Este foi o segundo livro de Browne, editado em 1977. As diferenças sociais, o preconceito e a indiferença que tantas vezes caracterizam o mundo dos adultos são aqui evidenciadas pela espontaneidade, facilidade de comunicação e liberdade de comportamento das crianças e dos animais.
O encontro, no parque, de duas famílias põe em confronto os diferentes comportamentos. Enquanto as crianças e os cães partilham e desfrutam alegres momentos, os adultos permanecem de "costas viradas", sem trocar palavra.
O leitor torna-se sujeito activo, na medida em que é sistematicamente impelido a interpretar toda uma parafernália de elementos com que se vai deparando. Pintores e quadros célebres são quase obrigatórios nos livros de Browne e este não é excepção. Logo na primeira página, encontramos uma peça replicadora do célebre quadro de Barraud, His Master's Voice. Os elementos intertextuais são constantes. Num parque que, por vezes, se pode assemelhar a uma floresta sombria, não faltam surpresas! Numa clara alusão a ricos e pobres, Robin dos Bosques passeia-se por lá e a simbologia do homem livre é-nos relembrada pela figura de Tarzan, na sua liana.
Terminaríamos por aqui, não fosse estarmos a falar de um dos nomes maiores da literatura (infantil) e o facto de vinte anos volvidos sobre o livro, Browne o ter revisitado e nos ter conduzido novamente ao Parque. Desta feita, através do genial Voices In The Park.
A mesma temática e as mesmas personagens, já sob o primado da figura humanizada dos primatas (tão do seu agrado), ganham agora uma nova dimensão. A história chega-nos contada a quatro vozes! Cada uma das personagens relata-nos a sua versão dos momentos vividos no Parque.
Os pormenores de que Browne se socorre para cada um dos relatos (tipo de letra, linguagem, jogo de cores e de sombras...) e a intensidade com que cada personagem assume agora o seu perfil psicológico fazem de Voices In The Park um livro obrigatório. A ele voltaremos um destes dias.
"Voices in the Park encourages children to see things from other people’s points of view. I want children to see the world through other people’s eyes — to imagine what it’s like to be somebody else", diz Anthony Browne.
Nós, Hipopómatos, não perdemos nunca a oportunidade de ver o mundo através dos seus olhos.
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