A história é contada pelo neto que transmite ao leitor as histórias de vida que sempre ouviu do avô. Feitas de memórias, de fotografias, de objectos. São elas que preenchem a maior parte dos momentos que dividem, das conversas, dos passeios. A proximidade entre os dois, as cumplicidades, fazem-se dessas vivências partilhadas.
Um dia, o rapaz dá-se conta que a memória do avô lhe começa a pregar algumas partidas. Que, às vezes, o avô esquece coisas. No princípio, coisas simples. O chapéu, a caneta... Depois, o avô começou até a trocar-lhe o nome, a esquecer o caminho de volta para casa. A relutância e dificuldade dos pais em abordar o problema, leva a que seja o pequeno a diagnosticar a doença: o avô tem uma borracha na cabeça.
Apesar de lhe dizerem que a doença não tem cura, o rapaz não se conforma e sonha ser um grande cientista inventor, capaz de remendar as memórias do avô. Assim nasceu a ideia de escrever e desenhar a vida do avô, as histórias que ele lhe tinha contado... Porque se o avô tem uma borracha na cabeça, nós somos um lápis!
É cada vez maior o número de famílias que se confronta com a doença de Alzheimer. É difícil não conhecermos alguém que tem um ente querido ou um amigo próximo que progressivamente se alheia do mundo. Não sendo uma abordagem muito comum na LIJ, surge aqui contada de forma simples e directa pelo pequeno neto, tocando leitores de todas as idades. Zink partiu de uma vivência familiar para criar esta história carregada de sensibilidade e de amor.
O texto de Zink é magistralmente ilustrado por Delecave, que, reunindo um conjunto de elementos, consegue transportar-nos com exímia eficácia para o universo do avô, deixando no leitor uma sensação de grande proximidade. O uso de papel quadriculado, a esbatida paleta de cores, os caracteres meio apagados, o recurso à técnica da colagem, a fotografias antigas, de anónimos e da sua própria família, a desenhos de autoria do pai enquanto criança... desembocam num trabalho apuradamente genuíno e revelador das memórias que as gavetas da vida podem guardar.
Tudo boas razões para assistir à apresentação do livro que os autores farão amanhã, domingo, dia 8, às 14.30H, na Casa dos Hipopómatos. Estão todos convidados!
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