A beleza mora logo na capa. Ninguém resiste a tocar o tecido acetinado de que é feita, a passar os dedos pelas cores fortes, a sentir as flores, o rosto... O nome também está lá. Mas ainda que não estivesse, saberíamos sempre que este é um livro sobre Frida Kahlo.
Abrir o livro é como entrar num museu para ver uma exposição sobre a vida e a obra da pintora. O visitante percorre as páginas de mão dada com o sofrimento e a dor de Kahlo, do mesmo modo que respira a beleza e as cores com que pintou a vida que a escolheu.
A poesia do texto de Sébastien Perez é coadjuvada por frases e reflexões da própria Frida, recolhidas do seu diário e da correspondência particular. As magistrais ilustrações de Benjamin Lacombe recriam alguns dos quadros mais conhecidos da pintora mexicana, deleitando-nos os olhos, demoradamente, a cada página. Mais do que a linha impressionantemente fiel com que reinterpreta algumas dessas telas, o trabalho de Lacombe surpreende pelos elementos que reúne e que com uma unicidade ímpar nos transportam para o universo de Kahlo. Como se todos e cada um sempre lá tivessem estado. Tudo somado, ao leitor visitante surge a convicção de que este é um objecto feito, não a quatro, mas a seis mãos.
São nove os temas escolhidos para alicerçar o universo "fridiano". O acidente, a medicina, a terra, a fauna, o amor, a morte, a maternidade, a coluna partida e a posteridade. A escolha deve-se, no entender dos autores, ao facto de serem estes os temas que constituem a coluna vertebral da obra e da vida da pintora. A ordem com que surgem não é aleatória, deixando antever a cronologia de alguns dos acontecimentos mais marcantes que viveu. Também o número nove não é fruto do acaso, mas sim da simbologia de que se reveste na cultura asteca, tão cara a Frida.
Com um fabuloso trabalho de recortes, cada tema está estruturado em blocos de três páginas que nos permitem um olhar a três dimensões e que o próprio Lacombe explica desta forma em entrevista ao blog da rtve:
Tenemos la primera capa que es lo que vemos. Luego hay una segunda en la que observamos la relación entre la vida y la obra de Frida, gracias a la que comprendemos muchísimas cosas. Y una tercera donde entendemos el ámbito de referencias aztecas, mayas, taoístas… y juntando las tres tenemos una dimensión nueva de Frida. Hay tres dimensiones en el libro que son como las tres dimensiones de la pintura de Frida Kahlo. Para comprenderlo tendréis que ver el libro”.
Uma homenagem a Frida, à sua vida e obra, que é, simultaneamente, uma homenagem ao livro enquanto objecto de arte e expressão cultural. Um livro que tem, seguramente, como destinatários todos os amantes de arte e do belo, independentemente da idade. Todos os que admiram o trabalho de Frida e todos os que o desconhecem.
A inclusão de um texto de Lacombe sobre Frida, a interacção com as escolhas e critérios que presidiram à construção do livro, a existência de uma cronologia e de um glossário são elementos preciosos para uma melhor compreensão do doloroso e fascinante universo de Kahlo. E, queremos acreditar, um factor adicional para que este livro, editado pela Kalandraka, possa ser visto e apreciado por várias gerações aí em casa.
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