quarta-feira, 3 de maio de 2017

A Janela de Kenny. O Sonho pela mão de Sendak


Apanhámos boleia de Maurice Sendak, entrámos no sonho de Kenny e permanecemos à janela. A bater palmas, enquanto Kenny passava montado num cavalo negro e brilhante.  Bater palmas é o que fazemos sempre que a Kalandraka nos enriquece com mais um livro do autor e nos permite ir completando a sua obra em português.


A Janela de Kenny, publicado pela primeira vez em 1956, foi o primeiro livro de Maurice Sendak como ilustrador e autor de texto. Onde Vivem os Monstros surgiu sete anos mais tarde. Pelo meio, ainda houve lugar a outros, como O Recado de Rosie. Feitas as contas, percebemos que a fascinante história de Kenny foi escrita há cerca de sessenta anos, o que diz bem da genialidade deste vulto maior da literatura.


Os livros de Sendak são misteriosos.  Por vezes perturbadores, quase sempre irreverentes e até subversivos, sempre geniais e brilhantes. Neles, a realidade e a imaginação misturam-se, surgem baralhadas como só acontece no mundo das crianças. Alheias a polémicas, estas identificam-se com as personagens e vivenciam experiências, abrindo todas as janelas da imaginação. De A Janela de Kenny diz-se ser o mais filosófico de todos os livros do autor, ou não fosse ele integralmente dedicado ao universo dos sonhos.


Kenny acorda a meio de um sonho e lembra-se de de um jardim onde havia uma árvore coberta de flores brancas. Recorda-se do seu desejo de lá viver. Mas também do encontro com um viajante invulgar, um galo de quatro patas, que lhe entregara um papel com sete perguntas para as quais deveria encontrar resposta.


À medida que as tenta resolver, é visitado por dúvidas, incertezas. Sobre factos, mas acima de tudo, sobre sentimentos.  As sete questões, por um lado, e a janela, por outro, são os pólos  desta narrativa onírica vivida por Kenny e pelos leitores que, nunca saindo fisicamente do quarto do rapaz,  se sentem capazes de com ele percorrer os vales da Suíça. 


Uma aprendizagem sobre temas como o amor, a solidão e até mesmo a incompreensão. Uma busca de si próprio. Temas que, afinal, viriam a  percorrer toda a obra sendakiana, de que  temos falado aqui várias vezes.



Delicadas e reveladoras de uma extrema sensibilidade, as ilustrações são um grandioso contributo para fazer de A Janela de Kenny  um livro inesgotável, onde queremos voltar sempre. A  janela, chave para a descoberta do mundo, está aberta. Deixem os miúdos espreitar! E sonhar, à boleia de Sendak.

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