O título e o inicio do livro não deixam dúvidas aos leitores. Nesta história, há um urso polar perdido na grande cidade. Não sabe como aqui chegou, nem em que parte do percurso se enganou. Mas os altos arranha-céus, a multidão e a agitação rapidamente o levam a concluir que está perdido. Resta-lhe tentar encontrar o caminho de volta para casa.
Através dos pensamentos e das falas do urso, o leitor vai acompanhando a tarefa que não se adivinha fácil. À sua volta, todos lhe parecem demasiado ocupados ou abstraídos para o ajudar. Provavelmente, também estarão perdidos, pensa o urso. Talvez seja essa a razão para ninguém lhe prestar atenção. As filas são muitas. Decide aguardar numa, na esperança de ser a certa para recolher a informação de que precisa. O máximo que consegue é uma bebida da qual nem gosta...
Quando, finalmente, chega ao balcão das informações, a pessoa responsável pelo atendimento nem sequer olha para ele, entregando-lhe simplesmente um mapa. Apesar de lhe terem dito que contém toda a informação, não consegue encontrar nele a mínima pista para voltar ao Pólo Norte. Sem perceber bem como, já se encontra no metro. Mas as suspeitas de que o mesmo não o levará de volta a casa são imensas. Um grande plano da carruagem, divido em quadros, mostra ao leitor cenas que lhe são sobejamente familiares. Entre telemóveis, jornais, auscultadores... ninguém dá pela presença do enorme animal.
Num metro apinhado de gente, a sensação de solidão pode ser esmagadora. Mas, eis que, finalmente, uma menina de cabelo ruivo, abraçada a um coelho de peluche, lhe lança um "Olá, Urso!" A cor do cabelo fá-la destacar-se no meio daquela carruagem de gente tão igual. A sequência de imagens a partir daqui é extraordinária. A menina decide levar o urso para casa. Afinal, é o que ele quer! Uma mão dada ao urso e a outra à mãe que, completamente absorta no telemóvel, nem dá pela presença do novo amigo.
Uma vez instalados, sem que os pais se apercebam de alguma coisa, a menina faz tudo o que pode para que o amigo se sinta em casa. Inicia-se uma verdadeira relação de amizade. A pequena brinca com ele, alimenta-o, dá-lhe banho... O urso aprecia a simpatia e a generosidade da nova amiga, mas começa a desconfiar que ela não faz a mínima ideia de onde fica o Pólo Norte. Só quando chega a hora da história, nos tranquilizamos. Nós e o Urso. Podemos ver as estantes de livros, onde a autora inclui um exemplar do seu A Inundação e um livro sobre o Pólo Norte, de imediato reconhecido pelo urso. Com ele pode, por fim, mostrar a sua casa, o lugar onde nada, o que comem os ursos (e não, não é pizza!), a sua família... Adivinhamos o final. É para isso que servem os amigos, para nos ajudar a voltar a casa.
O segundo livro de Mariajo volta a ter como cenário a grande cidade. Mas, enquanto em A Inundação, de que falámos aqui, se aborda o espirito de equipa, a entreajuda e a solidariedade que permitem salvar a cidade inundada, aqui a temática é bem diferente. A indiferença da grande cidade, o alheamento da multidão e a frieza que pode caracterizar os grandes centros urbanos. Curiosamente, os dois livros exercem a mesma magia na hora de prender os leitores.
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