terça-feira, 8 de junho de 2021

Migrantes


 












Não os conhecemos, mas vemo-los todos os dias. Sentimos que pouco ou nada podemos fazer por eles, mas não nos saem da cabeça. Nem tão pouco das conversas. São aos milhares. Velhos, novos, crianças, sozinhos ou em família... Fogem do medo, da guerra, da miséria... em direcção a um novo mundo cheio de nada. O que os move? A última coisa que morre dentro de cada um de nós, a esperança. Uma realidade dramática que já não escapa ao conhecimento das nossas crianças. Continuamos sem saber explicar-lhes porque milhares de crianças como elas têm de trilhar caminhos tão sórdidos e tenebrosos. Somos, muitas vezes, confrontados com as suas perguntas, com os seus espantos. Migrantes, o livro da peruana Issa Watanabe trazido recentemente para Portugal pela Orfeu Negro, nasceu da vontade de contar aos mais novos estas terríveis histórias de vida.












Migrantes é um livro sem texto, um testemunho silencioso que atravessa a escuridão dos dias e das noites. As palavras não são necessárias para compreender os dramas que estas personagens carregam consigo. Num cenário feito de folhas negras, um grupo de animais humanizados ilustra a dureza de uma travessia tantas vezes vivida por milhares de pessoas. Envergam trajes coloridos, num evidente contraste com o escuro dos caminhos que pisam. De acordo com a autora, essa foi a forma encontrada para dar a cada um uma identidade própria. À escolha de animais presidiu a intenção de universalizar a história, não lhes atribuindo qualquer raça ou lugar de proveniência, e também os destinatários. 


Por terra e mar, caminham e sofrem em silêncio. A bagagem é pouca e a morte, personificada por uma caveira coberta por um manto florido, é companheira de viagem. Entreajudam-se, não querendo que nenhum fique para trás. Mas o leitor sabe que dificilmente o grupo chegará ao fim sem perdas.  Sempre que viramos a página, não sabemos o que vamos encontrar. Mas, é sem surpresa que vemos o manto da morte perder a cor.


















Watanabe inspirou-se no livro do fotógrafo sueco Magnus Wennman, Where The Children Sleep,   e no contacto próximo que manteve com um migrante num período que viveu em Maiorca. Sem condescendências e de forma notável, a autora  consegue tocar os mais novos com uma história sobre acontecimentos que, infelizmente, já se tornaram de todos os dias. E se fosses tu?

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