Esperar por outro momento importante, é uma grande especialidade de todas as árvores.
Esta é a história de uma árvore que estava à espera. De esperanças. Esperava o dia mais que perfeito, o dia certo, o dia tal! Por isso, deixou passar os dia frios. Os dias de chuva. Os dias incertos. Esperou pelo calor e finalmente viu as suas sementes soltarem-se. Voarem!
O momento não podia ser mais oportuno. Nunca se terá falado tanto da nossa floresta, nunca se terá prestado tanta atenção às nossas árvores como agora. A tragédia que devastou o país, pintando quilómetros e quilómetros de tonalidades verdes com tons negros e feios, reacendeu também inquietudes e preocupações. Delas, não ficaram arredadas as crianças. Falar-lhes do respeito e da sensibilidade que a mãe natureza espera de nós, é um imperativo.
Cem Sementes que Voaram, o livro agora editado pelo Planeta Tangerina, com texto de Isabel Minhós Martins e ilustrações de Yara Kono, é merecedor do nosso aplauso.
No rasto das cem sementes lançadas pelo sábio pinheiro, as autoras conduzem-nos num percurso onde se somam imprevistos (serão?), mas onde a palavra de ordem é a subtracção. Das 100, 10 acabaram numa autoestrada, 20 mergulharam num rio e foram comidas pelos peixes, 10 caíram em solo rochoso, 25 foram bicadas pelos pássaros... umas desapareceram no papo de um melro guloso, outras foram comidas por um trinca-pinhões, outras houve que aterraram na barriga de um esquilo ou que foram levadas por um menino, algumas até serviram de ninho a dois insectos apaixonados...
Página a página, vamos fazendo contas às que restam. Alimentando a esperança de que as páginas seguintes sejam apenas portadoras de boas notícias. Mas não é isso que acontece. Uma certa angústia apodera-se de nós, leitores. Pequenos e grandes. Porque este é um livro para todas as idades. O ritmo parece alucinante... Restará alguma? No rosto dos mais pequenos surgem riscos de apreensão, de tristeza...
Mas este é um livro com marca Planeta Tangerina. Logo, tudo pode acontecer. Até, imaginem, fazer uma pausa, um parênteses. São as próprias autoras que o dizem:
(E agora sentamo-nos um pouco a chorar...
Porque, caramba, isto já começa a ser demasiado triste!)
A história poderia acabar mal? Sim, podia. À semelhança de algumas histórias da vida. Mas a natureza também nos ensina que nada se perde, tudo se transforma e as surpresas estão aí. A relembrar-nos que a grande especialidade das árvores é esperar por outro momento importante. Na esperança de que tudo corra bem.
No final, encontramos algumas das sementes que germinaram a imaginação das autoras para fazer um livro que celebra a resistência das sementes e a inteligência das árvores e da natureza.
Um livro inteligente, acrescentamos nós, que celebra muito do que um livro pode ser. Seguramente, um dos livros do ano para os Hipopómatos.
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