Emmanuelle Houdart |
domingo, 29 de outubro de 2017
sexta-feira, 27 de outubro de 2017
Triângulo
A chegada de mais um livro da dupla Jon Klassen/Mac Barnett é sempre motivo para festejar. Desta parceria frutuosa, temos, entre nós, Uma Aventura Debaixo da Terra, também editado pela Orfeu Negro. Destinado ao público mais pequeno, chega agora Triângulo.
Um dia, o triângulo, que vivia numa casa triangular, decidiu ir pregar uma valente partida ao quadrado. Para chegar a casa deste, o triângulo teve de atravessar uma floresta povoada de triângulos pequenos, médios e grandes. Depois deles, o triângulo passou ainda pela parte da floresta em que as formas já não eram triângulos, eram formas sem nome, até chegar, finalmente, ao território dos quadrados. Grandes, médios, pequenos...
Conhecedor do pavor que o quadrado nutre por cobras, o triângulo chega a casa deste determinado a pregar-lhe um valente susto. E podemos garantir que a tarefa que se propunha foi coroada de êxito.
Em Dezembro de 2013, escrevíamos aqui que Klassen era um dos autores que muito gostaríamos de ver traduzido entre nós. Quatro anos volvidos, graças à Orfeu Negro, são já vários os livros conhecidos em Portugal. A trilogia dos chapéus (Este Chapéu não é Meu, Quero o meu Chapéu e Achámos um Chapéu), O Escuro, Uma Aventura Debaixo da Terra.
Enquanto ilustrador, Klassen é portador de um estilo inconfundível. Minimalistas, as suas ilustrações parecem conter apenas o essencial para nos encantar e deixar incondicionalmente à espera do próximo livro. A utilização de uma paleta de cores, onde predominam, em regra, os tons terra, sépia e negro é outra das suas características. Mas é, sobretudo, o humor desconcertante que quase sempre expressa nas suas ilustrações, que encanta pequenos e grandes leitores.
Triângulo não foge à regra. À semelhança de outros livros desta dupla, como Uma Aventura Debaixo da Terra e Extra Yarn, há uma notável cadência entre texto e imagens. Com uma estrutura repetitiva e invertida, ao texto aparentemente simples juntam-se os jogos de sombras, os planos, as formas... que ora são montanhas que apetece escalar, ora são, com pernas estreitas e olhos grandes, personagens hilariantes.
Não pensem que o triângulo ficou sem resposta. Passado o susto, o quadrado decidiu percorrer o caminho inverso, até casa do triângulo. Quadrados grandes, médios, pequenos... A vingança serve-se fria! E o quadrado acaba por descobrir que o triângulo tem pânico do escuro. Ou já saberia?
Triangulem, triangulem! A criançada vai adorar.
terça-feira, 24 de outubro de 2017
Paris. Up, Up and Away. Leituras de Fora
Paris. Up, Up and Away da autora francesa Hélène Druvert e editado pela Thames & Hudson, é o livro da semana na Casa dos Hipopómatos.
Imaginem que um dia a Torre Eiffel se aborrece e, qual pássaro, decide sobrevoar Paris.
Um livro delicado e imaginativo, onde os deliciosos recortes nos fazem parar nalguns dos muitos encantadores lugares desta cidade. Uma viagem maravilhosa para fazermos na companhia das crianças.
sábado, 21 de outubro de 2017
sexta-feira, 20 de outubro de 2017
Grandes Vidas Portuguesas.
A Marquesa de Alorna e Antónia Ferreira são as senhoras que se seguem na colecção Grandes Vidas Portuguesas, editada pelo Pato Lógico em parceria com a Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
Das anteriores biografias falámos aqui, referindo que esta é uma fantástica forma de apresentar aos mais novos alguns vultos da nossa história. Mas nem por isso menos cativante para os mais velhos.
Marquesa de Alorna, Querida Leonor, com texto de Luísa V. de Paiva Boléo e magnificamente ilustrado por André Carrilho, é um relato intenso e apaixonante da vida de uma extraordinária mulher, que encontrou nos livros e na cultura a fuga ao cativeiro que ainda menina lhe foi imposto.
Foram muitos os livros que D. Leonor leu nos dezoito anos de cativeiro: " Fui lendo tudo quanto achei e pude adquirir por um folheto que comprei, o qual tinha o título Bibliothèque d'un homme de gout, cheguei a adquirir 600 volumes meus, quase todos cheios de notas para meu estudo e instrução."
Verdadeira patrona das artes, Leonor, ou se preferirem, Alcipe, nome com que assinava a sua poesia, viveu uma vida muito para lá do seu tempo, o século XVIII.
A história de Antónia Ferreira, A Desenhadora de Paisagens é escrita por João Paulo Cotrim e ilustrada por Pedro Lourenço. Num mundo ao tempo dominado apenas por homens, a determinação da mulher que ainda hoje conhecemos por Ferreirinha garantiu-lhe um lugar na História.
Com uma imagem indissociável da do vinho do porto, aquela a quem chamavam a mãe dos pobres conduziu os negócios da família de forma exemplar, elevando-os a um patamar vedado à grande maioria dos homens.
Dona Antónia, a Ferreirinha, tinha uma fortuna colossal: as suas vinhas produziam 1500 pipas de vinho. em armazém repousavam mais 15 mil, centenas de acções em empresas de cá e do mundo, casas e palácios no Porto e em lisboa, armazéns enormes e o que mais tivesse jeito de ser sólido. E tinha, sobretudo, mais de 20 grandes quintas, que foi fazendo crescer comprando as pequenas da vizinhança. Com ela, os mapas não ficavam quietos. Contas feitas, a família herdou um património de perto de seis milhões de mil réis, muitos zeros que significam a possibilidade de fazer mundos e fundos.
Fãs destas Grandes Vidas, vamos já perguntando: próximos?
quarta-feira, 18 de outubro de 2017
Imagine a Night
Imagine a Night, com texto de Sarah L. Thomson e ilustrações de Rob Gonsalves é o livro da semana na Casa dos Hipopómatos.
imagine a night...
...when the space between words
becomes like the space
between trees:
wide enough
to wander in.
sexta-feira, 13 de outubro de 2017
quarta-feira, 11 de outubro de 2017
FRIDA
A beleza mora logo na capa. Ninguém resiste a tocar o tecido acetinado de que é feita, a passar os dedos pelas cores fortes, a sentir as flores, o rosto... O nome também está lá. Mas ainda que não estivesse, saberíamos sempre que este é um livro sobre Frida Kahlo.
Abrir o livro é como entrar num museu para ver uma exposição sobre a vida e a obra da pintora. O visitante percorre as páginas de mão dada com o sofrimento e a dor de Kahlo, do mesmo modo que respira a beleza e as cores com que pintou a vida que a escolheu.
A poesia do texto de Sébastien Perez é coadjuvada por frases e reflexões da própria Frida, recolhidas do seu diário e da correspondência particular. As magistrais ilustrações de Benjamin Lacombe recriam alguns dos quadros mais conhecidos da pintora mexicana, deleitando-nos os olhos, demoradamente, a cada página. Mais do que a linha impressionantemente fiel com que reinterpreta algumas dessas telas, o trabalho de Lacombe surpreende pelos elementos que reúne e que com uma unicidade ímpar nos transportam para o universo de Kahlo. Como se todos e cada um sempre lá tivessem estado. Tudo somado, ao leitor visitante surge a convicção de que este é um objecto feito, não a quatro, mas a seis mãos.
São nove os temas escolhidos para alicerçar o universo "fridiano". O acidente, a medicina, a terra, a fauna, o amor, a morte, a maternidade, a coluna partida e a posteridade. A escolha deve-se, no entender dos autores, ao facto de serem estes os temas que constituem a coluna vertebral da obra e da vida da pintora. A ordem com que surgem não é aleatória, deixando antever a cronologia de alguns dos acontecimentos mais marcantes que viveu. Também o número nove não é fruto do acaso, mas sim da simbologia de que se reveste na cultura asteca, tão cara a Frida.
Com um fabuloso trabalho de recortes, cada tema está estruturado em blocos de três páginas que nos permitem um olhar a três dimensões e que o próprio Lacombe explica desta forma em entrevista ao blog da rtve:
Tenemos la primera capa que es lo que vemos. Luego hay una segunda en la que observamos la relación entre la vida y la obra de Frida, gracias a la que comprendemos muchísimas cosas. Y una tercera donde entendemos el ámbito de referencias aztecas, mayas, taoístas… y juntando las tres tenemos una dimensión nueva de Frida. Hay tres dimensiones en el libro que son como las tres dimensiones de la pintura de Frida Kahlo. Para comprenderlo tendréis que ver el libro”.
Uma homenagem a Frida, à sua vida e obra, que é, simultaneamente, uma homenagem ao livro enquanto objecto de arte e expressão cultural. Um livro que tem, seguramente, como destinatários todos os amantes de arte e do belo, independentemente da idade. Todos os que admiram o trabalho de Frida e todos os que o desconhecem.
A inclusão de um texto de Lacombe sobre Frida, a interacção com as escolhas e critérios que presidiram à construção do livro, a existência de uma cronologia e de um glossário são elementos preciosos para uma melhor compreensão do doloroso e fascinante universo de Kahlo. E, queremos acreditar, um factor adicional para que este livro, editado pela Kalandraka, possa ser visto e apreciado por várias gerações aí em casa.
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