o autor evidencia similitudes, revela-nos expressões e afectos, relembra espécies ameaçadas.



 E não hesita em "dar a cara" por uma causa que sempre foi a sua,


e que, às vezes, esquecemos que é de todos.


Anthony Browne é um dos ilustradores que integram a exposição da Gulbenkian, Um chá para Alice. Voltaremos a ele. Até lá também podem  bisbilhotecar.