quarta-feira, 5 de novembro de 2014

A Minha Professora É Um Monstro! (Não Sou, Não).


Monstro bate o pé? Bate. Monstro ruge? Ruge. A Dona Lurdes, professora do Frederico, faz tudo isso! E muito mais!



Não admira pois que Frederico, um rapazinho de cabelo sempre em pé e com especial predilecção por aviões de papel em sala de aula, tenha um grande problema na escola. O problema tem nome: Dona Lurdes, um monstro!


Peter Brown presenteia-nos com uma história cheia de humor e sensibilidade em torno do binómio professor-aluno, das relações entre ambos,  mostrando como as aparências tantas vezes enganam. Como, sem nos darmos conta, os aspectos secundários se apoderam, não raro, do nosso dia a dia, sobrepondo-se ao que é verdadeiramente essencial. Por isso, não é de estranhar que a história seja dedicada a "professores incompreendidos" e a "alunos incompreendidos".


Na nossa história tudo muda quando, num sábado, Frederico e a sua monstruosa professora se encontram, por acaso, fora da escola. Contrafeito com tal aparição, Frederico percebe que não pode evitar o encontro. A atrapalhação inicial, o pouco à vontade, a intimidação que a figura do (ainda) monstro lhe provoca são visíveis no pequeno.


O desconforto da situação acaba, todavia, por ser ultrapassado por uma ajuda exterior, uma rajada de vento. O lindo chapéu da Dona Lurdes , oferecido pela avó (as professoras também têm avós!) voa e é salvo por Frederico.



É notável o trabalho de Brown no que toca às ilustrações. Na verdade, tratando-se de uma história com pouco texto, é através delas que assistimos, sem necessidade de qualquer explicação, à transformação da professora. À medida que a aproximação entre ambos se estreita, a mudança de cor e de alguns detalhes físicos, vão revelando a progressiva   humanização da Dona Lurdes. As emoções e reações estão patentes em ambos os rostos.


 




A sua cor verde, típica da figura de ogre que nos é apresentada inicialmente por Frederico, vai lentamente cedendo lugar à verdadeira cor de pele da Dona Lurdes, os dentes afiados deixam de o ser, as narinas vão adquirindo um formato normal...

                                       
                              
As barreiras ultrapassam-se, o desconforto dilui-se e Frederico até acaba por convidar a Dona Lurdes para conhecer o seu sítio preferido no parque. Lá, o rapaz rende-se!  Porque a sua professora teve uma ideia magnífica!

Será que a história perde o seu monstro? Pelo menos, naquele sábado, os olhos de Frederico, agora bem mais perto do coração, parecem ter deixado de o ver. Será este encontro suficiente para mudar as coisas em sala de aula? Pois, queridos professores e alunos, incompreendidos ou não, leiam o livro e descubram vocês mesmos! 


Nós apenas garantimos que a Dona Lurdes continua a bater o pé e a rugir (embora não esqueçamos que também adora grasnar!).


Numa altura do ano em que já devem existir por aí muitos monstros e, provavelmente, o tráfego de aviões de papel estará a congestionar algumas salas de aula, este é um livro obrigatório!


Porque todos nós, algum dia, gostaríamos de nos ter cruzado com as Donas Lurdes das nossas vidas e ouvi-las dizer, tratando-nos pelo diminutivo: És o meu herói!

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