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quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Gigantescas pequenas coisas II



Dois em um. Depois do êxito de A Baleia, de que falámos aqui,  a Orfeu Negro decidiu presentear os mais pequenos com uma edição portátil do livro de Benji Davies. Fácil de transportar, a caixa comporta o livro em formato pequeno e um puzzle de cubos que lhes permite recriar seis das ilustrações. Poder dar vida, através dos cubos, ao Noé, à sua amiga baleia, aos gatos... proporciona às crianças uma forma de se familiarizarem ainda mais com as personagens. Como diz um dos nossos meninos hipopómatos: Agora, eles podem sair do livro. E eu posso convidá-los para irem comigo a muitos lugares. 


Ainda da Orfeu Negro, chegam A Viagem e A Sombra, dois livros com texto de Veronica Salinas e ilustrações com assinatura de Camilla Engman. Ambos têm o mesmo protagonista, um  pequeno e ingénuo pato, e revelam temas commumente designados como difíceis para a infância. 


A Sombra aborda uma velha e recorrente temática na literatura infantil: o escuro e os medos que lhe estão associados. Enquanto se delicia com um magnífico banho no lago, vê o sol a cintilar e usufrui do silêncio, o pequeno pato não dá conta do entardecer. O regresso a casa faz-se pelo meio da floresta e o escuro já se instalou. Tudo é assustador. Entre formas e ruídos, entre o que vê e o que  imagina, o medo e o desespero tomam conta do pato. Felizmente, não são os únicos. Em jeito de fábula, o tema é tratado com uma boa dose de humor para o que muito contribuem as divertidas ilustrações de Engman. 


Em A Viagem,  é a mudança e a necessidade de adaptação a novos lugares e gentes que estão em causa. De mochila às costas, o pequeno pato parece perdido num lugar novo e estranho, onde, aparentemente, ninguém sabe quem ele é nem fala a mesma língua. 


"Quem sou eu?" é a pergunta que faz a quem encontra. Nada que novos amigos e o reencontro consigo mesmo não ajudem a ultrapassar. E as crianças são, tantas vezes, a prova disso.


Com chancela do Planeta Tangerina,  Eu Sou Eu Sei  é um pequeno grande livro com texto de Ana Pessoa e ilustrações de Madalena Matoso. 

Eu Li, Eu Ri, Eu Snif, Eu Nhec. É a linguagem do crescimento, que a um tempo todos experienciamos. Uma aprendizagem permanente, feita de conquistas de todos os dias, de pequenas e grandes coisas. 


Eu Sou, Eu Sei, Eu Dou, Eu Rei. Passo a passo, vamos tocando o mundo, conhecendo-o e descobrindo-nos. Essa é a maravilhosa aventura de ser e crescer. Aqui, expressa como um poema ilustrado. As palavras de Pessoa e os desenhos de Matoso crescem juntos nesta espécie de ABC de quem chega ao mundo. Nhec, nhec, gostamos muito!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

A Baleia


O acontecimento é de monta! O britânico Benji Davies, autor do livro A Baleia, vencedor do Prémio Oscar's First Book 2014, faz a sua estreia em Portugal pela mão da editora Orfeu Negro.  

O livro é desconcertante e belo. Não só pela sensibilidade das temáticas abordadas, mas também pela forma encontrada pelo autor para o fazer. Tão importante como o que nos é contado é o que subentendemos. O que não está dito em momento algum, mas que o leitor depreende do princípio ao fim da leitura.


O Noé vive com o pai à beirinha do mar. Com o pai e seis gatos, que leitor algum resiste à tentação de localizar na fascinante casa e nas imediações. Uma espécie de jogo, logo no início do livro, que não faz esmorecer as primeiras interrogações.



O pai de Noé é pescador e sai para o trabalho de manhã bem cedo, só voltando depois de o escuro da noite chegar. O petiz, que não terá mais de cinco anos e que parece inseparável da sua touca,   fica entregue a si mesmo e aos gatos, os únicos seres que por ali vemos. É então que o leitor se afunda num turbilhão de sentimentos contraditórios, entre a noção de abandono e de solidão da pequena criança e a fantástica imagem de liberdade de que aquele parece usufruir na ilha.


Num dia tempestivo, Noé avista uma pequena baleia e, de imediato, sabe que tem de fazer alguma coisa para a salvar. O mar estaria certamente mais perto, mas a sua banheira confere-lhe outras garantias. Uma solução que parece agradar a ambas as partes.


A nova amiga, com quem pode agora partilhar a solidão dos dias, parece mostrar-se feliz com a proximidade e agradada com tudo o que ouve, desde a música às histórias do amigo. Este, por sua vez, não hesita em desfrutar cabalmente da companhia. Até porque sabe que a situação não será duradoura... O pai chegará a casa e ele teme a reacção.


O abrir da porta parece corresponder ao momento de viragem da história. Ao contrário do que Noé temia, o pai não se zanga. A imagem da baleia na banheira confere-lhe a verdadeira noção da solidão do filho e muito mudará na vida dos dois.


Ambos percorrem o caminho do mar para devolver a amiga baleia. Noé sabe que a viagem é tão inevitável quanto as saudades que vai ter dela. Mas esta não será uma viagem em vão, se atentarmos em tudo o que já ganhou. Aquele pai ausente, com ar distante e frio, semblante carregado que conhecemos no princípio da história,  cede, agora,  lugar a uma figura mais humana,  capaz de gestos de ternura e atenta ao filho, presente em todas as páginas do livro.


As ilustrações de Benji Davies são magníficas, levando-nos a entrar na ilha e a viver intensamente cada momento da história, cuja força emocional resulta, sobretudo, do que não se refere em momento algum, mas se adivinha. A interrogação que percorre pequenos e grandes leitores: E a mãe de Noé?


Um livro belo e intenso, polvilhado de algum humor e muita inteligência, que nos faz aguardar a chegada do próximo!