Fantasmas | Clara Rowland e Madalena Matoso | Planeta Tangerina
Pode parecer estranho andar com os fantasmas debaixo do braço, mas é o que temos feito desde que este pequeno e fantasmagórico livro nos chegou às mãos. Por entre sombras, ecos e algumas estranhezas fomos, completamente, "apanhados" por estas criaturas. Não nos saem da cabeça e já nos levaram por inúmeras histórias, alguns filmes e outros tantos livros. Entrámos em casas, museus, galerias... Será isto o poder dos fantasmas?
Quando inicia a busca, o leitor já está avisado. Neste livro, cruzam-se histórias imaginadas com outras encontradas em livros, quadros, fotografias ou filmes. É uma espécie de inventário dos fantasmas e de lugares onde as criaturas nos podem assombrar. Ou não. Espelhos, sons, sombras, roupas, casas, cartas, nomes, fotografias e cinema. São nove as áreas escolhidas para explorar a vida dos fantasmas. Afinal, não tão diferente da nossa.
Rowland desafia o leitor a atravessar um universo onde se misturam coisas de todos os dias, histórias do imaginário e outras que nos reportam para o mundo dos livros, da fotografia, do cinema, da arte em geral. De forma singular, conduz-nos numa viagem por camadas onde mistério e realidade se fundem numa multiplicidade de caminhos. Será este o poder dos fantasmas?
A propósito dos espelhos, revisitamos Alice. No país das maravilhas e Do outro lado do espelho. Relembramos o conto de João Guimarães Rosa, O espelho e regressamos a Ovídeo e ao seu Narciso. Instalamo-ns confortavelmente porque queremos ver O circo de Charlie Chaplin ou A Dama de Shanghai de Orson Welles. Na senda das misteriosas criaturas, por entre sombras, roupas ou cartas, embrenhamo-nos nas obras de Marcel Proust, Júlio Cortázar, Franz Kafka, Nikolai Gogol, Lao Tsé... Descansamos na poesia de Drummond, revisitamos Oscar Wilde e o seu eterno Fantasma de Canterville, T.S.Eliot e o seu maravilhoso O Livro dos Gatos Práticos do velho Gambá.
Sem nos darmos conta, revisitámos Peter Pan, piscamos o olho a Carlo Collodi e a Pinóquio e relembramos Hans Christian Andersen. As fantasmagóricas criaturas não são indiferentes a Tintim e nós, leitores, recuperamos o fôlego nas linhas de um poema do querido Manuel António Pina. Que poder têm estes fantasmas! Depois de visitar galerias e museus, de seguirmos nas sombras de Lourdes Castro, de tocar a parafernália de fotografias de Vivian Maier, já estamos outra vez colados ao ecrã pela mão dos grandes mestres como Fritz Lang, os Irmãos Lumière, Georges Méliès, Alfred Hitchcock ou Manoel de Oliveira. Com o leitor completamente enfeitiçado, não surpreenderia se Romeu e Julieta lhe abrissem as portas.
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