Nas memórias com sabor a infância guardamos as muitas noites de pirilampos vividas num tempo em que fomos meninos. Noites escuras e mágicas já partilhadas com os meninos de hoje. Quando, há uns anos, a Bruaá nos presenteou com o fantástico livro de Bruno Munari, Na noite escura, festejámos lá fora olhando as pequenas multidões de luzinhas que se passeavam no escuro, indiferentes à nossa presença.
Foi o que voltámos a fazer quando nos chegou às mãos O Convidador de Pirilampos, com texto de Ondjaki, ilustrações de António Jorge Gonçalves e editado pela Caminho.
Desta vez, na companhia de um pequeno rapaz e do seu avô, profundos conhecedores da Floresta Grande, onde brilham os pirilampos cintilantes. Antes de se embrenhar nela e de ser tentado a seguir no encalço das luminosas criaturas, o leitor fica logo a saber que nem todos os pirilampos têm brilho. Que existem pirilampos apagados! E que são apagados porque não devem ser encontrados. Conhecidos como pirivelhos, são os mais sábios de todos.
Mas, o leitor necessitará de atravessar a Floresta e toda a história para ficar a saber mais acerca destes pirivelhos e descobrir a razão porque não devem ser encontrados. Para isso, conta com a ajuda do rapaz inventor que carrega na mochila os objectos inventados. Cada um mais louco que o outro.
Um aumentador de caminhos, um unóculo e um convidador de pirilampos são alguns dos objectos utilizados para "cientistar" os seres luminosos. Os resultados, esses, acabam sempre partilhados com um avô paciente e com cheiro a laranja.
Um livro que, aqui e além, nos lembra o universo de Jimmy Liao. Histórias vividas num qualquer lugar do mundo e povoadas de personagens sem nome que poderiam ser qualquer um de nós. Inconfundíveis, as ilustrações de António Jorge Gonçalves, vencedor do prémio Nacional de Ilustração 2013 com o livro da mesma dupla Uma Escuridão Bonita, voltam a um registo de silhuetas, sombras e jogo de luzes, com predominância de uma paleta de cores preta e azul. Ou não fosse esta mais uma história sem luz eléctrica.
Ondjakianos convictos, ficámos fãs deste pequeno inventor que, cientistando com paixão e afinco, acaba descobrindo o código da linguagem dos pirilampos. Um livro onde a poesia se passeia a cada página e onde as histórias são tantas quantos os contadores com que nos conseguirmos cruzar. Edison é, porém, o nosso contador de eleição.
Junho é o mês, por excelência, dos pirilampos. Em férias ou não, agarrem nas lanternas, nos miúdos, nos inventos, se fôr caso disso, e entrem noite dentro. Cientistem, cientistem!
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