As pessoas, quando se encontravam, nos cafés, nos empregos, na rua, falavam baixo, como se alguma coisa, um segredo terrível, as amedrontasse.
No País das Pessoas Tristes, as pessoas não podiam fazer o que queriam nem podiam dizer o que pensavam ou sentiam. E também não podiam conhecer outros povos, vivendo fechadas no seu país, como se ele fosse uma prisão.
Havia polícias por toda a parte que as perseguiam e lhes batiam se elas não dissessem nem pensassem o que eles queriam que dissessem e pensassem.
Os meninos do País das Pessoas Tristes não podiam ouvir as músicas, nem ver os filmes, nem ler os livros e as revistas de que gostavam... Nem sequer podiam beber Coca-Cola, porque a Coca-Cola também era (ninguém sabia porquê) proibida!
As raparigas e os rapazes não podiam conversar nem conviver. Elas não podiam vestir calças nem andar sem meias e eles eram mandados para horríveis guerras em países longínquos e obrigados a matar gente que não conheciam e que nunca lhes tinha feito mal nenhum, e muitos deles morriam lá ou regressavam loucos ou estropiados.
Mas um dia, as pessoas decidiram reconquistá-lo. Era o dia 25 de Abril. Esse dia passou para sempre a chamar-se o Dia da Liberdade.
Depois de Manuela Bacelar e Evelina Oliveira, nesta edição da Assírio &Alvim, é Pedro Proença quem ilustra O TESOURO, de Manuel António Pina. O Tesouro de todos nós.
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