quarta-feira, 19 de novembro de 2025

À Noite, na Floresta


 
























À noite, na floresta | Sarah Cheveau | Orfeu Negro


Entrar na floresta, ao cair da noite, não é para todos. Intuímos, por isso, que a protagonista que relata tamanha aventura é, no mínimo, destemida. A coragem é contagiante e por entre mistérios e riscos imprevisíveis, o leitor sente-se desafiado a acompanhá-la. Uma incursão misteriosamente bela, delineada em tons escuros e marcada pelo encontro com alguns dos magníficos habitantes desta floresta.












Árvores e mais árvores, pegadas, silhuetas... tudo se mistura na mescla de tons escuros que pintam a noite por ali. Um esquilo, uma raposa, uma lebre, um texugo, uma corça e, para culminar, o desassossego da aparição de um enorme javali. O suspense aumenta na proporção da crescente proximidade. O desfecho revela-se ao leitor como um sonho em forma de poema escrito e ilustrado.












A poesia e a singularidade do livro reside, acima de tudo, na inovadora técnica de Chevau para ilustrar o livro: o uso de carvão vegetal. De acordo com a autora, "um pauzinho descascado e queimado dentro de um recipiente dá um pedaço de carvão vegetal, que é uma ótima ferramenta para desenhar". A paleta de cores, nas suas diferentes tonalidades de castanhos e negros, resultante das diversas essências da madeira depois de queimada, conduz a um resultado sublime. E para que o leitor não tenha dúvidas, a autora brinda-nos com a inclusão de um mostruário de algumas das ferramentas utilizadas, de uma lista das cores de essências de madeira e de um maravilhoso herbário.












Numa narrativa predominantemente visual, beleza e poesia andam de mãos dadas a reboque de uma técnica inovadora que nos fascina e faz ter vontade de meter mãos ao trabalho! Sem dúvida, uma das nossas escolhas para este ano de 2025. 


quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Biblioteca de Bolso
























Biblioteca de Bolso | Maurice Sendak | Kalandraka

É preciosa!  Durante anos, a versão inglesa que temos foi dos livros mais cobiçados nos Hipopómatos. Agora, Biblioteca de Bolso de Maurice Sendak já anda por cá. Vê-la, finalmente, em portugês, é uma imensa alegria. Sendakianos de alma e coração, queremos festejar e partilhar com todos. Os que conhecem a sua obra e, acima de tudo, com os que estão menos familiarizados com ela. Porque ler Sendak é sempre um bem necessário. 




Canja de Galinha com Arroz, Vida de Crocodilo, João e Mais Oito Duarte são os quatro mini livros que integram a pequena caixa que exibe belas ilustrações de Sendak, aqui com um  toque vintage. Deles já falámos aquiaqui. Sendak ocupa várias páginas deste blogue e nunca nos cansamos de o revisitar.



Agora que o tesouro chegou, apoderem-se dele. As crianças adoram o formato mini dos livros. Alguns adultos também. A caixa faz as delícias de todos e pode levar-se para qualquer lado! Afinal, é a Biblioteca de Bolso. Tirem os livros e leiam com os miúdos. Muitas vezes. Antes de os  guardar, sorriam e lembrem-se que Sendak foi e será sempre um escritor fora da caixa.




terça-feira, 4 de novembro de 2025

Lembras-te?

 























Lembras-te? | Sydney Smith | Fábula


O presente entrelaça-se, de forma bela e poética, com as preciosas memórias de um passado não muito longínquo.  Um tempo que se revela feliz é agora lembrado por mãe e filho que parecem alicerçar nele a força para  viver o presente e construir o futuro. 








































Num cenário envolto em tons escuros, vários planos dos rostos, das mãos e dos pés mostram os dois protagonistas deitados, num aconchego feito de proximidade, recordando nostalgicamente o que ficou para trás. É através da evocação dessas memórias que o leitor fica a conhecer melhor a vida que já tiveram. O lugar onde viviam, o tempo passado em família com o pai e o avô, pequenos grandes momentos reveladores do afecto e do amor que preenchiam os seus dias. Uma história de vida contada a partir da dicotomia passado e presente.








































A pergunta que dá título ao livro está presente a cada dupla página, situando o leitor no momento presente e partilhando com ele as recordações de mãe e filho. As falas de ambos são assinaladas por cores diferentes, permitindo-nos identificar quem lembra o quê.
Os tons escuros que pintam  os silêncios e a nostalgia das memórias,  contrastam com as cores usadas nas vinhetas que ilustram, sequencialmente, alguns momentos do passado: dias de piquenique, de aniversário,  a primeira bicicleta e a primeira queda, a casa do avô... 








































Depois do incrível Ser Pequeno na Cidade, o seu livro estreia a solo, o autor volta a deslumbrar-nos com um livro onde o peso da partida e da separação se debate com a esperança de novos recomeços. Afinal, uma temática que é, hoje, coisa de todos os dias. O estilo de Smith, já aqui o dissemos, é indissociável do seu gosto pelas vinhetas, pelos quadros em que distende sequencialmente as suas histórias, pelas manchas de toque impressionista, mas sempre fornecendo ao leitor retratos fiéis da realidade. Este livro, dedicado à sua mãe, não é excepção. 








































Não sabemos as razões que motivaram a partida, que deixaram o pai e o avô para trás, mas intuímos a força que os dois precisam para enfrentar tamanha mudança. No final, o rapaz mostra-se confiante, dando ao leitor uma informação adicional: aqui não têm que estar preocupados ou assustados. Como que por magia, o sol nasce sobre a casa nova e o cheiro da padaria do outro lado da rua mistura-se com a certeza de que no novo caminho tudo vai correr bem. Os momentos de agora transformar-se-ão, também eles, em preciosas e alegres memórias. 
Uma já existe. A viagem que os trouxe até aqui.  À cidade onde se perderam, acabando guiados pelo ursinho de peluche que o pai lhe tinha dado. Lembras-te?