Apanhámos boleia de Maurice Sendak, entrámos no sonho de Kenny e permanecemos à janela. A bater palmas, enquanto Kenny passava montado num cavalo negro e brilhante. Bater palmas é o que fazemos sempre que a Kalandraka nos enriquece com mais um livro do autor e nos permite ir completando a sua obra em português.
A Janela de Kenny, publicado pela primeira vez em 1956, foi o primeiro livro de Maurice Sendak como ilustrador e autor de texto. Onde Vivem os Monstros surgiu sete anos mais tarde. Pelo meio, ainda houve lugar a outros, como O Recado de Rosie. Feitas as contas, percebemos que a fascinante história de Kenny foi escrita há cerca de sessenta anos, o que diz bem da genialidade deste vulto maior da literatura.
Os livros de Sendak são misteriosos. Por vezes perturbadores, quase sempre irreverentes e até subversivos, sempre geniais e brilhantes. Neles, a realidade e a imaginação misturam-se, surgem baralhadas como só acontece no mundo das crianças. Alheias a polémicas, estas identificam-se com as personagens e vivenciam experiências, abrindo todas as janelas da imaginação. De A Janela de Kenny diz-se ser o mais filosófico de todos os livros do autor, ou não fosse ele integralmente dedicado ao universo dos sonhos.
À medida que as tenta resolver, é visitado por dúvidas, incertezas. Sobre factos, mas acima de tudo, sobre sentimentos. As sete questões, por um lado, e a janela, por outro, são os pólos desta narrativa onírica vivida por Kenny e pelos leitores que, nunca saindo fisicamente do quarto do rapaz, se sentem capazes de com ele percorrer os vales da Suíça.
Uma aprendizagem sobre temas como o amor, a
solidão e até mesmo a incompreensão. Uma busca de si próprio. Temas que, afinal, viriam a percorrer toda a obra sendakiana, de que temos falado aqui várias vezes.
Delicadas e reveladoras de uma extrema sensibilidade, as ilustrações são um grandioso contributo para fazer de A Janela de Kenny um livro inesgotável, onde
queremos voltar sempre. A janela, chave para a descoberta do mundo, está
aberta. Deixem os miúdos espreitar! E sonhar, à boleia de Sendak.
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