Entre leões e elefantes, este é um verão de leituras muito interessantes. Depois de falarmos aqui do leão Leonardo e do pequeno elefante Ernesto, hoje queremos falar de O Elefante da Dona Bibi, do iraniano Reza Dalvand, editado pela Fábula. Fãs do seu trabalho há algum tempo, festejamos a chegada do autor e esperamos já pelo próximo livro.
A dona Bibi podia ter escolhido um gato, um cão ou até uma tartaruga para lhe fazer companhia? Podia, mas o seu animal de estimação é um elefante. Muito, muito grande. Esse é também o tamanho da amizade entre os dois. Partilham a vida com entusiasmo e alegria. Todos os dias dão um passeio pela cidade, de manhã divertem-se a brincar com as crianças e a tarde é regada com o habitual chazinho, acompanhado de bolo. Nham, nham... Antes de adormecer, a dona Bibi faz questão de contar sempre histórias ao seu elefante. Para que ele tenha bons sonhos.
Apesar da vida tranquila que levam, as pessoas da cidade não gostam do elefante.
- demasiado grande - demasiado barulhento - causa muitos engarrafamentos.
E o pior de tudo, consideram que ele é um mau exemplo! já imaginaram se todas as crianças quisessem um animal de estimação? As casas não são para isso, mas sim para estarem cheias de objetos bonitos e requintados. Em vez de perder tempo com o elefante, a dona Bibi devia era ler o jornal, informar-se como investir o seu dinheiro e saber mais de economia.
Chegado aqui, o leitor já escolheu o lado da contenda. Também não tem dúvidas acerca do posicionamento do autor. Quanto à dona Bibi, ela não tem qualquer interesse por objetos luxuosos e, muito menos, por economia. O seu grande, muito grande interesse é o elefante com quem partilha os dias, com quem ri e a quem conta as histórias do que já viveu.
Mas aquelas pessoas não desistiam. Movidas pela fúria e pela ignorância, acabam por obter uma decisão de um juiz a ordenar que o elefante passasse, logo na manhã seguinte, a viver no jardim zoológico. A noite é de tristeza para dona Bibi e para todos os leitores que estão do seu lado. A doce senhora contou histórias ao seu elefante até ele adormecer e abraçou-o muito. Não suportava a ideia de se separar do seu grande, muito grande amigo. Sabia que tinha de fazer alguma coisa para o evitar. Os leitores não sabem o quê, mas sabem que a apoiarão incondicionalmente.
Com uma paleta de cores alternando entre tons vibrantes e suaves e uma magnífica parafernália de padrões e detalhes, Dalvand prende os leitores logo na capa. As flores em relevo, o ar pequeno e frágil da carinhosa senhora sentada na tromba do seu animal de estimação, o contraste com o tamanho deste... deixam antever toda a ternura que a história comporta. São elementos que nos levam a não resistir a abrir o livro. Uma vez lá dentro, o leitor vive a crescente tensão entre os dois lados, não hesitando nunca em relação ao seu posicionamento. Se alguma dúvida subsistisse, ela desapareceria no momento em que o autor nos mostra as caras daquela multidão em fúria. Composta por pessoas todas diferentes, mas unida pela resistência à aceitação da diversidade.
É sem surpresa que, no dia seguinte, vemos que não está ninguém em casa da dona Bibi, quando aquelas pessoas chegam para levar o elefante. A casa é revistada à vista do leitor. Conferimos que não existem objetos finos e luxuosos, mas há maravilhosas fotografias que já nos fazem sentir saudades dos dois. A janela aberta deixa antever que ambos escolheram viver livres, juntos e felizes. Apesar de nos fazerem falta no resto da história, ficamos também felizes por eles.
Feliz não é uma palavra que possamos utilizar para aquela multidão. Depois da partida dos protagonistas da história, a cidade nunca mais foi a mesma. Todos deixaram de sorrir. s criança deixaram de brincar na rua. Sentiam saudades do elefante. Havia um vazio do tamanho de um elefante. Aquelas pessoas perceberam, finalmente, que eram todos mais felizes quando a dona Bibi e o seu elefante ali viviam. E talvez tenham entendido que uma casa é muito mais que um lugar com objetos luxuosos. É um lugar para se viver, onde até pode caber um elefante. Muito, muito grande. A decisão foi tomada. As crianças passariam a ter os seus animais de estimação. Cães, gatos e até houve quem escolhesse o seu próprio elefante.
E a dona Bibi e o seu grande amigo? Descubram! Abram o livro e fiquem por lá com os miúdos. Ele tem múltiplas leituras e apetece morar lá por muito tempo. E ter um elefante?
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