Se Choras Como Uma Fonte | Noemi Vola| Planeta Tangerina
Este é um livro onde se pode chorar à vontade, mas do qual ninguém sai imune a umas boas gargalhadas. Já todos experienciámos a situação de estar perante uma criança e tentar, a todo o custo, que a sua vontade de chorar não descambe em pranto. E quem não provou já o fracasso da missão? Nesta história, é o narrador que chama a si tal tarefa, nunca se dando por vencido.
O diálogo entre o narrador e a minhoca que assume o protagonismo da história obedece a uma toada em crescendo, que vai prendendo os leitores ávidos de saber como se vai desenrolar a lacrimal trama. O argumento inicial é de peso. Perante uma minhoca com toques de calimero, o narrador invoca que não se pode iniciar o livro com uma cara tão tristonha. Resultado?
Os olhos da pobre minhoca vão denotando uma maior vontade de chorar, enquanto a sua postura é reveladora do enorme esforço feito para evitar que isso aconteça. A verdade é que só aguenta quatro páginas até a primeira lágrima se soltar. Segue-se o pranto e a subida da água até um bom nível da página. O narrador vai fazendo uso de todos os argumentos possíveis, desde os mais drásticos, como o perigo de afogamento, aos mais convencionais, como chorar não serve de nada. Tudo em vão. Ainda assim, continua determinado a virar a história a seu favor.
A solução encontrada surpreende tanto a minhoca como os leitores. Chorar, afinal, serve para muita coisa. E a minhoca até pode chorar à vontade, tem é de chorar melhor. Começa, então, um desfile de personagens, mais ou menos conhecidas, que dão forma aos diversos exemplos de como se pode fazer um melhor aproveitamento do choro. Ao mesmo tempo, a autora brinda-nos com um elenco de situações hilariantes e, por vezes, até inusitadas. Chorar como uma fonte pode fazer todos os pombos felizes, chorar para dentro de uma panela pode fazer uma bela massa, chorar na sala e usar um bocadinho de detergente...
A minhoca vai-se recompondo. O narrador vai levando a água ao seu moinho. Entusiasma-se. Explica-lhe que todos choramos. Polícias, super-heróis, jogadores de futebol, formigas, pedras... Que as lágrimas podem apagar pequenos e grandes fogos. Que podemos chorar em qualquer estação do ano. Sozinhos ou acompanhados. Que chorar é uma língua universal que até se entende melhor que o inglês. Que, afinal, o mundo até seria trágico sem lágrimas. Os sapos, por exemplo, acabariam por explodir, os rios ficariam secos.... O ânimo da protagonista é agora diferente.
Com uma paleta de cores alegres e uns desenhos com que os mais pequenos facilmente se identificam, Vola presenteia-nos com uma história que tem tanto de divertida (quem resiste a uma compota de pera 100% fruta e lágrimas?) como de preciosa. Afinal, é de sentimentos e de estados de alma que falamos.
A esta altura, a minhoca parece outra. Tiramos o chapéu ao hábil e astuto narrador, embora todos saibamos que as próximas lágrimas não tardarão a chegar. Mas isso são outras inundações... Para os mais distraídos, que não se tenham ainda interrogado do porquê de tanta tristeza e choro no inicio do livro, só podemos recomendar que o abram e descubram. Porque esta história é de rir e de chorar por mais...
Sem comentários:
Enviar um comentário