Boleia | Guilherme Karsten | Fábula
Parece bem longínquo o tempo em que íamos para a praia à boleia. Um tempo onde não parecia haver lugar para medos. Era uma forma de viajar que nos permitia conhecer pessoas e, tantas vezes, fazer bons amigos. Quando apanhámos a boleia de Karsten, o autor brasileiro que agora chega a Portugal, fomos invadidos por um sem-número de memórias e por uma enorme vontade de fazer esta viagem.
Munido da sua prancha, um surfista ruma à praia num feriado. Tudo indicia que será um grande dia e, por isso, arranca animado. Mas, pelo caminho, vai dando boleia às mais diversas personagens e à sua bagagem, criando no leitor uma crescente suspeita de que a chegada ao destino não será tarefa fácil. Entre mergulhadores, heróis, polícias e ladrões, capuchinhos vermelhos, lobos, crocodilos e músicos, o carro vai enchendo na mesma toada que o estado de espírito do surfista vai mudando.
Pouco animado - intrigado - preocupado - chateado - apertado - irritado - desamparado.
Mesmo com uma das personagens a ficar apeada, não tendo sido contemplada com a boleia por razões tão óbvias quanto históricas, esta é uma viagem que não augura nada de bom. E o que estava iminente acaba por acontecer, pois com tanta gente não há pneu que aguente...
Vencedor do Prémio Jabuti, este é um livro bem divertido e genialmente concebido. Texto e ilustrações conjugam-se, sendo ambos atravessados por uma espécie de linha cumulativa. A cada dupla página, podemos ver os passageiros que se vão apertando, os pertences que se vão aglomerando e um delicioso texto rimado que os conduz a todos repetidamente.
Com uma aparente simplicidade e um final inusitado, mesmo para os leitores mais afoitos que tenham tentado adivinhar possíveis finais, a história encanta gente de todas as idades. Mas, o que têm, afinal, estas personagens em comum? E o que fazem aqui o lobo e a capuchinho vermelho? Terminará a história bem para algum deles?
Com o fim-de-semana à porta, não percam tempo. Apanhem boleia para esta magnífica e divertida história que fará rir toda a gente aí por casa. E preparem-se para o clássico "outra vez" dos miúdos!
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