Numa carruagem de comboio, três irrequietas crianças viajam na companhia de uma tia que tenta pacificá-las, contando-lhes histórias enfadonhas de meninos "bem comportados".
Para desespero de um circunspecto passageiro que partilha a carruagem, as sucessivas tentativas da tia revelam-se infrutíferas.
Os petizes continuam "a pintar a manta" e o homem
vai perdendo a paciência perante a incapacidade, ou melhor, a falta de jeito daquela tia para cativar a atenção das três “pestinhas”, uma das quais entoa repetidamente o primeiro e único verso que sabe de um conhecido poema de Kipling.
Desafiado a fazer melhor, o homem começa um conto cujo inicio não augura melhor sorte: era uma vez uma menina extraordinariamente boa.
Mas o que parecia uma história convencional, igual a tantas outras, evolui rapidamente por um caminho diferente. A menina extraordinariamente boa torna-se horrivelmente boa, o que só por si é suficiente para captar a atenção da criançada.
A menina horrivelmente boa é detentora de três medalhas: a da obediência, a do bom comportamento e a da pontualidade e acaba mesmo por ter direito a prémio. O príncipe convida-a a visitar o parque do palácio. Um parque precioso, nunca antes visitado por crianças, onde não há flores e abundam porcos.
E é nesse cenário que surge um nosso velho conhecido...o lobo mau. O objectivo era tão só comer uns porquitos, mas depois de avistar aquela menina, de vestido tão impecavelmente branco que se via ao longe, rapidamente mudou de ideias.
Perseguida pelo lobo, a menina horrivelmente boa foge a sete pés e acaba escondida nos arbustos, sustendo a respiração.
O animal já dera por perdida a caçada quando o tilintar das medalhas, chocando umas contra as outras, se tornou audível e... zás!
Da menina horrivelmente boa só sobraram mesmo as medalhas e os sapatos... E na carruagem, o silêncio foi interrompido apenas pela indignada tia que considerou o conto completamente inadequado e suficiente para deitar a perder o trabalho de anos de uma esmerada educação.
Ironia, humor e inteligência são características da obra de Saki que estão presentes ao longo de todo o conto. As magníficas ilustrações de Marina Rivera, que parecem recriar uma época vitoriana, completam este livro com formato de carruagem, de forma brilhante. Exemplo disso é a imagem da menina horrivelmente boa completamente decalcada da figura da tia.
No Dia Mundial da Voz, aqui fica a nossa homenagem a todos os contadores de contos inadequados... a todos os que emprestam a sua voz às histórias, fazendo vibrar pequenos e grandes ouvintes!
1 comentário:
è de contos inadequados que se faz a vida! fabuloso!
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